Uma obra sobre a questão da padronização (ou estandardização) das línguas da Península Ibérica, tema a que são dedicados dez estudos, contando entre eles dois sobre o português, nas suas variedades europeia e brasileira. Os textos são, na sua maior parte, as comunicações de um encontro realizado em 2021 no âmbito do projeto La estandarización lingüística revisitada: mediatización, vernacularización e ideologías lingüísticas en la España contemporánea (ESTANDAREV), o qual se iniciou nos finais de 2022.
O livro conta com trabalhos de Carla Amorós-Negre, Miren Azkarate, Marcos Bagno, Joan Costa-Carreras, Eduardo Maragoto Sanches, Henrique Monteagudo, Miquel Àngel Pradilla Cardona, Xosé Luís Regueira e Fernando Venâncio. O prefácio (pp. 6-40), que constitui uma magnífica síntese da discussão mais recente dos temas da padronização, é de Henrique Monteagudo.
Lê-se na sinopse de apresentação:
«A estandarización é un proceso tanto sociopolítico e cultural como propiamente lingüístico, e constitúe unha cuestión central na política e a planificación lingüísticas. O lingüista Otto Jespersen referiuse ao xurdimento das linguas estándar como «o fenómeno máis importante na evolución da lingua en tempos históricos». Talvez por iso, a estandarización é tamén un dos fenómenos sociolingüísticos máis discutidos, comezando polo significado do propio termo e a valoración dos seus efectos, e incluíndo os debates arredor da súa natureza e alcance. É así que nas últimas décadas os estudos estandarolóxicos experimentaron unha expansión exponencial, unha diversificación extraordinaria e unha renovación impresionante.»
Este é um conjunto de estudos que se reveste de interesse especial, porque a língua portuguesa é tema constante na discussão da padronização do galego, em particular no texto de Eduardo Maragoto, "A proposta do binormativismo para padronizar o galego" (pp. 233-256), que apresenta o binormativismo como solução que concilia a ortografia com estatuto oficial na Galiza e a proposta de feição aportuguesante, desenvolvida nos meios reintegracionistas.
Cingindo-se ao português, contam-se dois trabalhos, o de Fernando Venâncio e Marcos Bagno. O primeiro revela, em "A estandardização do português: do passado ao presente" (pp. 207-218), a despreocupação histórica com que, em Portugal e no seu império colonial, o poder político (não) tratou da questão da codificação da língua. Marcos Bagno retoma, em "Violência social e conflitos normativos na sociedade brasileira" (pp. 219-232), as teses da diglossia que, na prática, se manifesta entre os falantes do Brasil, a qual é devedora de condições históricas esclavagistas que estão na raiz das enormes desigualdades da sociedade brasileira contemporânea.
Como também se lê na apresentação, este volume visa apresentar «un estado da cuestión da estandarización, os seus problemas e as súas perspectivas, ofrecen olladas novidosas sobre os estándares e os procesos de estandarización e sinalan novas vías de investigación». Além disso, é uma obra que, apesar do relevo dado às línguas regionais do Estado espanhol – além do galego, dá-se conta dos problemas de definição da norma nas áreas linguísticas do catalão e do basco (ou eusquera) –, levanta questões fundamentais para a reflexão sobre o que tem sido e pode ser a padronização (ou estandardização) da língua portuguesa perante os desafios da sua diversidade. É, pois, um livro também sobre as questões de norma e de política linguística do português, que continuam a ser debatidas e ainda aguardam atenção detida por parte dos governos de Portugal, do Brasil e demais países da CPLP.
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
Se pretende receber notificações de cada vez que um conteúdo do Ciberdúvidas é atualizado, subscreva as notificações clicando no botão Subscrever notificações