Consultório - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Início Respostas Consultório Campo linguístico: Escrito/Oral
Lucas Tadeus Oliveira Estudante Mauá, Brasil 1K

Estava lendo uma análise do soneto «Transforma-se o amador na coisa amada» e vi um cacófato no final do terceiro terceto.

«Assim co'a alma minha se conforma.»

Pensei no diminutivo de mama («peito de mulher, seios»), mas um amigo meu pensa no corte de carne.

Seja como for, gostaria de saber de duas coisas:

1) Possivelmente, era já um cacófato no tempo de Camões? Existia o corte de carne ou o uso de mama/maminha para designar seios de mulher?

2) Agora, em Portugal ele ocorre também?

Nuno Heitor Eng. eletrotécnico Cartaxo, Portugal 3K

Qual a pronúncia correcta da disciplina de "Física-Química" (ou "Físico-Química")? Correntemente ouve-se pronunciar "fisicóquímica" em vez de se ler tal como está escrito. Qual a forma correcta de se pronunciar o nome desta disciplina? Faz sentido abrir a vogal antes do hífen?

Obrigado 

 O consulente escreve de acordo com a norma ortográfica de 45

Catarina Meira Consultoria Oeiras, Portugal 6K

A palavra acarta está errada na seguinte frase? Deveria ser acarreta?

«Escrevo-lhe sobre um tema que tem estado em agenda e que necessita de clarificação e algumas elucidações, na vertente das repercussões que o mesmo acarta para a privacidade de cada um de nós.»

Obrigada!

Luiz Martins Chefe de Gabinete Curitiba, Brasil 6K

Entendo que "né" é um advérbio, resultado da contração da locução "não é", gostaria de saber. "Né" é um advérbio de dúvida? "Não é?" é uma locução adverbial ou verbal? "Né" é aceito na linguagem culta, é registrado?

José Garcia Formador Câmara de Lobos, Portugal 3K

Agradecia que me esclarecessem se a frase apresentada é admissível: «Ele pretendia ser mais do que o que era.»

Obrigado.

Nicolau Herédia Estudante Brasil 2K

Na região balcânica da Europa oriental, há um país cujo nome é Bósnia e Herzegovina. Bósnia” e Herzegovina são, cada uma delas, regiões integrantes diferentes desse país.

A dúvida é a seguinte: como me referir a ele? Deverei dizer «visitei a Bósnia e a Herzegovina»? Ou então «visitei a Bósnia e Herzegovina»? Ou ainda «visitei Bósnia e Herzegovina»? O mais comum parece ser que se use a segunda forma, justamente a que me parece menos preferível, já que nela se usa um artigo definido no singular para um nome que, na verdade, tem duas partes.

Vale lembrar, ademais, que em Portugal parece existir a forma hifenizada: Bósnia-Herzegovina. Nesse caso, o mais correto parece ser que não se use artigo algum, ou seja, que se diga «visitei Bósnia e Herzegovina».

Que é que me dizem?

Elisabete Martins Professora Quinta do Conde - Sesimbra, Portugal 6K

Há pouco tempo surgiu a dúvida entre «bago de arroz» ou «grão de arroz». Qual é a forma correta?

Sempre disse «bago de arroz», até existe uma loiça chinesa com essa designação. Soube que os nortenhos dizem «grão de arroz».

Podemos usar as duas?

Muito obrigada!

João Nogueira da Costa Professor (aposentado) Almada, Portugal 10K

Sempre conheci as expressões «raios te partam», «raios o partam», «raios me partam», «raios partam»1 isto e aquilo…

Mas nunca vi registado em nenhum dicionário, nem mesmo como uma corruptela, o vocábulo “raisparta”. No entanto, numa pesquisa que fiz no Google, este vocábulo aparece em barda2. Como poderemos classificá-lo?

Gostava de ter um esclarecimento e/ou uma opinião da vossa parte.

