Nem sempre é fácil delimitar, ou identificar, o adjetivo relacional, até porque o mesmo adjetivo poderá ser, num dado contexto, relacional e, noutro, qualificativo. Na definição de adjetivo da Infopédia (consult. em 25-10-2012) pode ler-se:
«Os valores relacional ou qualificativo que os adjetivos apresentam pode variar de acordo com o contexto: dantesco é um adjetivo relacional [= de Dante] mas pode ser usado qualificativamente, numa construção predicativa ou atributiva graduável [ex: "história (mais) dantesca (do que)"; "este assunto é dantesco*"].»
No mesmo artigo pode ler-se ainda que os adjetivos relacionais (o negrito é nosso):
«Podem ser traduzidos por uma paráfrase construída com um genitivo do nome de onde provêm (ex.: paterno = do pai; americano = da América);
Podem estabelecer relações de:
a) origem ou procedência (ex.: vinho alentejano, presidente americano, casa paterna)
b) propriedade (ex.: plataforma petrolífera)
c) finalidade (ex.: palácio presidencial, reforma estudantil) etc.»
Se tivermos em conta os exemplos das alíneas b) e c) acima, facilmente verificamos que nem sempre os adjetivos que identificamos como relacionais graças a umas características encaixam bem noutras. Por exemplo, creio que nem todos os falantes aceitariam que «plataforma petrolífera» pudesse ser parafraseada por «plataforma do petróleo» E, todavia, petrolífera, adjetivo provindo de um nome por derivação sufixal, é considerado relacional…
Assim, os adjetivos relacionais:
I – Do ponto de vista da morfologia, poderemos dizer que:
a) São derivados de um nome, através de um sufixo;
b) Não têm flexão em grau;
Nota: Alguns permitem a introdução de prefixos como uni- (unicelular), pré- (pré-eleitoral), mono (monocromático)…
II – Se tivermos em conta a sintaxe:
a) Estruturalmente, são, na generalidade, equivalentes a um grupo preposicional introduzido pela preposição de. Já vimos acima que nem sempre assim é…
b) Não ocorrem antes do nome a que se associam: «doce conventual» e nunca «*conventual doce»;
c) Raramente ocorrem em posição predicativa. Todavia, se denotarem nacionalidade ou região de origem, podem ocorrer como predicativos, como a consulente refere.
Nota: além dos adjetivos relacionais que denotam nacionalidade ou região de origem, outros há que admitem igualmente função predicativa: «A revista é mensal.»
III – Do ponto de vista léxico-semântico, os adjetivos relacionais não têm antónimos e estabelecem relações que veiculam valores de :
a) Origem – «bandeira americana»; «doce conventual»;
b) Autoria (agente) – «discurso presidencial» («O presidente discursou…»);
c) Posse – «A casa do Francisco»;
d) Paciente, ou tema – «A construção naval» («constroem-se navios…»);
Nem sempre cada um dos adjetivos relacionais tem todas as características. Creio que as mais frequentes, para não dizer globais, são as de cariz morfológico, ou seja, o facto de derivarem de um nome por via sufixal e de não admitirem flexão em grau.
Em relação à possibilidade de ocorrer, ou não, com função predicativa, Justo Fernández López, num artigo intitulado ¿Cuál es el superlativo de "potencial", o acaso es "más potencial" o esto sería un pleonasm0? (acesso em 31-10-2012), refere que os adjetivos relacionais podem ser divididos em dois grandes grupos: classificativos e argumentais. Os classificativos admitem função predicativa («A revista é mensal») enquanto os argumentais se associam a nomes deverbais e desempenham junto do nome um papel temático semelhante ao que é desempenhado pelo nome de que derivam numa frase cujo verbo seja o que deu origem ao nome a que o adjetivo relacional se associa: «em construção naval» («construção do navio»), o adjetivo naval tem o papel temático de tema (corresponde, neste caso, à função de CD que o nome navio desempenha numa frase do tipo «Constroem-se navios») face ao nome construção.
Eu acrescentaria que apenas os adjetivos relacionais argumentais desempenham a função de complementos do nome, característica que, por vezes, é atribuída de forma generalizada aos adjetivos relacionais. Note-se, porém, que o mesmo adjetivo relacional pode surgir como classificativo em determinados contextos e como argumental noutros contextos. Por exemplo, o adjetivo americano é argumental em «invasão americana» («A América invadiu…»), desempenhando a função de complemento do nome invasão; mas é classificativo em «bandeira americana» com a função de modificador restritivo do nome bandeira.
O exposto acima ilustra, creio, que nem sempre é fácil delimitar as características dos adjetivos relacionais. Até porque a literatura nem sempre é exaustiva nem mesmo consensual. Por isso, em relação à questão pedagógica, muito concreta e muito pertinente, que apresenta a consulente, eu centrar-me-ia nas características mais evidentes e mais consensuais:
a) Derivam de nomes;
b) Não admitem flexão em grau;
c) Ocorrem em posição pós-nominal…
Como os alunos do ensino básico não têm de identificar explicitamente o complemento do nome, seja ele grupo adjetival ou grupo preposicional, não há necessidade de entrar em características menos gerais e nem sempre consensuais.
* Ficaria mais claro com frases como «O espetáculo era dantesco».