O verbo achar é um verbo associado a uma modalidade1 epistémica, ou seja, na literatura sobre semântica verbal, o verbo achar aparece tradicionalmente associado a um tipo de verbos cujo significado implica uma noção relacionada com conhecimento ou crença.
Rui Marques (1995: 81) define ainda «subgrupos de verbos, associados a um valor positivo ou negativo de conhecimento ou crença». Assim, o autor divide os verbos epistémicos em quatro grupos:
- verbos que exprimem conhecimento (como constatar, compreender, descobrir, lamentar, saber etc.);
- verbos que exprimem desconhecimento (esquecer, ignorar);
- verbos que exprimem crença (achar, acreditar, admitir, pensar, etc.);
- verbos que exprimem descrença (desconfiar e duvidar).
Concluindo, o verbo achar exprime crença perante uma proposição. Na frase «acho que amo você», o falante diz-nos que acredita na proposição «amar você», contudo, não se compromete com a verdade efectiva do enunciado, ou seja, apesar de ele acreditar, não significa que tem a certeza de que aquilo em que acredita é inteiramente verdade, possivelmente, por esse conhecimento estar além do seu alcance.
Por outras palavras, podemos considerar que na frase «acho que amo você» há uma afirmação, instituída na expressão de crença, mas ao mesmo tempo uma dúvida sobre a realidade além do conhecimento do falante, logo, este não expressa uma certeza absoluta dos factos. Para o fazer, utilizaria um dos verbos do primeiro grupo: «Descobri/Sei que amo você.»
Por outro lado, o verbo achar pode ser empregado com um grau maior ou menor de certeza, no entanto, no exemplo acima é-nos impossível avaliar esse grau, para isso teríamos de entrar na mente do falante. Assim, ao dizer «acho que amo você», o falante pode ter muita ou pouca certeza. Não sabemos.
Esperamos ter esclarecido o suficiente, já que a semântica é um terreno muito lamacento, cheio de subjectividade e ambiguidade.
1 Segundo Mateus et alii (2003: 245), «modalidade é a gramaticalização de atitudes e opiniões dos falantes».