Em princípio, a frase «A expectativa é de que ocorram pelo menos três casos» não é aceitável. Como já se disse no Ciberdúvidas (ver mais abaixo resposta relacionada), em relação a frases copulativas1 que incluam uma expressão nominal seguida do verbo ser e de uma outra expressão que é equivalente a um complemento seleccionado por um substantivo (verdade, interpretação, opinião, etc.) que é núcleo da primeira expressão nominal, são aceites as seguintes estruturas (ver João A. Peres e Telmo Móia, Áreas Críticas da Língua Portuguesa, Lisboa: Editorial Caminho, págs. 124/125):
(i) «A expectativa é que ocorram pelo menos três casos.»
(ii) «A expectativa é ocorrerem pelo menos três casos.»
(iii) «A expectativa é a de que ocorram pelo menos três casos.»
(iv) «A expectativa é a de ocorrerem pelo menos três casos.»
É de notar que, na sequência do verbo ser em cada frase-exemplo, as orações «que ocorram...» e «ocorrerem...», em (i) e (ii), e as expressões (que incluem orações completivas de nome) «a de que ocorram...» e «a de ocorrerem...», em (iii) e (iv), podem ser postas em correspondência com uma oração subordinada que complete o substantivo expectativa: «A expectativa de que ocorram pelo menos três casos.»
Apesar do exposto, há quem considere que é aceitável produzir uma frase como «A expectativa é de que ocorram pelo menos três casos», argumentando do seguinte modo: se, relativamente à expressão «relógio de ouro», podemos perguntar «o relógio é de quê?» e responder «é de ouro», do mesmo modo se pergunta «a expectativa é de quê?», obtendo a resposta «é de que ocorram pelo menos três casos». Este raciocínio permitiria aceitar a frase com «de que» sem o demonstrativo (isto é, «a expectiva é de que...»).
Contudo, os que defendam a proposta de Peres e Móia dirão ainda assim que «é a de que ocorram pelo menos três casos» corresponde à resposta correcta, porque a troca de posição dos constituintes na frase revela que é melhor o constituinte oracional sem a preposição de:2
(v) «Que ocorram pelo menos três casos é a expectiva.»
(vi) ?«De que ocorram pelo menos três casos é a expectiva.»
Esta objecção poderia pôr em causa a própria aceitabilidade de (iii), na seguinte versão:
(vii) *«A de que ocorram pelo menos três casos é a expectativa.»
Tal objecção não colhe, porque a agramaticalidade de (vii) se deve ao facto de ao valor anafórico do demonstrativo a faltar a condição de existir um termo antecedente. Será por isso, ou seja, porque a preposição de pressupõe a construção anafórica, que (vi) é uma sequência problemática? Mas então porque é que a intuição aceita a frase supostamente "dequeísta"?
Em suma, sugiro que a frase apresentada na pergunta está na fronteira entre gramaticalidade/agramaticalidade, sendo, portanto, duvidoso falar em "dequeísmo" a seu respeito.
Deste modo, a descrição de Peres e Móia acaba aparentemente por radicar numa opção normativa mais de ordem estilística (as estruturas aceites são mais claras) do que estrutural.
1 «Frases copulativas ou predicativas são frases em que o verbo pertence à classe dos verbos copulativos [...].» Mateus, M. H. M. et alii, Gramática da Língua Portuguesa, Lisboa: Editorial Caminho, pág. 538.
2 As orações não finitas levantam problemas semelhantes, se não mesmo mais acentuados:
OK «Ocorrerem pelo menos três casos é a expectativa»;
*«De ocorrerem pelo menos três casos é a expectiva».