Em português europeu, é correcto o uso da preposição em na construção da regência do verbo falar. Existe mesmo uma diferença semântica entre «falar em» e «falar de»:
a) «falar em» = «falar sobre»;
b) «falar de» = «falar de», «falar mal sobre».
Embora possa significar o mesmo que «falar em», «falar de» pode envolver intenção malévola para com outrem, se o complemento oblíquo contiver um substantivo com o traço [+humano]: é por isso que «falar de ti» se interpreta muitas vezes como sinónimo de «falar mal de ti».
Em relação à última frase apresentada, pode dizer das duas maneiras, porque se neutraliza a diferença entre «falar em» e «falar de». Mas assinalo que, mesmo, em complementos oblíquos, com substantivos caracterizados como não humanos (traço [-humano]), é possível acontecer que «falar de» tenha o referido significado de «comentar desfavoralmente»: «eles falaram da arbitragem» (neste caso, há uma relação com um agente, o árbitro).
Anote-se, por último, que outros verbos seleccionam a preposição em, sem que o significado seja inequivocamente o de lugar ou modo. Por exemplo o verbo pensar subcategoriza um complemento oblíquo introduzido pela preposição em: «não penses nisso», ou seja, «não penses sobre isso» (apesar de poderem ter sentido locativo, em e sobre assumem aqui um valor relacional, próximo de «a respeito de»).