Social-democrata é uma expressão formada pela justaposição das palavras social e democrata, ligadas por hífen, sendo um adjetivo composto, quando designa o que é relativo à social-democracia, ou um nome, quando identifica os seguidores da social-democracia ou os membros ou simpatizantes de um partido que perfilha essa ideologia. Perfilhando o Partido Social-Democrata (PSD) a social-democracia ou a ideologia social-democrata, e sendo os seus membros sociais-democratas, o partido que os representa terá de necessariamente designar-se Partido Social-Democrata, com hífen. Se um indivíduo é um social-democrata, a entidade coletiva que o representa, o partido, também tem de ser Social-Democrata.
As palavras social e democracia ou democrata vivem por si, mas para significar a «social-democracia» ou os seus partidários têm necessariamente de se ligar através de hífen. Só juntas representam a qualidade dos que a defendem, sejam indivíduos, os sociais-democratas, sejam estruturas coletivas, o Partido Social-Democrata, a Juventude Social-Democrata, os Trabalhadores Social-Democratas, os Autarcas Social-Democratas, as Mulheres Social-Democratas. É o que seria expectável que acontecesse em Portugal com o PSD e estruturas afiliadas, é o que parece que acontece quando se designam outros partidos que contêm Social-Democrata na sua designação, como o bem conhecido SPD Alemão (Partido Social-Democrata da Alemanha), e outros que, por exemplo, a Wikipédia referencia, ainda que nesta entrada também se notem algumas oscilações de grafia.
As duas palavras, social e democrata, constituem, pois, uma unidade semântica, sendo, por isso, indissociáveis. Isso mesmo refere o número 1 da Base XV do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, relativa ao uso do hífen em compostos, locuções e encadeamentos vocabulares, e que refere taxativamente:
«Emprega-se o hífen nas palavras compostas por justaposição que não contêm formas de ligação e cujos elementos, de natureza nominal, adjetival, numeral ou verbal, constituem uma unidade sintagmática e semântica e mantêm acento próprio […]».
Este é, por assim dizer, o enquadramento ortográfico-gramatical, mas depois há a língua em ato. Fomos àquela que deveria ser, porventura, a melhor fonte para esclarecer esta questão, o site do Partido Social-Democrata. E logo aí constatam-se flutuações e oscilações de grafia, ilustradas no quadro infra, e que podemos sintetizar assim: sempre que se trata de coletivos, de estruturas – o Partido Social-Democrata, a Juventude Social-Democrata, os Trabalhadores Social-Democratas, os Autarcas Social-Democratas ou as Mulheres Social-Democratas – a formulação dominante é sem hífen. Sempre que se trata de indivíduos, de pessoas, da ideologia (nome), ou da qualidade (adjetivo) – social-democrata, sociais-democratas, social-democracia – a formulação amplamente maioritária é com hífen.
Os logótipos quer do partido quer das estruturas afiliadas são também um espelho desta tendência, pois excetuando um caso, o das Mulheres Social-Democratas, quando se trata de coletivos, de organizações, a designação surge sempre sem hífen.
Há até dois casos curiosos, e mistos, bem ilustrativos das oscilações de grafia, o da página dos TSD no Facebook, em que no logótipo a designação do movimento aparece sem hífen e no título da página com hífen.
E o do 3.º Encontro de Autarcas Social-Democratas (ASD) em que, na promoção do evento, a designação aparece com hífen, mas no logótipo dos ASD já surge sem hífen:
Analisando retrospetivamente os logótipos do partido, desde o primeiro com a designação Social-Democrata à atualidade, constata-se que a formulação do nome surge sempre sem hífen.
Logo no primeiro, datado de 1976, quando o partido muda de designação, de «Partido Popular Democrático» (PPD) para «Partido Social-Democrata» (PPD/PSD), a grafia surge sem hífen. Exemplificativo da diferença de critérios é exatamente a menção a essa mudança, na cronologia do partido, disponível no site do PSD, em que, na data de 3 de outubro de 1976, a grafia usada no texto é Partido Social-Democrata e na imagem, ou seja, no logótipo, é "Partido Social Democrata".
Além do site do PSD, consultámos o corpus CETEMPúblico e também aí são patentes as oscilações de grafia: «Partido Social-Democrata» regista 710 ocorrências e «Partido Social Democrata» 613. De onde se conclui que a forma hifenizada do nome do partido é, apesar de tudo, prevalente fora dele e muito minoritária no seu seio, o que pode significar, por parte dos escreventes, uma maior adesão à norma, e não à tradição. Já em relação às expressões social-democrata ou sociais-democratas, como adjetivos ou como nomes, os valores são de 13880 ocorrências e de 12875 ocorrências, respetivamente. Ao passo que as expressões «social democrata» e «sociais democratas» ambas ficam-se pelas 466 ocorrências. O predomínio das formas hifenizadas é aqui avassalador, em linha também com o que acontece no site do PSD, em que social-democrata apresenta 161 páginas com ocorrências e sociais-democratas 29, ao passo que «social democrata» apresenta 68 e «sociais democratas» apenas uma.
Uma nota para referir – algo estranhamente, mas afinal de contas refletindo o uso – que, mesmo nos dicionários, de que talvez se esperasse maior normatividade, a grafia também oscila. Em dois dos mais conhecidos dicionários existentes online, o Priberam e o Porto Editora, apresenta-se, na entrada social-democrata, a forma hifenizada para o adjetivo e a forma não hifenizada para o nome, quando este designa o partido.
Já O Dicionário dito da Academia refere o nome do partido de forma hifenizada. Outro tanto acontece com o Dicionário Houaiss, não em relação ao PSD português, mas sim ao seu homónimo alemão.
Admitimos que as oscilações no que se refere ao nome do partido e das outras estruturas sociais-democratas se possam também ficar a dever ao facto de a onomástica, por ser muito identitária, constituir um domínio cuja regulação é mais difícil – vejamos, por exemplo, o que se passa genericamente com as prescrições do Acordo Ortográfico de 1990 no que se refere aos nomes – e cuja permissividade relativamente à norma é mais tolerada.
Conclui-se assim que:
1.º Existem oscilações de grafia entre as formas hifenizada e não hifenizada do nome do partido.
2.º O PSD adota esmagadoramente a forma não hifenizada para a sua designação.
3.º A sociedade parece adotar de forma prevalente a forma hifenizada para designar o PSD.
4.º Sempre que se trata de indivíduos, de pessoas ou da ideologia – social-democrata, sociais-democratas, social-democracia – a formulação amplamente dominante no PSD e na sociedade é com hífen.
Não há dúvida de que do ponto de vista estritamente formal a formulação correta deveria ser Partido Social-Democrata mas a língua é uma forma de interação humana e social e o PSD, não detendo o exclusivo do uso do nome Social-Democrata, acaba por condicioná-lo fortemente, ao adotar de forma esmagadora a forma sem hífen. O que é incompreensível e basto incoerente é adotar a forma "Social Democrata" para se autodesignar mas não adotar igual formulação para designar os seus membros, os seus simpatizantes e a ideologia que defende, ou seja, social-democrata, social-democratas e sociais-democratas, e social-democracia.