Os princípios que convoca não se encontram determinados dessa forma nas gramáticas normativas e não correspondem a situações de uso fixadas pelos falantes.
O recurso ao artigo definido contribui, de forma genérica, para a determinação de uma dada entidade, que se assume como particular ou genérica. Como se observa em (1), o artigo tanto pode contribuir para identificar um cão particular, de que o locutor já vinha falando anteriormente, ou do cão como espécie, de forma genérica:
(1) «O cão é um bom defensor da casa.»
A omissão do artigo definido, habitualmente, contribui para uma leitura genérica. No entanto, há algumas restrições a este uso sem artigo definido junto de nomes comuns1. Com nomes contáveis com função de sujeito, o seu uso é pouco frequente porque introduz alguma estranheza:
(2) «?Cão não gosta de comer vegetais.»
No entanto, com frases copulativas, o uso é mais comum:
(3) «Cão é um animal de que gosto.»
A utilização de nome sem artigo noutras funções sintáticas é frequente:
(4) «Não encontrei cão sem dono.»
Deste modo, são aceitáveis as frases, (5) e (6), estando o nome comum acompanhado de artigo ou não, independentemente de referir uma substância ativa ou não:
(5) «O paracetamol pode ser tomado com ou sem alimentos.»
(6) «Paracetamol pode ser tomado com ou sem alimentos.»
No que concerne aos nomes próprios, os usos mostram que o português aceita, de uma forma geral, o uso de artigo definido com esta classe, incluindo os antropónimos (nomes de pessoas), pelo que é perfeitamente possível usar nomes de marcas com ou sem a determinação do artigo definido. Tanto está correta a frase (7) como a (8):
(7) «Ben-u-ron pode ser tomado com ou sem alimentos.»
(8) «O Ben-u-ron pode ser tomado com ou sem alimentos.»
A diferença entre as duas frases reside exatamente no grau de genericidade que a elas se associa. Em (8), há um valor de maior concretude associada à entidade referida ou, então, a intenção é a de referir a marca assumindo-a como conhecida da pessoa com quem se fala. Em (7), está presente um valor genérico, sendo uma frase que se poderá aplicar a todas as entidades que recebem a designação de «Ben-u-ron».
Disponha sempre!
1. Para mais informações, cf. João Peres Andrade in Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 765 e ss.