DÚVIDAS

O futuro do subjuntivo referido a situações improváveis

Estou a tentar encontrar uma explicação para a utilização do futuro subjuntivo em situações em que o evento não é provável.

Da minha pesquisa, a maioria dos locais que procurei têm uma definição semelhante a esta: «O futuro subjuntivo é utilizado para casos: acções que são prováveis, mas que ainda não ocorreram.»

Mas depois é aceitável numa frase como: «Se eu ganhar uma lotaria, vou construir uma mansão.»

Ganhar a lotaria não é uma possibilidade provável mas ainda assim o futuro subjuntivo é aceitável aqui. Não será esta uma situação em que, gramaticalmente, só deveríamos ser autorizados a utilizar o "pretérito imperfeito do subjuntivo"? Então eu queria saber até que ponto o futuro subjuntivo está ligado a acontecimentos prováveis?

Muito obrigado pela sua ajuda.

Resposta

Os valores modais de possibilidade ou de probabilidade não são construídos pelo verbo isoladamente, mas por vários elementos da frase que entram em interação.

Assim, o futuro do conjuntivo (subjuntivo), quando usado em orações subordinadas, marca geralmente um intervalo de tempo futuro relativamente ao momento de enunciação.

No caso apresentado, o futuro do conjuntivo é usado numa oração subordinada adverbial condicional. Ora, este tipo de orações pode ser associado a três tipos de interpretação: factual, hipotética ou contrafactual (a este propósito, veja-se esta resposta).

O caso apresentado pelo consulente é uma frase com leitura hipotética, que, no caso das orações condicionais, se constrói com imperfeito ou futuro do conjuntivo na subordinada:

(1) «Se conseguisse terminar o trabalho hoje, seria ótimo.»

(2) «Se conseguires terminar o trabalho hoje, será ótimo.»

Este valor de hipótese significa que a situação descrita poderá ou não vir a ocorrer. É o que ocorre na frase apresentada pelo consulente, aqui transcrita em (3):

(3) «Se eu ganhar uma/a lotaria, vou construir uma mansão.»

A frase condicional tem uma leitura hipotética, a que se acrescenta a conjugação dos verbos da subordinada e da subordinante de onde resulta a expressão de uma modalidade com valor de probabilidade.

Acrescente-se que, em língua, a expressão de uma probabilidade não implica a concretização da situação descrita na frase, até porque a probabilidade pode tender para zero, como será, infelizmente, o caso de ganhar a lotaria.

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