O Português, no ritmo actual de crescimento do Sul global, pode ultrapassar o Inglês antes de 2060.
O Bahasa da Indonésia, língua oficial de planeamento interlinguístico, tornada coloquial, é a língua mais regular do mundo. O planeamento interglóssico intranacional do Bahasa indonésio começou por ser meramente veicular mas, com o tempo, passou também a desempenhar um importante papel cultural e identitário.
O Latim é a única língua morta declarada oficial a nível dum Estado (o Vaticano).
O número de lexemas, lexicograficamente registados (ou seja, quanto a dicionários), depende muito, em cada língua e caso, de se considerarem ou não os termos científicos não vulgarizados.
Inglês, a língua mais irregular
A língua mais irregular, de entre todas as línguas europeias e de entre todas as mais faladas do mundo, é o Inglês, mesmo não contando com a sua pluridialetização pancontinental – nesta ótica, é a mais difícil (sem esquecer que a proximidade entre a língua de partida e a língua-alvo, na aprendizagem, determina o grau de dificuldade (contra o preconceito de que o Inglês é uma «língua fácil»).
Está muito espalhado, em todos os níveis de literacia, o preconceito de que o Inglês, no cotejo com as demais línguas, tem um mérito superior de per si legitimador dum suposto estatuto de língua veicular universal. Ora, parece consabido, dentro e fora dos círculos académicos, que a relativa preponderância do Inglês no planeta não lhe advém de qualquer mérito intrínseco ou da sua aptidão como língua veicular internacional, antes lhe advindo, sim, da situação hegemónica mantida pelo mundo anglófono desde o fim da II Guerra Mundial.
Esse tipo de errónea fixação presta-se, por contraposição, à colocação da questão de saber qual das línguas existentes serviria melhor a função de língua veicular mundial. Para quem não aceite como satisfatória a ideia do plurilinguismo cultural (aceite no Regulamento Linguístico n.º 1 da União Europeia), nem a ideia do monolinguismo veicular (ideia seguida, por convicção ou conformação, por grande parte dos países do planeta, mesmo fora da órbita anglófona), nem sequer a ideia ou dum glossoclubismo veicular seletivo (ideia avançada de premissa por Fernando Pessoa, que propôs três línguas “imperiais”, entre as quais o Português), restará como solução a adoção duma língua planeada como língua veicular internacional.
Dentro da linha do monolinguismo veicular, restringida à família das línguas indoeuropeias faladas na Europa, a mais apropriada para tal escolha seria, com certeza, pragmaticamente, a que reunisse menor número de irregularidades linguísticas, mormente morfossintácticas, fonéticas e semânticas. Neste enfiamento, o Checo já foi academicamente sugerida na Europa como sendo tal língua, com a vantagem acrescida de, por ser falada por uma minoria demográfica, não conter o vírus do imperialismo linguístico e, nessa ótica, ser a mais democrática (mas a polémica quanto a uma tal escolha começa dentro dos próprios demais países eslavófonos, algum dos quais se assumem como falantes duma língua mais regular que o Checo).
Línguas étnicas vs. línguas artificiais
Classicamente, os interlinguistas seguiam a dicotomia que opunha línguas naturais a línguas artificiais. Hoje, cresce a inclinação para substituir tal dicotomia por uma outra que faça contrastar línguas étnicas com línguas planeadas. Esta substituição parece fazer sentido, por um lado porque as línguas não provêm diretamente da natureza, mas, sim, do homem (tal como as artes e ciências, do ponto de vista de proveniência, são produto do homem e não da Natureza), e, por outro lado, porque a maioria esmagadora das línguas planeadas são interétnicas e não artificiais. O planeamento interglóssico, por sua vez, pode ser internacional (há cerca de mil línguas planeadas como internacionais, das quais a esmagadora maioria não passou da fase de projeto tornado público e só umas escassas dezenas foram praticadas por uma agremiação académica plurinacional), mas pode ser também intranacional (o caso-mor de sucesso de planeamento foi, com certeza, o do Bahasa da Indonésia, planeado com base no Malaio com aportes das várias línguas regionais do país, mas também resultaram como planeados o Hebraico moderno e o Grego Moderno).
As desvantagens do chinês e do checo...
O Chinês é uma das línguas mais regulares do mundo — o que a complica, para aprendizes nativos de língua materna/parental de alfabeto, são o facto de ser uma língua de ideogramas, ou seja, que exige memorização fonética de caracteres não alfabéticos, e o facto de ser uma língua de matizes fonéticos de difícil destrinça, para os quais é exigido apuramento afincado e demorado do aparelho fonador e do aparelho auditivo.
