« (...) Esse sinal de pontuação tem o didático papel de enumerar. Tem o poder de enumerar orações, mensagens, itens. (...)»
Uma das dúvidas que mais recebo é sobre como usar corretamente o ponto e vírgula. Esse sinal de pontuação tem o didático papel de enumerar. Tem o poder de enumerar orações, mensagens, itens. Como exemplo, um trecho forte e bem-educado, representante do valor de um profissional:
«Liderança responsável sempre me inspirou; ter ouvidos atentos para compreender a equipe; saber que o ser humano tem sentimentos; importar-se com o outro para vencer sempre.»
No parágrafo acima, devido à organização, destaca-se «liderança responsável». Com o uso de ponto e vírgula, todos os outros valores citados (compreensão, sentimento, audição) se ligam ao líder responsável. Por causa dessa clareza, a mensagem repassa o comprometimento do profissional, do executivo.
Em uma função mais simples, é possível que o citado sinal separe itens de uma lei, de um decreto, de uma petição:
«Art. 127 - São penalidades disciplinares (Direito Administrativo):
advertência;
suspensão;
III. demissão;
cassação de aposentadoria ou disponibilidade;»
Concisão e clareza
Para haver correção e clareza, vale dedicar-se à reescritura de trechos, pensar em sinônimos e estudar, todos os dias, um tópico de Gramática Normativa.
É preciso ser um falante criterioso, escritor honesto, afeito ao uso educado de expressões, distante de poluidores do discurso (falar sem pensar).
Será mesmo à toa o sucesso de um advogado que escreve com correção, assertividade, precisão? É ele mesmo um ultrapassado por se dedicar a entender o Machado e a aplaudir o Eça e o Guimarães?
Não há enigma: um discurso de muito sucesso não desperdiça termos; um discurso irretocável foi feito e refeito, respeitando o tempo e o espaço que lhe foram dados e (claro!) o interlocutor.
Texto publicado na revista Exame em 31 de agosto de 2021.