Os advérbios de quantidade e grau, como acontece com muito e pouco, podem ocorrer como modificadores de grupos adjetivais, reforçando o sentido da palavra que antecedem. No exemplo apresentado, estamos perante um adjetivo, perfecionista1, antecedido de um advérbio que intensifica/reforça o significado do mesmo. Assim, afirmar que «o João é muito/pouco perfecionista» está perfeitamente correto. A dúvida, aqui, talvez se prenda com o facto de o adjetivo conter a ideia de perfeição e, por norma, o que é perfeito não é muito nem pouco. No entanto, o que está em causa é aferir quem deseja a perfeição – perfecionista será equivalente a «desejoso de perfeição» – e, por isso, não há redundância nem contradição ao afirmar-se «muito/pouco perfecionista».
1 Depois da entrada do Acordo Ortográfico de 1990, em Portugal perfecionista passou a grafar-se também somente com um c, a par de perfeccionista, enquanto no Brasil a grafia com os cc é a única que se regista – perfeccionista.
N. E. (19/02/2019) – Na nota 1, foi corrigida toda a sequência em que se lia o seguinte: «[...] em Portugal perfecionista passou a grafar-se somente com um c, enquanto no Brasil mantiveram-se os cc – perfeccionista». Na verdade, numa situação de dupla grafia, o Vocabulário Ortográfico do Português apresenta as formas perfeccionista e perfecionista – bem como perfeccionismo e perfecionismo –, embora às grafias com um só c se junte a indicação de que são características de Portugal. Do mesmo modo, o Vocabulário Ortográfico Comum inclui a dupla grafia perfeccionista/perfecionista, embora o vocabulário nacional correspondente ao Brasil apenas apresente perfeccionista, reproduzindo, assim, o que foi fixado pelo Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras, que só regista perfeccionista e perfeccionismo, sempre com duplo c.