DÚVIDAS

A locução «assim que» e o conjuntivo

Sou tradutora e recebi recentemente uma avaliação onde se que afirma que a frase "Voltaremos a contactá-la assim que recebermos uma resposta" está incorrecta.

De acordo com a avaliação, a solução correcta seria "quando recebermos" ou "assim que recebamos". Parece-me, no entanto, que a locução "assim que" admite o futuro do conjuntivo. Importam-se de esclarecer esta dúvida?

Obrigada.

Resposta

Com efeito, como afirma a consulente, é possível construir uma oração subordinada adverbial temporal introduzida pela locução conjuncional «assim que» seguida de futuro do conjuntivo1. Deste modo, está correta a frase apresentada em (1):

(1) «Voltaremos a contactá-la assim que recebermos uma resposta.»

Nela, o futuro do conjuntivo contribui para marcar um tempo futuro relativamente ao momento da enunciação, ideia também presente na oração subordinante. Deste modo, na frase, afirma-se que, num intervalo de tempo futuro, no momento em que a situação descrita como «receber uma resposta» tiver lugar (situação apresentada como hipotética no futuro), a situação descrita como «voltar a contactar» será desencadeada.

Refira-se ainda que a locução «assim que» não produz, em termos semânticos, um valor exatamente idêntico ao da conjunção quando. Com efeito, as «orações introduzidas por quando localizam temporalmente a situação descrita pela oração principal relativamente à situação descrita pela oração subordinada. Esta pode ser temporalmente simultânea, anterior ou posterior à situação descrita pela oração principal.»2. Por seu turno, as orações introduzidas por «assim que» «localizam temporalmente a situação da oração principal como sendo concomitante ou imediatamente posterior à situação da oração subordinada»3. Assim sendo, se se pretender reforçar a ideia de que o contacto referido na frase (1) será imediato e célere, a opção pela locução «assim que» será preferível.

Disponha sempre!

 

1. Para mais informações sobre o uso do futuro do conjuntivo em subordinadas temporais, cf. Oliveira in Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 541-542.

2. Id., Ibid., p. 2001.

3. id. ibid., p. 2004

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