«Não se deve subestimar o português quando se fala em diferencial profissional.»
Que o domínio do inglês é fundamental para qualquer pessoa que busca a internacionalização da carreira, não há dúvidas. Mas, num mundo cada vez mais conectado, falar português pode ser um diferencial e tanto. É o que garante Paula Kasparian, diretora de Expansão Internacional da Leão Group Global, empresa especializada em alocação de profissionais nos principais mercados do planeta. «Com tanta gente do Brasil, de Portugal e de outros países da lusofonia emigrando, há uma demanda crescente por pessoas que dominam o português», afirma. Para ela, isso está claro, por exemplo, nos Emirados Árabes, que têm procurado profissionais fluentes na língua de Camões para ocupar cargos em diversas áreas.
Foi esse mercado para falantes em português que levou a Leão Group a abrir uma unidade em Dubai. «Temos sido procurados por empresas brasileiras que estão se estabelecendo nos Emirados Árabes por conta das vantagens fiscais. E sempre há a exigência de que os profissionais que elas querem contratar falem português», ressalta. CEO da Leão Group, Leonardo Leão assinala que há, atualmente, cerca de 10 mil brasileiros vivendo apenas em Dubai, além dos milhares de turistas que transitam por lá todos os anos. «Portanto, é preciso ter falantes em português para atender esse público», emenda ele.
Para Leonardo, não se deve subestimar o português quando se fala em diferencial profissional. «Aprendi isso quando fiz meu mestrado nos Estados Unidos. Na primeira aula, quando me apresentei, pedi desculpas pelo meu inglês, no que a professora me chamou a atenção e ressaltou que, ali, todos falavam inglês e nenhum dos meus colegas seria capaz de conversar comigo na minha língua. Assim, na avaliação dela, eu tinha um importante diferencial, que era falar português», relata. «Naquele dia, aprendi a lição, mas sempre ressalvando que também é preciso dominar o inglês», frisa.
Paula destaca que, de olho em profissionais que falam português e têm perfil globalizado, a Leão Group acaba de inaugurar sua base em Portugal. «Está visível que Portugal está incentivando a vinda desses profissionais. São, principalmente, especialistas nas áreas de saúde, de tecnologia e engenharia, que podem escolher onde querem morar», afirma. Leonardo Leão chama a atenção para o número crescente de mulheres que desejam deixar seus países de origem para experimentar a vida em outras partes do mundo. «Inclusive, são elas que decidem se a família vai ou não mudar de país», complementa.
Português é fundamental
Responsável pela área de Recursos Humanos da Watermelon Tecnologia, Regina Bronstein diz que a unidade da empresa em Portugal prioriza a língua portuguesa na hora da contratação de profissionais. Não por acaso, 60% dos empregados são brasileiros e o restante, portugueses. «Até somos procurados por pessoas de outra nacionalidade, como indianos e ucranianos, que dominam o inglês, mas temos necessidade de quem fala português, pois nossos clientes estão no Brasil – a sede da companhia fica em Campinas, interior de São Paulo – e em Portugal», assinala.
Ela reconhece que não tem sido fácil preencher as vagas abertas. «De janeiro para cá, entrevistei mais de 200 profissionais, sendo metade deles, portugueses, que desejam se conectar com outras culturas», detalha. Ela avança: «O domínio do inglês não é tudo na nossa visão. É preciso ter atitude e competência técnica. E de nada adianta ter o domínio do inglês se não tiver uma mente aberta. Vemos o profissional de hoje como um astronauta, que olha a terra de cima, com toda a sua diversidade”.» A empresa está sempre atrás dessas pessoas, assegura.
A Watermelon nasceu no Brasil em 2013 e desembarcou em Portugal seis anos depois, mas foi a partir de 2023, já com a pandemia do novo coronavírus superada, que ganhou tração em solo luso. Segundo seu fundador, Marcos Barrosa, o crescimento das operações em 2024 ante o ano anterior foi de 89%. «Temos orgulho em ver a Watermelon crescer e se consolidar no mercado europeu, oferecendo oportunidades de trabalho desafiantes e enriquecedoras para profissionais da área tecnológica. O nosso objetivo é continuar a investir em Portugal, trazendo inovação e contribuindo para o desenvolvimento do país», assinala. A companhia se prepara, agora, para entrar no mercado espanhol, o que demandará mais profissionais que falam português.
Mercado dinâmico
CEO da Start! Be Global, Flávio Peron afirma que o mercado de trabalho em Portugal vive um momento dinâmico e estratégico, atraindo talentos estrangeiros, especialmente, brasileiros, movimento impulsionado pela digitalização da economia. «A demanda por profissionais globais, preparados para atuar em contextos multiculturais nunca foi tão alta», sublinha. Segundo ele, as empresas portuguesas têm valorizado profissionais com visão internacional, como domínio de idiomas, competências digitais e capacidade de adaptação.
«Experiência prévia no exterior, inteligência emocional, pensamento analítico e fluidez na comunicação são diferenciais decisivos em processos seletivos», lista Peron. «Estamos falando de talentos que unam excelência técnica e comportamento profissional alinhado às exigências de um mercado cada vez mais conectado com o mundo. E isso vale para grandes corporações, para startups em expansão e para negócios tradicionais que estão se modernizando», acrescenta.
Especialista em recursos humanos, Sara Vargas, co-fundadora e sócia-administradora da Just Vargas, diz que o mercado de trabalho tem passado por grandes transformações e que os bons profissionais já não querem ficar empregados na mesma empresa por muito tempo. Ela ressalta que esse desprendimento, muitas vezes, é confundido com escassez de talentos. «As pessoas não aceitam mais o modelo clássico de trabalho, recusam ambientes tóxicos, querem fazer o que realmente gostam, num mundo globalizado», frisa.
Para ela, como o português é uma das línguas mais faladas do planeta, é natural que empresas estejam dando preferência, em algumas áreas, para aqueles que dominam o idioma. «E a procura por essas pessoas tende a crescer», acredita. «Mas, de novo, independentemente da formação, as pessoas estão priorizando propósito de vida. E há uma série de profissões surgindo em segmentos como saúde, educação e tecnologia da informação (TI). Tudo isso vai exigir profissionais preparados para o novo, para formas não distópicas de viver», sentencia.
Trabalho incluído em 6 de maio de 2025 no Público Brasil.