«Fazem-se ótimos pastéis em Coimbra.»
«Ótimos pastéis se fazem em Coimbra.»
Estas frases, com a grafia do PB ( Português do Brasil), perfeitamente substituíveis por São feitos óptimos pastéis em Coimbra e Óptimos pastéis são feitos em Coimbra, ilustram um tipo de construção passiva disponível em Português – a passiva de se – e partilham a propriedade que é considerada definitória da passiva: a suspensão da atribuição da função semântica de agente à posição de sujeito. No caso da passiva de se, esta propriedade decorre da presença do clítico e não de um processo morfológico derivacional. Exemplos dessas construções na Gramática da Língua Portuguesa de Maria Helena Mira Mateus et aliae:
Compraram-se alguns livros ontem.
Os livros compraram-se ontem.
Citando Fausto Caels & Tiago Freitas (2000):
«Nestas frases, que têm uma interpretação preferencialmente idêntica, o clítico assume um valor impessoal, fazendo parte de um sintagma nominal cujo referente é o argumento externo do verbo, um constituinte da categoria pro [categoria vazia na posição de sujeito]. Ao contrário daquilo que sucede com outros constituintes pro do mesmo tipo, não pode ser facilmente substituído por um pronome expletivo.»
«Faz-se deliciosos docinhos em Mangualde.»
«Deliciosos docinhos se faz em Mangualde.» (ordem indireta (gf. PB), menos utilizada na nossa língua).
Nestas frases, o sujeito é indeterminado e por isso o verbo está na 3.ª pessoa do singular. Quando o verbo não se refere a uma pessoa determinada, ou por se desconhecer quem executa a acção, ou por não haver interesse no seu conhecimento, diz-se que o sujeito é indeterminado. Se a indeterminação do sujeito for indicada pelo pronome "se", o verbo fica na 3.ª pessoa do singular.
Exemplos de frases com o sujeito indeterminado pelo pronome "se” apresentados na Nova Gramática do Português Contemporâneo de Celso Cunha e Lindley Cintra:
«Ainda se vivia num mundo de certezas.» (A. Bessa Luís, OM, 296)
«Comia-se com a boca, com os olhos, com o nariz.» (Machado de Assis, OC, I, 520 P.)
«Veio a hora do chá. Depois cantou-se e tocou-se ainda.» (Machado de Assis, OC, II, 106)
Na opinião de Fausto Caels & Tiago Freitas (2000): «Nestas frases, o clítico pode ter um valor impessoal ou anticausativo – Híbrido – dependendo a sua interpretação do contexto discursivo. Se assumir um valor impessoal, estando co-indexado com o argumento externo do verbo, as frases serão respectivamente parafraseadas como:
«As pessoas fazem deliciosos bolinhos em Mangualde»
Se o clítico apresentar um valor anticausativo, consistindo numa marca nominal, as frases serão respectivamente parafraseadas como:
«Os bolinhos deliciosos são feitos em Mangualde»
Todas estas frases são exemplos de sujeito indeterminado disponível nas Línguas de sujeito nulo, como é o caso do Português.