No início da semana passada o mundo acordou com a triste notícia da morte do Papa Francisco. Rapidamente começaram a surgir por todo o mundo homenagens e votos de condolências pelo falecimento do Bispo de Roma. Dos vários tributos que se prestaram a Jorge Bergoglio (nome de batismo do Papa Francisco), destacam-se as listas de palavras relacionadas com as mensagens que, ao longo do seu pontificado, tentou transmitir. Embora cada um, à sua maneira, recorde as expressões e palavras do Santo Padre que mais lhe tocaram, foram várias a vozes que assinalaram como um dos pontos mais marcantes desta era da Igreja Católica a frase proferida nas últimas jornadas mundiais da juventude, em Lisboa, «a Igreja é lugar para todos, todos, todos». Abrindo, assim, as portas da Igreja Católica a vários grupos que, até então, se sentiam excluídos. Neste sentido, durante esta semana, vários foram aqueles que afirmaram que o termo todos foi a grande herança deixada pelo Papa Francisco. Mas, do ponto de vista linguístico, qual a sua natureza?
A palavra todos, plural de todo, pode pertencer a várias classes de palavras, tudo depende da situação em que é usada. Pode ser classificada como quantificador quando, segundo o Dicionário Infopédia, indica a «totalidade de algo», como, por exemplo, «Toda a gente conhece a Bíblia». Pode também ser um adjetivo, quando utilizado para caraterizar um nome como «completo, inteiro, total» (Infopédia), em frases como «A casa toda foi limpa». Outra classificação que se pode atribuir a esta palavra é a de advérbio, sendo que nestes casos contribui com informação sobre o grau e quantidade. Em situações como «ele andava todo contente», classifica-se todo como um advérbio, já que incide sobre o adjetivo contente.
No entanto, a utilização deste vocábulo é muito comum enquanto nome, sendo, usada em casos que expressam a «totalidade numérica de pessoas ou coisas, em absoluto ou relativamente a um conjunto, omitindo-se o artigo definido, quando seguido de pronome pessoal ou demonstrativo» (Dicionário da Língua Portuguesa da Academia da Ciências de Lisboa - DLPACL), como, por exemplo, «O todo inclui as partes». É ainda comummente utilizado como pronome indefinido nas situações em que substitui um nome, expressando «totalidade de pessoas ou coisas de um dado conjunto» (DLPACL), em casos como «Todos têm direitos iguais».
Deste modo, quando o Papa Francisco afirmou que «a Igreja é um lugar para todos», a palavra todos, nesta frase, assume-se como pronome indefinido, indicando o valor de totalidade das pessoas, ou seja, qualquer um, independentemente do seu género, orientação sexual e experiência de vida, tem espaço entre os crentes do catolicismo. Esperamos que o futuro papa continue este legado e mantenha as portas da igreja abertas a todos.