Embora a consecutio temporum, ou seja, a correlação temporal, assente nalguma rigidez na combinação dos tempos verbais, o que é verdade é que os usos mostram uma realidade diferente, que aponta para a possibilidade de diversidade de combinações de tempos verbais. A seleção do tempo verbal da oração subordinada, no caso apresentado, vai ter consequências na localização temporal da situação descrita1.
(i) quando o verbo da oração subordinada vai para o presente2, este indica uma situação que ocorrerá num tempo posterior ao momento da enunciação (ocorrendo num intervalo de tempo próximo ou mais distante). Na frase (1), refere-se algo que o Zé poderia vir a fazer (apresentado como incerto):
(1) «Duvido que o Zé seja capaz de fazer uma coisa dessas.»3
(ii) o verbo no imperfeito do conjuntivo deixa em aberto a localização temporal da situação descrita, pois tanto pode referir uma situação anterior ao momento da enunciação (2) como posterior (3):
(2) «Duvido que (ontem) o Zé fosse capaz de fazer uma coisa dessas.»
(3) «Duvido que (depois disto) o Zé fosse capaz de fazer uma coisa dessas.»
(iii) com o verbo no pretérito perfeito do conjuntivo, refere-se uma situação passada e concluída (ainda que hipotética):
(4) «Duvido que o Zé tenha sido capaz de fazer uma coisa dessas.»
(iv) com o verbo no pretérito mais-que-perfeito do conjuntivo, descreve-se uma situação completamente passada, anterior ao momento de enunciação, que pode, inclusive, ter um tempo de referência na frase.
(5) «Duvido que o Zé tivesse sido capaz de fazer uma coisa dessas antes de começar a trabalhar.»
Disponha sempre!
1. Para mais detalhes, cf. Oliveira in Raposo et al., Gramática de Português. Fundação Calouste Gulbenkian, pp.543 – 546.
2. No caso em apreço, os tempos serão sempre do conjuntivo.
3. É possível identificar nesta frase também um valor genérico, que se aplica em qualquer intervalo temporal.