A palavra colo passou efetivamente por uma alteração semântica importante, desde a Idade Média até ao século XVI, como aponta o filólogo galego Ramón Lorenzo1, que lhe atribui duas aceções medievais, «pescoço» e «ombro»; o vocábulo evoluiu, até tornar-se sinónimo de regaço. Esta aceção parece exclusiva dos usos locativos do vocábulo, como sejam «no colo» ou «ao colo», bem como do emprego adjetival de «de colo» («criança de colo»).
Bem esclarecedores são Joan Coromines e José Antonio Pascual, no seu Diccionario Crítico Etimológico Castellano e Hispánico (2012), cuja proposta de descrição diacrónica da semântica de colo em galego é, afinal, também a do português2:
«El gallego colo, además de ‘cuello’, ha tomado el sentido de ‘regazo materno’ (Castelao 97.7), lo cual se explica por la locución trager o levar a colo ‘llevar a cuestas’ (también catalán portar a coll); ya aparece así en una CEsc. de Alfonso el Sabio (R. Lapa 31.8; «escud’a colo en que sêve un capon» 57.4; «tragía a seu colo hũa imagen d’almafí» Ctgs. 399.6); y como las mujeres suelen llevar a los niños a cuestas, y así aparece en otra ctga. («de trager, por seu pediolo, / o filio doutro no colo» CEsc. 106.6, 12, 18), o lo tienen en el regazo, se pasó de lo uno a lo otro [...].»2
[tradução: «O galego colo, além de "pescoço", tomou o sentido de "regaço materno (Castelao 97.7), o que se explica pela locução trager3 ou levar a colo "levar às costas (também em catalão portar a coll); já parece assim numa cantiga de escárnio de Afonso [X], o Sábio (Rodrigues Lapa 31.8): "escud'a colo en que sêve un capon"4 57.4; "tragía a seu colo hũa imagen d’almafí"5 Cantigas 399.6); e como as mulheres costumam levar as crianças às costas, e assim aparece numa outra cantiga ("de trager, por seu pediolo, / o filio doutro no colo"6 CEsc. 106.6, 12, 18), ou as têm no regaço, passou-se de uma situação à outra [...].»3
1 Em La traducción gallega de la Crónica General y de la Crónica de Castilla. Vol. II (Glosario). Ourense: Instituto de Estudios Orensanos Padre Feijóo, 1977, s. v. colo (consultar em linha o Dicionario de Dicionarios do Galego Medieval):
2 Na citação são usadas as seguintes abreviaturas: Castelao = Castelao, Escolma Posible, prólogo e seleção de Marino Dónega, Vigo 1964; CEsc. = M. Rodrigues Lapa, Cantigas d'Escarnho e de mal Dizer dos Cancioneiros medievais galego-portugueses, Galaxia 1972; Ctgs. = Afonso X, o Sábio, Cantigas de Santa Maria, edición moderna de W. Mettmann, 4 vols. Coimbra 1959-1972.
3 Trager = «trazer».
4 "escud'a colo en que sêve un capon" = «escudo ao ombro em que esteve um galo capão».
5 "tragía a seu colo hũa imagen d’almafí" = «trazia ao seu colo uma imagem de marfim».
6 "de trager, por seu pediolo, / o filio doutro no colo" = «de trazer, como se fosse dele, o filho doutro no colo».