DÚVIDAS

A interjeição raisparta
Sempre conheci as expressões «raios te partam», «raios o partam», «raios me partam», «raios partam»1 isto e aquilo… Mas nunca vi registado em nenhum dicionário, nem mesmo como uma corruptela, o vocábulo “raisparta”. No entanto, numa pesquisa que fiz no Google, este vocábulo aparece em barda2. Como poderemos classificá-lo? Gostava de ter um esclarecimento e/ou uma opinião da vossa parte. P. S.: Poderíamos incluir outra forma desta expressão que também se ouve: “raistaparta”.   1 No Ciberdúvidas, "Raios te partam". 2 “Raisparta” e “rais parta” – alguns exemplos respigados no Google: • «O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora grafa — rais parta — «moto quatro» – Linguagista, 20/04/2014 • «As séries e os erros... raisparta!» – A Marquesa de Marvila,  24/05/2019 • «Emigrantes de volta: ″Raisparta, não se poderiam ter...» – Diário de Notícias, 02/08/2018 • «Nunca sei, rais parta os duplos particípios passados!» – a SARIP em WordPress, 26/07/2009 • «Rais parta esta gente que só está bem com o mal dos outros» – De repente já nos trinta, 30/12/2016 • «Dei um salto e sai-me este grande palavrão: "Raisparta!"» – ncultura, 12/04/2019 • «raispartam manhãs cinzentachuvosas como a de hoje» – Pensamentos Imperfeitos, 31/12/2003 • «O problema surge com os alunos (raisparta os bons alunos!)» – A Educação do meu Umbigo, 17/05/2011 • «Portúgal» (raisparta o acento do islandês).Viagem pelos nomes de Portugal» – Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, 25/06/2018 -  • «Rais'parta, se eu tivesse sabido mais cedo da partida A caminho do Sol...» – Quinta Emenda, 13/08/2018 • «Raisparta a wikipedia» – Associaçom Galega da Língua • «E raisparta se o catraio não merece melhor sorte.» – A tasca do Silva, 30/12/2016 • «Raisparta o microfone que nunca funciona» – Simão, Escuta, 25/05/2012 • «Raisparta as segundas-feiras» – Caco de mimo, 31/01/2014 • «O "raios" já se usou, agora não tanto ainda assim é uma forma diminutiva de " RAIOS PARTAM" que soa a algo como " Rais' parta"» – 10 MITOS sobre portugueses e Portugal #419
A história da expressão de realce é que (II)
Para a pergunta «é que», deparei com a seguinte resposta do Ciberdúvidas: «Rodrigo de Sá Nogueira, no seu Dicionário de Erros e Problemas de Linguagem (Livraria Clássica Editora, Portugal), explica esse é que (ou foi que) por imitação do francês "c'est que…". E não lhe via, já nesse tempo, qualquer deselegância gramatical . Antes pelo contrário: "Trata-se de uma expressão radicada, consagrada pelo uso, e, diga-se de passagem, de muita expressividade." À luz da gramática portuguesa, R. Sá Nogueira justifica este tipo de construção como uma frase elíptica, que dá força e realce a uma determinada ideia ou informação. No exemplo apontado, a frase seria assim: "A escola recuou na sua proposta. Porque (é que) faltam os fundos necessários." E remete-nos para o que escreveu sobre o mesmo assunto o insuspeito Vasco Botelho de Amaral. Vem no Glossário Crítico de Dificuldades do Idioma Português (Editorial Domingos Barreira, Porto, esgotadíssimo) e é a defesa mais acalorada que conheço da "espontaneidade e relevo expressivo" da partícula é que – um recurso estilístico comum, de resto, em clássicos como Viagens na Minha Terra, de Almeida Garrett, ou Menina e Moça, de Bernardim Ribeiro. A transposição da oralidade – propositada, por exemplo, no jornalismo radiofónico e de TV – para uma linguagem escorreita é que, algumas vezes, deixa muito a desejar…» A minha dúvida recai sobre a explicação que dá para é que Epiphânio Dias na sua Syntaxe Histórica Portuguesa. Com base nela, é que resultaria da perda de concordância do verbo seguido do antecedente demonstrativo o acompanhado de oração relativa introduzida pela conjunção que: «Eu sou o que sei.», «Eu é que sei.» Quem estaria com a razão, Epiphânio Dias ou Sá Nogueira? Cumprimentos
A construção «acompanhar com...»
Desejava saber como se deve construir o verbo acompanhar na acepção de «relacionar-se com», «associar-se a», e na de «ser servido com», falando-se de pratos. Exemplos: «A Miguela acompanha com um rapaz estranho», «A Miguela acompanha-se com um rapaz estranho», «A feijoada é um prato português e acompanha-se com laranja e arroz branco» e «A feijoada é um prato português e acompanha com laranja e arroz branco.» Sempre se disse: acompanhar-se com? Modernamente o pronome se caiu? Quais são preferíveis das construções na norma culta portuguesa? Agradecimentos cordiais do Brasil.
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