O Chinês não é a língua mais falada do planeta — é, sim, em quantificação demográfica, a língua mais escrita da China, porque interlocutoriamente os falantes das respectivamente variantes não se entendem ou mal se entendem, ou seja, um falante oral do Mandarim, língua oficial, não se entenderá a conversar, presencialmente ou por telefone, com um falante oral do Cantonês ou doutra das variantes orais do Chinês ideográfico, aquela e uma destas tão distantes foneticamente entre si como por exemplo o Português e o Francês, mas qualquer Chinês falante de uma das variantes do Chinês escrito sem dificuldade alguma se faz entender ou entende o interlocutor falante doutra variante do mesmo, por carta ou email (não é raro dois chineses conversarem entre si em Inglês, em vez de usarem as respectivas variantes orais parentais em modalidade passiva recíproca, como podem fazer, entre si, por exemplo, um português e um espanhol).
Os linguistas chineses sabem (constatação que fiz pessoalmente em Pequim, em colóquio dum Congresso de Esperanto, em 2004, e fora do mesmo, com linguistas chineses de calibre científico) que, se e quando a China vier a protagonizar a hegemonia mundial nas vertentes decisivas, não logrará impor o Chinês como língua de comunicação internacional para destronar o Inglês do seu papel de língua internacional de facto.
A China é o país do mundo com maior número de falantes da língua internacional neutra Esperanto, sendo também o Estado chinês o que mais subsidia o ensino desta língua e o que mais respeita as recomendações da UNESCO (duas, separadas de décadas), dirigidas aos seus Estados-membros no sentido do ensino do Esperanto nas escolas oficiais destes.
O Português está entre as nove (todas românicas) das cerca de 6300 línguas do mundo com mais parecença fonética, morfossintática e semântica com o Esperanto e, de entre as duas mais faladas – Espanhol e Português –, a segunda em parecença.
... e do Inglês
Pode pôr-se, pertinentemente, a questão de saber se o Inglês tem ou não o estatuto de língua universal ou língua franca. Questão diversa é a de saber se o Inglês, no cotejo com outras línguas, é mais ou menos prevalente no plano demográfico, no plano político-económico, no diplomático, no literário, no tecnológico-científico.
Dentro da segunda questão, não colhe a ideia, bastante vulgarizada, de que o Inglês tem mérito superior de per si legitimador dum pretenso estatuto de língua universal. Parece, sim, consabido, dentro e fora dos círculos académicos, que a relativa preponderância do Inglês no planeta não lhe advém de qualquer mérito intrínseco ou da sua aptidão como língua veicular internacional, antes lhe advindo da situação hegemónica mantida pelo mundo anglófono desde o fim da II Guerra Mundial.
Neste ângulo do mérito ou aptidão, tem sido posta a questão de saber qual das línguas étnicas do mundo – o Inglês, o Português, o Quimbundo ou o Quicongo — serviria melhor a função de língua veicular mundial, caso fosse de excluir a solução da escolha duma língua planeada.
Se nos restringirmos à família das línguas indoeuropeias faladas na Europa, a mais apropriada segundo tal critério, seria, com certeza, pragmaticamente, a que reunisse menor número de irregularidades linguísticas, mormente morfossintáticas, fonéticas e semânticas. Essa língua não seria, com certeza, do ramo românico, mas, mais seguramente ainda, não seria a língua inglesa, que, sendo classificada como germânica, é de todas as germânicas a mais estrangeirada e mais romanizada, sendo considerada por não poucos linguistas uma complexo dialectal variegado, quando por exemplo, o Galego, língua portuguesa da primeira dinastia, já era uma língua segundo os critérios científicos prevalecentes.
Quando se fala de línguas fáceis ou difíceis, não só a regularidade conta — o que mais conta é a semelhança entre a língua de partida (língua materna do aprendente), e a língua-alvo ou língua de chegada, objeto de aprendizagem. Exemplo disso é a língua chinesa oficial, Mandarim, que tem um grande grau de regularidade e uniformidade sintática, mas, apesar disso, é muito difícil de aprender para quem seja falante nativo duma língua de alfabeto.
A nível europeu já foi academicamente sugerida para língua veicular a língua checa, não só por ser tida como a mais regular de todas as indoeuropeias da Europa (há falantes de outras línguas eslavas que defendem ser a sua própria língua eslava nativa a mais regular), como também por ser própria de uma comunidade demograficamente exígua, logo sem futuro como potência hegemónica.
