Enumeração num texto de Maria Judite de Carvalho
Há uma discordância entre a minha classificação e de outra professora, em que ela aceita que a seguinte frase, de uma crónica de Maria Judite de Carvalho, contém uma enumeração:
«Tudo aquilo é bonito, bem arranjado, atraente, higiénico, impessoal.»
Na minha perspetiva, trata-se de uma adjetivação (qualificativa) sucessiva.
Existe fronteira de classes gramaticais na enumeração? Toda a lista de classes pode ser abrangida na enumeração, como os adjetivos?!
Podem elucidar-nos?!
Obrigado pelo vosso sempre excelente trabalho.
A métrica numa cantiga de D. Dinis
Gostaria de saber qual a métrica dos versos seguintes desta cantiga, uma vez que há dúvidas.
«Non chegou, madr’, o meu amigoe oj’ést’o prazo saido»
Figuras de estilo numa frase do Novo Testamento (1 Coríntios, 13,1)
No texto de 1 Coríntios 13, verso 1, está escrito:
«Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse caridade, seria como o metal que soa ou como o sino que tine.»
Analisando exclusivamente o texto bíblico acima, ele informa que existem duas formas de a pessoa falar várias línguas: o indivíduo pode aprender idiomas estudando ou pode ser poliglota por inspiração do Espírito Santo, daí as expressões "dos homens/dos anjos". A conduta é a mesma: falar idiomas, mas a fonte de aprendizado é diversa; no primeiro caso o conhecimento é adquirido pelo estudo, no outro ela fala línguas influenciada espiritualmente pelo Espírito de Deus.
Então pergunto: qual a figura de linguagem que foi utilizada pelo autor?
Obs: desculpem a forma que vou falar a seguir, mas é importante destacar que meu interesse é puramente gramatical, sem viés religioso nenhum. O problema é que quando a gente pergunta a religiosos ou eles não sabem, ou respondem ideologicamente.
Mais uma vez desculpem minha forma de expor o tema.
Obrigado!
Os temas do poema «Se Helena apartar...» (Camões)
Coloquei no teste a seguinte questão:
1. Indica a principal temática camoniana presente no poema.
Cenário de resposta apresentado: o poder transformador de Helena / a beleza da mulher / a representação da amada.
No entanto, alguns alunos deram como resposta «a representação da natureza».
Posso considerar como resposta correta, tendo em conta que alguns manuais integram este poema nesta temática?
Crase e sinalefa
Em vista das regras da crase e da sinalefa, acerca das quais tenho lido alguns artigos no Ciberdúvidas, sem no entanto ter percebido quais os limites para a aplicação das mesmas, gostaria de saber como se divide as sílabas métricas do seguinte hipotético verso:
Ou a aia ia ou ia eu aí.
Muito obrigado.
A delimitação da apóstrofe
Desejava esclarecer uma dúvida sobre a apóstrofe, recurso expressivo.
Sabemos «que consiste na interrupção do discurso para invocar, através do vocativo, alguém ou algo a que se se atribuem características de pessoa» (in Dicionário Breve de Termos Literários, de Olegário Paz e António Moniz), ou «RETÓRICA – recurso estilístico que consiste numa interpelação, geralmente exclamativa, a algo (normalmente personificado) ou alguém (usualmente ausente), por norma realizada através da utilização do vocativo e do discurso direto e destinada a conferir vivacidade e/ou realismo ao discurso» (apóstrofe, Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa).
A dúvida é a seguinte:
– Na estância 133, do Canto III, d’Os Lusíadas, a apóstrofe está apenas no vocativo, «ó sol», ou no conjunto dos versos 1 a 4 da mesma estância? O mesmo se dirá da apóstrofe aos «côncavos vales» – a apóstrofe está apenas no vocativo, «ó côncavos vales», ou no conjunto dos versos 5 a 8 da referida estância?
De acordo com a primeira definição, sim, o recurso está apenas no vocativo. Porém, a interpelação ao «sol» ou aos «côncavos vales» está presente no conjunto dos versos que indico.
Antecipadamente, grata pela atenção.
A expressão «mão de finado»
Ao ler o livro em epígrafe (1913, Ed. Aillaud, Alves & Cia, p. 141), deparei-me, no conto intitulado "O Solar de Montalvo", de Aquilino Ribeiro, com o seguinte excerto:
«Na sala que abria para o pomar, a mão dum finado ardia numa luz resplendente e alva que cegava.»
A expressão «mão do finado» surge também no conto homónimo de Teófilo Braga (Contos Tradicionais do Povo Português).
Procurando o significado da expressão «mão de finado», somente encontrei o sentido de «avarento». No entanto, em ambas as obras acima citadas parece que o sentido não se refere a um adjetivo, mas sim a um substantivo, o qual não consegui descodificar.
Assim sendo, venho solicitar ajuda para conhecer o sentido correto da expressão «mão de finado».
Hipérbato vs. anástrofe
Entre colegas, surgiu uma discussão sobre um recurso expressivo na estância 19 d'Os Lusíadas: anástrofe ou hipérbato?
Já no largo Oceano navegavam,As inquietas ondas apartando;Os ventos brandamente respiravam,Das naus as velas côncavas inchando;Da branca escuma os mares se mostravamCobertos [...]
Nesta estância, podemos afirmar que estamos perante anástrofes em «Das naus as velas côncavas inchando» e «Da branca escuma os mares se mostravam/ Cobertos»?
Considero que o hipérbato consiste numa alteração "violenta" na ordem natural da frase, como "os casos que o Adamastor contou futuros".
Desde já, agradeço o vosso esclarecimento.
Gradação e anáfora em António Vieira
No segmento «um monstro tão dissimulado, tão fingido, tão astuto, tão enganoso, e tão conhecidamente traidor?» (Padre António Vieira, Sermão de Santo António), podemos constatar a presença de uma gradação. Mas, não podemos constatar também a presença de uma anáfora? Ou a anáfora é apenas a repetição de palavras no início de, pelo menos, duas frases ou dois versos?
Sinédoque: «Ocidental praia lusitana»
Costumeiramente se afirma que no famoso verso de Camões «Que da ocidental praia lusitana» (Os Lusíadas, I, II) há uma sinédoque.
Dizem que o poeta toma a praia por toda a nação portuguesa, mas o que me parece é que a expressão «ocidental praia lusitana» se refere ao porto de Lisboa, que fica na parte ocidental do país.
Por tudo isso, peço humildemente que me expliqueis a correta interpretação do verso camoniano e como chegar a ela.
