A frase apresentada foi transcrita de um texto de autoria de Maria Teresa Horta para o manual escolar Mensagens 11 (Texto Editores, p. 30), que aqui transcrevemos na íntegra:
«Com Maria apareceu também a luz que, num súbito relâmpago, inundou todo o texto de Garrett deixando a descoberto os secretos recantos de sombridade, premonições e fatalidades, que apesar de ainda me escaparem enquanto metáforas belíssimas, encobrimentos e contradições do ser humano, já me pareciam evidentes na qualidade de antevisões de perdas e tragédias.»
Na frase em questão, a expressão «do ser humano» relaciona-se com o nome contradições, desempenhando a função sintática de complemento do nome. Considerando que o nome contradição é deverbal, tendo-se formado a partir de contradizer1, vemos que é possível estabelecer a equivalência de «contradições do ser humano» com a frase apresentada em (1):
(1) «O ser humano contradiz-se.»
Ora, os nomes derivados de verbos recuperam os argumentos do verbo como seu complemento, como acontece na expressão em análise. Estes argumentos, no interior do sintagma nominal, passam a desempenhar a função de complemento do nome.
Disponha sempre!
1. Neste caso, a base de derivação é "contradiç-", variante formal do radical de "contradiz-", do verbo contradizer. Trata-se de uma variante relacionada com um fenómeno ocorrido no latim: verbo contrādīc(ō) + sufixo -tiō.