O pretérito perfeito do indicativo localiza uma situação num intervalo de tempo anterior ao momento de fala, descrevendo situações concluídas. Por essa razão, a frase apresentada em (1) descreve uma situação até ao seu ponto terminal (momento em que se deixou de ler):
(1) «Li durante duas horas.»
A combinação do verbo principal com o auxiliar aspetual «estar a» permite perspetivar a situação como durativa e, se o auxiliar for apresentado no pretérito perfeito, a situação é descrita como estando concluída:
(2) «Estive a ler durante duas horas.»
Ao contrário do pretérito perfeito, o imperfeito do indicativo não é adequado para descrever situações anteriores ao momento da enunciação. Este tempo pode, antes, ser usado para descrever a situação no seu decurso, perspetivando-a do seu interior, sem assinalar o seu início ou o seu fim. Por essa razão, frases simples como (3) ou (4) não são aceitáveis, porque nelas se combina o imperfeito com a sinalização do términus da situação.:
(3) «*Lia durante duas horas.»
(4) «*Estava a ler durante duas horas.»
No entanto, frases como (5) ou (6) já seriam aceitáveis porque a oração subordinada temporal «Sempre que ele lançava um livro» funciona como ponto de referência e o imperfeito passa a descrever situações que se repetem regularmente no passado:
(5) «Sempre que ele lançava um livro, eu lia durante duas horas.»
(6) «Sempre que ele lançava um livro, eu estava a ler durante duas horas.»
O imperfeito tem também a capacidade de atribuir duração a uma situação, como na frase (7), na qual este tempo verbal estabelece com a oração temporal uma relação de inclusão, ou seja, a oração «quando a Maria chegou» é incluída no interior da situação durativa «lia»:
(7) «Lia quando a Maria chegou.»
Este mesmo valor aspetual pode ser conseguido por meio da combinação do verbo principal com o verbo aspetual «estar a», que permite descrever a situação no seu decurso:
(8) «Estava a ler quando a Maria chegou.»
A frase (9) assinala a organização das situações num eixo temporal passado (1. «a Maria chegou»; 2. «li»):
(9) «Li quando a Maria chegou.»
O mesmo acontece em (10), que estabelece diferença com a frase (9) no facto de apresentar a situação descrita como ler como durativa (mas já concluída):
(10) «Estive a ler quando a Maria chegou.»1
Disponha sempre!
*assinala a inaceitabilidade da frase.
1. Para mais informações sobre os valores dos tempos verbais, cf. Fátima Oliveira in Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 517-524.