Tem toda a razão. Cada vez pior é a única forma correcta. É claro que há situações em que podemos, e devemos, dizer mais mal ou mais bem. Isso acontece quando o advérbio de modo bem ou mal está a modificar um adjectivo verbal, ou particípio passado, desde que surja antes desse adjectivo ou particípio. São de Celso Cunha e Lindley Cintra, na Nova Gramática do Português Contemporâneo, os exemplos que cito:
«As paredes da sala estão mais bem pintadas do que as dos quartos.» (p. 546)
Mas:
«As paredes da sala estão pintadas melhor do que as dos quartos.» (ibidem)
Note-se que mesmo quando o advérbio mais modifica o adjectivo bom, ou mau, há situações em que a norma permite o uso de mais bom ou mais mau, se o adjectivo estiver integrado numa enumeração de qualidades atribuídas a um mesmo substantivo. Cito mais um exemplo dos mesmos autores e da mesma obra:
«Ele é bom e inteligente; mais bom do que inteligente.» (p. 262)
Voltando ao exemplo que a consulente cita, poderemos, talvez, tentar compreender a razão que está subjacente à sua construção. A meu ver, o uso de mais mal, nesse exemplo concreto, prende-se com uma certa fixidez que se associa à expressão gradativa cada vez mais ou cada vez menos sempre que ela tem continuidade de sentido à sua direita. Se se dissesse “Este país está cada vez melhor”, duvido que alguém escrevesse mais bem, em vez de melhor.
Gostaria apenas de referir mais um aspecto relacionado com o uso de mais bem ou mais mal quando modifica um adjectivo verbal. Nessa situação a norma aconselha o uso de mais bem. No entanto, as pessoas começam a sentir esta forma como inadequada e reagem corrigindo, erradamente se se tratar de um texto formal, para melhor ou pior, consoante o caso.
P.S. – A consulente diz: «... eu usaria o adjectivo pior...». Acontece que, nesta situação, pior é um advérbio. Seria adjectivo, por exemplo, nesta frase: «O restaurante X agora tem comida pior».
[N. E. (20/03/2019) – As expressões «fazer bem (a alguém/alguma coisa)», no sentido de «beneficiar», e «fazer mal (a alguém/alguém/alguma coisa)», na aceção de «prejudicar», não têm análise gramatical indiscutível e parecem sujeitas a oscilações na sua transposição para construções comparativas (ver «Fazer mais mal a alguém» vs. «Fazer pior a alguém») . Com efeito, no registo de «fazer bem/mal (a alguém/alguma coisa)», tanto o Dicionário Gramatical de Verbos Portugueses (Texto Editora, 2007), coordenado por Malaca Casteleiro, como o Dicionário Sintáctico de Verbos Portugueses (Almedina, 1994), coordenado por Winfried Busse, atribuem às palavras bem e mal a função de complemento direto – classificando-as, portanto, como nomes, e não como advérbios – e, ao sintagma preposicional introduzido por a (como «faz mal à saúde), associam a função de complemento indireto. Nesta perspetiva, não se poderá considerar que estejam incorretas construções comparativas como «o trabalho faz mais bem à saúde do que mal» ou «o trabalho faz mais mal mal à saúde do que bem», dado que «mais bem» e «mais mal» são expressões nominais quantificadas cujo núcleo são os nomes bem e mal. No entanto, o uso oral e escrito evidencia que, em tais construções, se favorece frequentemente a ocorrência dos comparativos melhor e pior, donde se infere os falantes processam bem e mal como advérbios, a ponto de rejeitarem «mais bem» e «mais mal». Trata-se de um caso de variação que parece ainda aguardar a atenção da linguistas e autores prescritivistas.]