O verbo é um elemento central da estrutura frásica do português, uma vez que é através deste que se exprime uma ação, um processo ou um estado dentro de um determinado intervalo temporal. Pertence a uma classe aberta de palavras e é o elemento principal (o núcleo) do grupo verbal, que desempenha a função sintática de predicado. Na atual terminologia do ensino básico e secundário português (Dicionário Terminológico), o verbo surge caraterizado como uma palavra que «flexiona em tempo, modo, pessoa, número, e que funciona como uma unidade sintática».
Do ponto de vista sintático, os verbos organizam-se em três grandes grupos: verbos plenos (também designados de verbos principais); verbos auxiliares e verbos copulativos. De acordo com Anabela Gonçalves e Eduardo Raposo, na Gramática do Português1, o verbo pleno é «o elemento mais importante do sintagma verbal e da oração, na medida em que determina o número de expressões que lhe completam o sentido e que são, por isso, indispensáveis à boa formação semântica e sintática da oração» (pág. 1156); ou seja, este tipo de verbo é o que determina numa frase a ocorrência de um sujeito e de um ou vários complementos. Este tipo de verbos divide-se em várias subclasses, tendo em conta o seu contexto de ocorrência. Segundo o Dicionário Terminológico, os verbos plenos organizam-se em verbos intransitivos quando não selecionam nenhum complemento (p. ex.: O Miguel desmaiou), em verbos transitivos diretos quando selecionam um complemento com a função sintática de complemento direto (p. ex.: A Ana fechou a porta), em verbos transitivos indiretos quando o complemento selecionado pelo verbo tem a função sintática de complemento indireto ou complemento oblíquo (p. ex.: A prenda agradou à Ana / A Margarida vai a Paris), em verbos transitivos diretos e indiretos quando são selecionados dois complementos, um com a função de complemento direto e outro com a função de complemento indireto ou complemento oblíquo (p. ex.: A Teresa deu um livro à professora / O Pedro pôs os livros na estante) e em verbos transitivos-predicativos quando são selecionados um complemento direto e um predicativo do complemento direto (p. ex.: A Teresa acha o Pedro feio).
Já o verbo auxiliar consiste no elemento que se combina com o verbo pleno, contribuindo com informação nos domínios semânticos do tempo, da modalidade e do aspeto. Estes verbos, ao contrário dos plenos, não são responsáveis por determinar outros elementos da frase, sendo, nomeadamente, usados para a formação de tempos compostos (p. ex.: A Maria tem visitado o Pedro.) ou frases passivas (p. ex.: Os Lusíadas são lidos pelo Bernardo.). Todavia, Eduardo Raposo alerta na Gramática do Português2 que os valores de tempo, modo e aspeto «não são exclusivos dos verbos auxiliares (…). Todos os verbos plenos veiculam este valor na sua morfologia verbal» (pág. 1222), o que indica que os verbos auxiliares funcionam como uma extensão e enriquecimento da flexão verbal, permitindo a expressão de valores e de gradações que não poderiam ser veiculados apenas de maneira económica.
No que concerne aos verbos copulativos, o que os define é a sua combinação com um constituinte com a função de predicativo do sujeito. Regra geral, as gramáticas do português não apresentam critérios explícitos para caracterizar este tipo de verbos, na medida em que tal como é assinalado na Gramática do Português3, «a constituição de uma classe fechada, definitiva, de verbos copulativos não é tarefa fácil, porque há verbos plenos (que funcionam como predicadores) que assumem, em certas construções, propriedades que os aproximam dos verbos copulativos mais típicos, que são ser e estar» (pág. 1297). Por isso, esta gramática identifica como verbos copulativos: ser, estar, ficar, andar, continuar, parecer, revelar-se e tornar-se. As frases copulativas têm tipicamente um valor estativo, uma vez que descrevem propriedades que caraterizam o sujeito ou estados em que ele se encontra, por vezes perspetivados como resultado de uma mudança a partir do estado anterior.
Resumindo, em Portugal, a atual terminologia do ensino básico e secundário distingue os verbos da seguinte forma: verbo pleno (que determina a seleção de sujeito, predicativos e complementos, assim como a sua natureza categorial), verbo auxiliar (constituinte que precede o verbo pleno ou verbo copulativo formando com este um complexo verbal) e verbo copulativo (que estabelece a ligação entre o sujeito e o predicativo).
Referências Bibliográficas:
1Gonçalves, A. & Raposo, E. (2013), Verbo e sintagma verbal. In Raposo et al. (2013). Gramática do Português. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 1155-1220.
2Raposo, E. (2012), Verbos auxiliares. In Raposo et al. (2013). Gramática do Português. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 1221-1284.
3Raposo, E. (2013), Orações copulativas e predicações secundárias. In Raposo et al. (2013). Gramática do Português. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 1285-1355