«Ir a alacar» (=«ficar para trás»), «sair tudo de rapa terrão» (= «à pressa, sem concentração») ou «ir p'ra vea d'água» (= «ser tudo mentira») são três das muitas expressões e palavras reunidas por Teresa Simão, linguista e investigadora da Universidade de Évora, neste novo contributo para os estudos de Dialetologia em Portugal. O Dicionário do Falar Raiano de Marvão apresenta-se como um repositório do vocabulário típico de um dos dialetos da sub-área que abrange o norte do distrito de Portalegre e parte do distrito de Castelo Branco. Recorde-se, portanto, que, no contexto de Portugal continental, esta região se salienta, entre os dialetos centro-meridionais, por certos fenómenos fonéticos que encontram paralelo na ilha açoriana de São Miguel, como sejam o u e o ou entoados «à francesa», o que leva palavras como fruta e pouco a soarem respetivamente como "früta" e "pöque". A estes traços, junta-se um vocabulário expressivo, muitas vezes pitoresco, cuja originalidade se reforçou pela localização e pela vivência fronteiriças. Obra de fácil consulta, constitui um instrumento precioso de divulgação, numa linha de valorização do património material e imaterial das diferentes regiões portuguesas. Por outro lado, trata-se de um trabalho que, adotando os critérios científicos da investigação linguística, evidencia como a cultura não erudita e a variação dialetal são, afinal, objetos válidos de conhecimento.
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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