De uma forma geral, todas as frases apresentadas têm uma referência indefinida, pelo que, em muitas situações, são usadas pelos falantes de forma algo arbitrária, sem que haja uma especialização dos diferentes usos.
Não obstante, é possível, em determinados contextos, assinalar sentidos distintos que se constroem pela ação do contexto e até pela entoação.
Uma forma de identificar algumas diferenças de sentido assenta no contraste de frases. Assim, em alguns contextos, entre (1) e (2), pode existir uma diferença entre um sentido genérico (conseguido pela ausência de determinação do nome e pelo uso do plural), em (1), e um sentido que coloca a tónica na indefinição, em (2)1:
(1) «Comprei livros.»
(2) «Comprei uns livros.»
Por outro lado, a diferença entre uns e alguns pode não ter expressividade, uma vez que, ao incidirem sobre o nome, ambos contribuem para um valor indefinido e não específico, que indica que não se refere nenhum livro em particular e o interlocutor também não tem conhecimentos para o identificar.
Não obstante, em alguns contextos, pode existir uma distinção entre os usos de uns e alguns, como se observa em (3) e (4):
(3) «Comprei uns livros, os últimos de Eça de Queirós.»
(4) «?Comprei alguns livros, os últimos de Eça de Queirós.»
A aceitabilidade da frase (3) e a estranheza da frase (4) estão relacionadas com o facto de uns poder contribuir para um valor específico, que se determina pela possibilidade de introdução de um modificador apositivo na frase, ao contrário de alguns, que parece estar resumido à expressão de um valor indefinido, o que se comprova pela estranheza que provoca a introdução de um modificador apositivo (que viria definir livros) na frase2.
Disponha sempre!
?assinala a estranheza da frase.
1. cf. Raposo e Miguel, in Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, p. 842.
2. cf. Ibidem, pp. 852-853, nota [11].