P. S.: Poderíamos incluir outra forma desta expressão que também se ouve: “raistaparta”.

 

1 No Ciberdúvidas, "Raios te partam".

2 “Raisparta” e “rais parta” – alguns exemplos respigados no Google:

• «O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora grafa — rais parta — «moto quatro» – Linguagista, 20/04/2014

• «As séries e os erros... raisparta!» – A Marquesa de Marvila,  24/05/2019

• «Emigrantes de volta: ″Raisparta, não se poderiam ter...» – Diário de Notícias, 02/08/2018

• «Nunca sei, rais parta os duplos particípios passados!» – a SARIP em WordPress, 26/07/2009

• «Rais parta esta gente que só está bem com o mal dos outros» – De repente já nos trinta, 30/12/2016

• «Dei um salto e sai-me este grande palavrão: "Raisparta!"» – ncultura, 12/04/2019

• «raispartam manhãs cinzentachuvosas como a de hoje» – Pensamentos Imperfeitos, 31/12/2003

• «O problema surge com os alunos (raisparta os bons alunos!)» – A Educação do meu Umbigo, 17/05/2011

• «Portúgal» (raisparta o acento do islandês).Viagem pelos nomes de Portugal» – Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, 25/06/2018 - 

• «Rais'parta, se eu tivesse sabido mais cedo da partida A caminho do Sol...» – Quinta Emenda, 13/08/2018

• «Raisparta a wikipedia» – Associaçom Galega da Língua

• «E raisparta se o catraio não merece melhor sorte.» – A tasca do Silva, 30/12/2016

• «Raisparta o microfone que nunca funciona» – Simão, Escuta, 25/05/2012

• «Raisparta as segundas-feiras» – Caco de mimo, 31/01/2014

• «O "raios" já se usou, agora não tanto ainda assim é uma forma diminutiva de " RAIOS PARTAM" que soa a algo como " Rais' parta"» – 10 MITOS sobre portugueses e Portugal #419

Fernando António Paulo Pereira Funcionário do Estado Almada, Portugal 2K

À semelhança de computorizado em alternativa a computadorizado, pode usar-se "empreendorismo" em alternativa a empreendedorismo?

José de Vasconcelos Saraiva Estudante de Medicina Foz do Iguaçu, Brasil 2K

Para a pergunta «é que», deparei com a seguinte resposta do Ciberdúvidas:

«Rodrigo de Sá Nogueira, no seu Dicionário de Erros e Problemas de Linguagem (Livraria Clássica Editora, Portugal), explica esse é que (ou foi que) por imitação do francês "c'est que…". E não lhe via, já nesse tempo, qualquer deselegância gramatical . Antes pelo contrário: "Trata-se de uma expressão radicada, consagrada pelo uso, e, diga-se de passagem, de muita expressividade." À luz da gramática portuguesa, R. Sá Nogueira justifica este tipo de construção como uma frase elíptica, que dá força e realce a uma determinada ideia ou informação. No exemplo apontado, a frase seria assim: "A escola recuou na sua proposta. Porque (é que) faltam os fundos necessários." E remete-nos para o que escreveu sobre o mesmo assunto o insuspeito Vasco Botelho de Amaral. Vem no Glossário Crítico de Dificuldades do Idioma Português (Editorial Domingos Barreira, Porto, esgotadíssimo) e é a defesa mais acalorada que conheço da "espontaneidade e relevo expressivo" da partícula é que – um recurso estilístico comum, de resto, em clássicos como Viagens na Minha Terra, de Almeida Garrett, ou Menina e Moça, de Bernardim Ribeiro. A transposição da oralidade – propositada, por exemplo, no jornalismo radiofónico e de TV – para uma linguagem escorreita é que, algumas vezes, deixa muito a desejar…»

A minha dúvida recai sobre a explicação que dá para é que Epiphânio Dias na sua Syntaxe Histórica Portuguesa. Com base nela, é que resultaria da perda de concordância do verbo seguido do antecedente demonstrativo o acompanhado de oração relativa introduzida pela conjunção que: «Eu sou o que sei.», «Eu é que sei.»

Quem estaria com a razão, Epiphânio Dias ou Sá Nogueira?

Cumprimentos