Ser na aceção de «estar situado»
Perguntava-vos se, do ponto de vista sintático, o uso do verbo ser foi o mais indicado em relação à seguinte frase:
«O ambiente da cena é num quarto luxuoso.»
Perguntava-vos se, do ponto de vista sintático, o uso do verbo ser foi o mais indicado em relação à seguinte frase:
«O ambiente da cena é num quarto luxuoso.»
O verbo ser, no contexto sintático em análise, está/foi bem empregado.
Trata-se de um verbo pleno, com o significado de «situar alguma coisa em determinado lugar» ou «desenrolar-se, de modo fixo, um evento, em determinado lugar» (in Dicionário da Língua Portuguesa, da Academia das Ciências de Lisboa), isto é, «O ambiente» [seja ele qual for] situa-se/fica/localiza-se/desenrola-se/passa-se/decorre «num quarto luxuoso». No mesmo dicionário, podemos ler os seguintes exemplos:
(1) A Torre de Belém é em Lisboa.
(2) A casa dele é na rua Palmeirim.
(3) A festa de São João é no Porto.
(4) Essa exposição é em Paris.
Recordemos, a título de curiosidade, o início da didascália do Ato II, da obra Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett: «[O ambiente da cena] É no palácio que fora de D. João de Portugal, em Almada…».
O verbo ser provém de dois verbos latinos: esse e sedere («estar sentado»). No caso da frase em análise, a construção do verbo ser localiza espacialmente um evento expresso por um sintagma nominal com a função sintática de sujeito («O ambiente»), sendo «precisamente o facto de a localização (…) espacial ser uma propriedade essencial dos eventos que faz de ser o verbo de cópula adequado [no uso] destes casos»1, pese embora o facto de o verbo, aqui, ser considerado locativo e, portanto, se comportar mais como «predicador verbal» do que como verbo de cópula (Ibidem, p. 1334), pois o que determina o uso de ser é a natureza do sujeito («restrição de seleção», p. 1334), isto é, [-humano] e/ou abstrato, não esquecendo de que nos estamos a referir a «O ambiente», ou a «A Torre de Belém», «A casa dele», «A festa de São João» e «Essa exposição», nas frases de (1) a (4).
1 Vide Eduardo Buzaglo Paiva Raposo (2013). Orações Copulativas e Predicações Secundárias. In Raposo, Eduardo Buzaglo Paiva; Nascimento, Maria Fernanda Bacelar do; Mota, Maria Antónia Coelho da; Segura, Luísa; Mendes, Amália. Gramática do Português (Volume II, Capítulo 30, pp. 1326-1330). Fundação Calouste Gulbenkian.