A língua mais fácil de aprender para um português ou outro lusofalante será, provavelmente, o Castelhano (de entre o painel de línguas ibéricas, exceto o Basco), deixando de parte o Galego, que pode considerar-se uma variante duma língua galaico-portuguesa, apesar de o Castelhano ter para cima de 2000 irregularidades.
É frequente ouvir-se hoje um adolescente dizer assertivamente que o Inglês é mais fácil do que o Francês, mas na geração anterior dizia-se invariavelmente que o Francês era mais fácil do que o Inglês. Isso compreende-se, visto que lexicológica, morfológica e sintaticamente, o Francês está mais próximo do Português do que o Inglês.
Em Portugal, seria, portanto, propedeuticamente mais acertado ser escolhido o Francês do que o Inglês como primeira língua estrangeira no currículo didático do ensino oficial. Já o ensino do Castelhano, por ter com o Português uma relação interveicular dita de «competência linguística passiva recíproca», pode ser aprendido em poucas semanas, além de ter contribuído com muitos menos lexemas do que o Francês para o tesouro lexical do Inglês.
A polissemia do Inglês (plúrimos significados — às vezes, dezenas — numa mesma palavra) é mais uma irregularidade do que uma virtude. É corrente depreender-se o significado atribuído pelo autor apenas através do seu contexto. É a língua mais polissémica da Europa, irregularidade a ter em conta tanto na aprendizagem como na hermenêutica. A redenção dessa polissemia pode, em alguma medida, ser vista na maior maleabilidade da língua, mas a mesma maleabilidade pode ser conseguida numa outra língua, supinamente se for planeada, mediante afixos e outros artifícios sem a irregularidade da polissemia.
O monossilabismo é uma vantagem do Inglês, às vezes resultante de criação de siglas, iniciais, síncopes, apócopes e aféreses, além da substituição total de lexemas mais longos por outros mais curtos, mas é também um ponto fraco da língua, porque, quanto maior é o numero de monossílabos, maior é a tendência para a confusão da homofonia.
Shakespeare contribuiu decisivamente para fazer passar o Inglês do estado de complexo dialetal para o estado de língua organizada. Além de ter admitido no léxico a componente celta, até então diabolizada pela generalidade dos gramáticos (sem ele, não teríamos talvez o verbo to do na língua inglesa), introduziu milhares de palavras do Latim e do Francês, a somar às importadas no tempo do Império Romano e nos quase cncp séculos de domínio normando.
As línguas étnicas vistas como tesouro-escrínio patrimonial da Humanidade, têm igual grau de dignidade, inclusive por serem uma janela para a coleção de valores, princípios, costumes, tradições, atavismos e idiossincrasia da comunidade dos seus falantes nativos, mas também por serem uma janela sobre a visão do mundo exterior tida e mantida por essa comunidade.
O Inglês é visto como uma língua glossocida, mas, pela sua porosidade, ultimamente em relação ao Francês, é também exolexemívora.
Esperanto, língua propedêutica
A dificuldade de aprendizagem do Inglês faz-se sentir particularmente na China, tal como um Inglês ou qualquer outro falante duma língua de alfabeto tem dificuldade em aprender o Chinês. Talvez por isso, é a China o país do mundo mais respeitador das duas recomendações da UNESCO (separadas de décadas) — o Esperanto é lá ensinado em escolas oficiais como língua propedêutica (aparentemente, mais ainda do que o Latim) de utilidade veicular, mais do que em qualquer outro país do mundo (o Brasil é o primeiro país a seguir essas recomendações em termos percentuais).
O Inglês é a língua mais “frankensteiniana” da Europa em termos de irregularidades e transformações exógenas.
Apesar do preconceito ainda não desinstalado contra as línguas planeadas, a subscrição no Parlamento Europeu de uma petição através de boletins individuais dos eurodeputados favoráveis à utilização do Esperanto como língua veicular, a par das já oficialmente reconhecidas, foi de mais de um terço tendo tido resultados surpreendentes, explicáveis por razões diversas, em alguns países: Irlanda (mais de 90%) e Bélgica (mais de 50%). Portugal, talvez por ser um país linguisticamente periférico, que faz fronteira com uma língua entendível em regime de passividade recíproca, teve um resultado de 0%.
Cf. Português é a quinta língua mais falda na internet + Quantas línguas existem no mundo?