De um ponto de vista normativo, não está descrito o uso de vírgulas com orações disjuntivas para distinguir inequivocamente os seus valores.
De uma forma geral, a coordenação disjuntiva pode ter um valor inclusivo, o qual permite que apenas um dos termos se verifique. Em (1), o Pedro pode estar apenas zangado, apenas cansado ou ambos:
(1) «O Pedro está zangado ou cansado.»
A coordenação disjuntiva também pode ter um valor exclusivo, em que apenas um dos termos se verifica. Em (2), não será possível que a pessoa em causa calce, em simultâneo, chinelos e sapatilhas, pelo que apenas um dos termos se verificará:
(2) «Levo chinelos ou sapatilhas.»
Se quisermos reforçar a leitura inclusiva, poderemos usar uma expressão como ambos, que surgirá entre vírgulas:
(1a) «O Pedro está zangando ou cansado, ou ambas as coisas.»
Se pretendermos reforçar a leitura exclusiva, poderemos recorrer a expressões como «mas não ambos»:
(2a) «Levo chinelos ou sapatilhas, mas não ambas as coisas.»
Note-se que estas interpretações estão dependentes de fatores contextuais e do conhecimento do mundo1.
No caso da estrutura em análise, a leitura, por defeito, parece ser a inclusiva, ou seja, o que é dito aplica-se a escolas privadas, a escolas cooperativas ou a ambas. Não obstante, poderá existir conhecimento contextual que favoreça ou a leitura exclusiva, que aponta para o facto de a situação só se aplicar a escolas privadas ou, por outro lado, se aplicar a apenas a escolas cooperativas. Caso se tivesse em vista uma leitura exclusiva, poderia existir uma pausa antes da oração coordenada (acompanhada de uma ligeira inflexão da voz), marcada por vírgula2, como se verifica na frase em (3):
(3) «O projeto envolve escolas privadas, ou envolve escolas cooperativas.»
Ainda assim, em (3) não é inequívoca a leitura exclusiva, pelo que se a pretendermos forçar, será preferível fazer uso de uma expressão parentética, tal como se simula em (4):
(4) «O projeto envolve escolas privadas ou cooperativas, mas não ambas (em simultâneo).»
Disponha sempre!
1. Para mais informações, cf. Matos e Raposo in Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 1796-1799.
2. Sobre este assunto, veja-se também esta resposta.