DÚVIDAS

A origem de -lo e -no (pronome pessoal -o)

Se a forma verbal terminar em r, s, z, as consoantes desaparecem, o pronome assume a forma -lo, -la, -los, -las; exemplos:

– A roupa, não quero passar-la. – PASSÁ-LA

– O trabalho de casa? Não quero fazer-lo. – FAZÊ-LO

– O prato, não quero partir-lo. – PARTI-LO

Seria possível, por favor, que me expliquem a regra para que o mesmo não aconteça em casos como «faz-se» (não cai o Z)-

Muitíssimo obrigada.

Resposta

As regras enunciadas na pergunta para o pronome átono -o/-a não se aplicam ao pronome se, e, portanto, antes desta forma, não há apagamento de nenhuma letra da forma forma verbal.

A razão para isto acontecer desta maneira deve-se a razões históricas.

Na língua medieval, os pronomes de 3.ª pessoa tinham as formas de complemento direto lo(s) e la(s), cujo l caía quando era intervocálico1:

1. passa-lo > passa-o

Contudo, depois de formas verbais acabadas em consoante, ocorria a assimilação das consoantes -r e -s ao do pronome:

2. quero passar-la > quero passal-la > quero passá-la

3. lavamos-lo > lavamol-lo > lavamo-lo

Mais tarde, este fenómeno também abrangeu a formas verbais acabadas em -z:

4. faz-lo > fal-lo > ele fá-lo

Contudo, se a forma verbal terminava em nasal, este som acabava por assimilar o l do pronome e originar -no, -na:

5. cantam-la > cantam-na

6. põe-la > põe-na

Estes fenómenos só afetam o pronome -o/-a e, portanto, não envolvem os restantes pronomes, incluindo se

1 O artigo definido e o pronome pessoal de 3.ª pessoa provêm «do acusativo do demonstrativo latino ille, illa, illud (= aquele, aquela, aquilo)» (Celso Cunha e Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa, Edições João Sá da Costa, 1984, pág. 280). 

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