Os verbos ver e achar têm regências bastante semelhantes.
Ver
O verbo ver pode ser:
Intransitivo, se significa «compreender», etc. – Já estou a ver.
Transitivo directo – Vi o João.
Nesta situação, o complemento directo pode ser repetido através de um complemento introduzido pela preposição a: Vi-a a ela, não ao irmão.
Enquanto transitivo directo pode reger frase completiva: – Vejo que concluíste o trabalho.
Transitivo directo + predicativo do complemento directo: – Vejo-o feliz.
Também aqui pode ocorrer repetição do complemento directo: Vejo-o feliz a ele, mas não ao irmão.
Transitivo directo e preposicionado, no sentido de «perceber, reconhecer» – Via nele algo de especial.
Pronominal + predicativo do sujeito – Vejo-me só.
O predicativo do sujeito pode ser um grupo preposicional de valor locativo:– vejo-me ao espelho.
As frases que indica, contendo o verbo ver, são, do meu ponto de vista, ambas aceitáveis, ainda que pertencendo a registos distintos. Creio que em ambos os casos estamos perante uma situação em que o complemento directo ocorre reforçado, apesar de numa das frases, que repito como (1), não estar presente a preposição. Embora não tenha encontrado qualquer análise desta situação, parece-me que o facto de o elemento que reforça o complemento ser um quantificador usado como pronome permite esta liberdade, dado que, enquanto falante de português, aceito as duas frases. Considero, no entanto, (2) mais formal do que (1).
(1) Vi-os todos.
(2) Vi-os a todos.
Achar
O verbo achar, por sua vez, pode surgir como:
Transitivo directo – achei um tesouro; Acho que estás enganado.
Transitivo directo + predicativo do complemento directo – acho-o capaz de fazer o trabalho.
Enquanto transitivo directo com predicativo do complemento directo, o verbo achar pode, como o ver, ocorrer com o complemento directo repetido por meio de um complemento introduzido pela preposição a: Acho-te a ti capaz de fazer o trabalho, mas a ele não.
Transitivo directo e indirecto (pronominalizado) – achei-lhe um ar enigmático; acho-lhe graça.
Pronominal + predicativo do sujeito – acho-me doente.
O predicativo do sujeito pode ser um grupo preposicional de valor locativo: – nessa altura, achava-me em Lisboa.
Tal como nas frases com o verbo ver, creio que aqui «todos», ou «a todos», constitui um reforço do complemento directo. Para além disso, há nestas duas frases um predicativo do complemento directo: «maus». Este facto pode ser comprovado por meio de um teste, que permite criar uma frase finita subordinada completiva, em que o complemento directo seja o sujeito, e o predicativo do complemento directo se transforme em predicativo do sujeito, sem alterar significativamente o sentido, como se pode verificar em (5):
(3) Acho-os todos maus.
(4) Acho-os a todos maus.
(5) Acho que todos são maus.