1) É possível que, no verso em apreço, a sequência «alma minha» já fosse sentida como aquilo a que se chama cacófato, isto é, como encontro de sílabas de palavras diferentes que pode ser reinterpretado como palavra risível ou obscena. Com efeito, atesta-se o uso da palavra mama, «seio», pelo menos, desde o século XIV; além disso, sabe-se que o sufixo -inho é produtivo desde o século XIII1. Sendo assim, é bem provável que no século XVI a dita sequência estivesse sujeita a ser confundida com maminha, o diminutivo de mama. Já o uso desta forma como denominação de uma peça de carne parece ter emprego mais tardio2.
2) Mama, o mesmo que seio, é palavra frequentemente substituída por maminha sobretudo no discurso infantil ou infantilizante. Contudo, em Portugal, nas décadas mais recentes, pela intensificação do contacto com o Brasil e da presença de brasileiros, também se conhece e usa maminha como termo que designa uma peça ou corte de carne (ler aqui).
1 Cf. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, s. v. mama e Rosa Virgínia Mattos e Silva, O Português Arcaico.Vol. I. Léxico e Morfologia (Imprensa Nacional-Casa da Moeda, p.324 e ss.).
2 Trata-se de uma extensão semântica de maminha, para denotar «a carne bovina que corresponde à parte mais tenra da alcatra», conforme a definição do Dicionário Houaiss, s.v. maminha. Esta fonte não dá indicação precisa de quando se dicionarizou a palavra com o referido significado.