Sandra Duarte Tavares - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Sandra Duarte Tavares
Sandra Duarte Tavares
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É mestre em Linguística Portuguesa pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. É professora no Instituto Superior de Comunicação Empresarial. É formadora do Centro de Formação da RTP e  participante em três rubricas de língua oortuguesa: Agora, o Português (RTP 1), Jogo da Língua  e Na Ponta da Língua (Antena 1). Assegura ainda uma coluna  mensal  na edição digital da revista Visão. Autora ou coa-autora dos livros Falar bem, Escrever melhor e 500 Erros mais Comuns da Língua Portuguesa e coautora dos livros Gramática Descomplicada, Pares Difíceis da Língua Portuguesa, Pontapés na Gramática, Assim é que é Falar!SOS da Língua PortuguesaQuem Tem Medo da Língua Portuguesa? Mais Pares Difíceis da Língua Portuguesa e de um manual escolar de Português: Ás das Letras 5. Mais informação aqui.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Tenho uma dúvida que não consigo esclarecer em nenhuma das gramáticas que tenho.

É a seguinte: na frase «As temperaturas outonais agradam pouco aos mais friorentos», o advérbio pouco desempenha a função de modificador do grupo preposicional «aos mais friorentos», ou a de modificador do verbo «agradam»?

Caso não desempenhe a função de modificador do grupo preposicional, gostaria que fizessem o favor de me dar exemplos de advérbios que desempenhem essa função.

Muito agradeço a ajuda que me possam dar.

Resposta:

Na frase «As temperaturas outonais agradam pouco aos mais friorentos», o advérbio pouco desempenha a função de modificador verbal, pois modifica o verbo agradar, e não o complemento indireto «aos mais friorentos». Designa-se «modificador adverbial do grupo verbal».

Se a frase fosse «As temperaturas outonais agradam pouco aos mais friorentos de Portugal», o grupo preposicional «de Portugal» desempenharia a função de modificador do grupo preposicional «aos mais friorentos».

Sempre ao dispor!

 

A interrogação-surpresa do título em cima é minha – e a afirmação é de Luís Osório, autor da opinião que se pode ler aqui. O título, confesso, desafiou-me a lê-lo num ápice, deixando-me, porém, verdadeiramente perplexa: estudar gramática nas aulas de Português é um crime contra o futuro?! Estudar sintaxe não estimula o pensamento?! Conhecer a estrutura e o funcionamento da língua não serve para saber escrever com rigor e correção?!

Pergunta:

Dada a frase «Estou aqui sentado, à espera que a crónica chegue.» pedia que me fizessem a análise sintática de todos os constituintes. Dei o nó completamente.

Obrigada.

Resposta:

Sujeito nulo subentendido: (eu)

Predicado: «estou aqui sentado»

Predicativo do sujeito: «aqui sentado»

Modificador: «à espera que a crónica chegue»

Complemento do nome espera: «que a crónica chegue»

A rigor, a oração subordinada completiva finita «que a crónica chegue» deveria ser antecedida da preposição de, uma vez que a locução «à espera» tem regência construída com esta preposição: «de que a crónica chegue». Observe-se, no entanto, que J. A. Peres e T. Móia, em Áreas Críticas da Língua Portuguesa (Lisboa, Editorial Caminho, 1995, pp. 112-113), não rejeitam claramente a omissão da preposição de antes da conjunção subordinativa completiva que: «[Sobre exemplos de supressão de preposições argumentais] [...], não consideramos as estruturas malformadas ou agramaticais, embora prefiramos aquelas em que não houve supressão.»

Pergunta:

«Ele desistiu do teste»: «do teste» é modificador verbal, ou complemento oblíquo?

Resposta:

A expressão «do teste» desempenha a função sintática de complemento oblíquo, uma vez que é um sintagma preposicional selecionado pelo verbo desistir. A sua omissão torna a frase incompleta. Não pode ser substituído pela forma dativa do pronome pessoal lhe.

Pergunta:

Na expressão «Cala-te!», qual a classificação sintática do pronome te?

Obrigado.

Resposta:

Os pronomes pessoais (ou clíticos) podem ocupar na frase uma posição argumental ou não argumental. Se ocupam uma posição argumental, desempenham uma determinada função sintática, por exemplo:

a) «Lava-te!» (O pronome pessoal te tem a função sintática de complemento direto.)

Se, pelo contrário, ocupam uma posição não argumental, não desempenham qualquer função sintática:

b) «Queixa-te à polícia!» (O pronome pessoal te não desempenha nenhuma função sintática; é inerente ao verbo.)

O pronome te da frase que apresenta pertence ao paradigma de pronomes pessoais reflexos inerentes ou pseudorreflexos (-me, -te, -se, -nos, -vos, -se), uma vez que, associados a verbos como calar-se, atrever-se, rir-se, queixar-se, comprometer-se, suicidar-se, arrepender-se, não desempenham qualquer função sintática. São, sim, formas inerentes ao verbo, i. e., são uma propriedade lexical dos próprios verbos.