As regras enunciadas na pergunta para o pronome átono -o/-a não se aplicam ao pronome se, e, portanto, antes desta forma, não há apagamento de nenhuma letra da forma forma verbal.
A razão para isto acontecer desta maneira deve-se a razões históricas.
Na língua medieval, os pronomes de 3.ª pessoa tinham as formas de complemento direto lo(s) e la(s), cujo l caía quando era intervocálico1:
1. passa-lo > passa-o
Contudo, depois de formas verbais acabadas em consoante, ocorria a assimilação das consoantes -r e -s ao l do pronome:
2. quero passar-la > quero passal-la > quero passá-la
3. lavamos-lo > lavamol-lo > lavamo-lo
Mais tarde, este fenómeno também abrangeu a formas verbais acabadas em -z:
4. faz-lo > fal-lo > ele fá-lo
Contudo, se a forma verbal terminava em nasal, este som acabava por assimilar o l do pronome e originar -no, -na:
5. cantam-la > cantam-na
6. põe-la > põe-na
Estes fenómenos só afetam o pronome -o/-a e, portanto, não envolvem os restantes pronomes, incluindo se.
1 O artigo definido e o pronome pessoal de 3.ª pessoa provêm «do acusativo do demonstrativo latino ille, illa, illud (= aquele, aquela, aquilo)» (Celso Cunha e Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa, Edições João Sá da Costa, 1984, pág. 280).