DÚVIDAS

Redobro do clítico: «Levavam-me a mim e à minha irmã»
Uma aluna de PLE nível B1 escreveu a seguinte expressão num texto: «os meus pais levavam eu e a minha irmã». Corrigi a frase para: «os meus pais levavam-me a mim e à minha irmã». Ela compreendeu a alteração e a substituição do pronome de sujeito eu pelo pronome de complemento de complemento direto me, mas questionou-me sobre a necessidade de incluir a expressão «a mim», uma vez que lhe parece um uso redundante. A pergunta pareceu-me pertinente, mas expliquei-lhe que não podemos omitir «a mim», sob pena de a frase se tornar incorreta (*os meus pais levavam-me e à minha irmã). Gostaria de confirmar como se pode explicar o uso repetido dos pronomes numa expressão deste género. Trata-se de um verbo transitivo direto e indireto que exige neste caso o complemento direto (me) e o oblíquo («a mim»)? E há alguma forma mais simples de explicar isto a um aluno estrangeiro sem entrar em tecnicismos? Muito obrigada.
O modificador do nome em «um manejo laborioso e lento»
(Eça de Queirós)
Em meio da análise das funções sintáticas na expressão «(...) todos [os instrumentos] eram de um manejo laborioso e lento», excerto do conto "Civilização" de Eça de Queirós, deparei-me com dúvidas, particularmente quanto aos dois adjetivos. A predicação do sujeito «todos» pelo constituinte «de um manejo laborioso e lento» parece-me óbvia, numa das muitas aceções do verbo «ser», como «ter uma certa qualidade» ou «mostrar-se». Mas, ao interrogar a função sintática específica dos adjetivos como elementos ligados ao nome «manejo», permanece a questão: trata-se de um complemento do nome (apesar de serem adjetivos qualificativos e não relacionais), por fazer falta à especificação do seu sentido? Vejamos o que sucederia na ausência dos referidos adjetivos: «Todos [os instrumentos] eram de um manejo». Este enunciado não seria de modo algum congruente. Ou devemos considerar em todo o caso que se trata de um modificador do nome restritivo, por serem adjetivos qualificativos? Aqui, no Ciberdúvidas, numa questão similar, atribui-se ao adjetivo neste tipo de expressão, isto é, interno ao predicativo do sujeito, a função de modificador do nome restritivo. O certo é que existem muitas expressões análogas, como por exemplo, «Este é um homem de um prestígio enorme» ou «enorme prestígio». Nesta, pode-se retirar, sem perda de sentido, o adjetivo qualificativo: «Este é um homem de prestígio». A palavra «prestígio» tem, neste caso, valor semântico suficiente para assegurar a gramaticalidade do enunciado. No caso em apreço, com a palavra «manejo», porém, parece-me não estar assegurada a mesma condição. Outro exemplo em que o adjetivo é essencial: «Esta lata é de abertura fácil». Ou, ainda: «Este assunto é de grande importância». Pergunta-se «De que tipo de abertura é esta lata?/Qual o tipo de abertura desta lata?». Resposta: «Fácil». Aplicando à frase inicial: «Como é o manejo de todos estes instrumentos?» Resposta: «Laborioso e lento», sendo que o que a pergunta realmente quer saber e que os adjetivos exprimem é «o modo como se manejam». Obrigada!
Abertura (11/04/1997)
Gulbenkian e Mia Couto Registamos com agrado o facto de a Fundação Calouste Gulbenkian nos ter anunciado a decisão de cobrir parte dos custos da instalação de Ciberdúvidas. É, assim, a primeira fundação cultural a patrocinar este projecto sobre a Língua Portuguesa. "Língua que aceita brincadeiras", como há semanas escreveu, num convite implícito, na Antologia, o romancista angolano Pepetela. O escritor moçambicano Mia Couto acaba de aceitar o convite com "Perguntas à Língua Portuguesa", um texto redigido propositadamente para Ciberdúvidas, em que o autor se recreia com tonalidades e sentidos do idioma comum, em mutação permanente. Sinais desta mudança são registados em Controvérsias, num artigo do jornalista angolano Rui Ramos: "Luandês, a nova língua da lusofonia". Dentro de algum tempo, após a reestruturação que vamos realizar em Ciberdúvidas, contamos incluir numa nova rubrica - Diversidades - textos como o de Rui Ramos, porque, antes de polémicos, eles são acima de tudo recolhas necessárias das diferenças que fazem do português uma língua viva.
Orações relativas explicativas e orações coordenadas explicativas
Contextualizando: eu aprendi que orações restritivas focam numa parte do todo e as orações explicativas focam no todo que consequentemente geram os seguintes pressupostos: «Os professores que são didáticos devem possuir melhores salários.» (Estou restringindo «professor», já que nem todos são didáticos) «Os professores, que são didáticos, devem possuir melhores salários.» (Estou explicando «professor», já que todos são didáticos) A minha dúvida é  se as orações coordenativas explicativas permitem esse mesmo pressuposto, já que explicam. Do contrário, o que me permitem pressupor? Essa dúvida se amplia no exemplo abaixo: «Expulsaram o aluno João Ferreira, que brigou na escola.» O que nesse caso poderia ser visto tanto como pronome relativo («João Ferreira brigou na escola») e conjunção explicativa («porque brigou na escola»), o que mudaria o sentido. Obrigado.
ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa