« (...) Uma coisa é a pronúncia de cada região, outra, a pronúncia incorrecta dos que são considerados como exemplo no que diz respeito à pronúncia-padrão, nomeadamente os profissionais da comunicação. (...)»
A pronúncia é, naturalmente, um campo por excelência em que se assume orgulhosamente o falar de cada região. E ainda bem que assim é! Por exemplo, quem chega ao Porto encanta-se com a abertura da vogal “a” quando seguida de consoante nasal, como em “as Antas”, quem chega ao Alentejo delicia-se com a suavidade da monotongação do ditongo “ei” em “ê”, como em “azinheira”.
Mas uma coisa é a pronúncia de cada região, outra, a pronúncia incorrecta dos que são considerados como exemplo no que diz respeito à pronúncia-padrão, nomeadamente os profissionais da comunicação.
• Líder é um exemplo de palavra que ouvimos por vezes mal pronunciada no plural, com o emudecimento ou quase desaparecimento do “e”, por influência do inglês “leaders". Ora em português, no singular, o “e” da última sílaba da palavra líder é aberto, como em repórter ou cadáver e, tal como nestas palavras, no plural deverá manter-se a abertura da vogal: líderes, repórteres e cadáveres. A sílaba tónica é a acentuada, mas a penúltima sílaba (-de-, -te- e -ve-) é aberta.
• Carácter é também uma palavra acerca da qual por vezes há dúvidas. Ora carácter só tem esta forma acentuada, quer signifique marca, sinal gravado ou escrito, letras escritas, tipos de imprensa, quer signifique maneira habitual de reagir, própria de cada indivíduo, índole, temperamento. No plural, a palavra também é só uma, desta vez sem acento — caracteres —, para designar quer os caracteres de imprensa quer os das pessoas.
• Uma outra palavra muitas vezes indevidamente acentuada (quer oralmente quer por escrito) é a palavra rubrica, que se escreve sempre assim mesmo, sem acento (a sílaba tónica é -bri-), quer designe o assunto, a indicação, a referência (por exemplo, as rubricas de um programa escolar), quer refira o almagre com que os carpinteiros e serralheiros marcam as linhas na madeira, para ser serrada, quer, ainda, a assinatura abreviada. A palavra rubrica provém de rubro (vermelho). Designava a terra vermelha que antigamente servia para estancar o sangue, mas também a nota, geralmente em letras vermelhas, colocada no texto do breviário ou missal, para indicar o modo de dizer ou celebrar os ofícios e, ainda, os títulos dos capítulos dos livros de direito civil e canónico, porque eram antigamente impressos em vermelho.
• Consideremos, ainda, os substantivos cuja vogal tónica é um “o” fechado, como por exemplo acordo, molho, tijolo. Há alguns que mantêm o “o” fechado no plural, há outros em que essa vogal passa a ser aberta. As razões desta diferença de abertura da vogal na forma do singular e na do plural têm que ver com a etimologia e, nalguns casos, com um processo de analogia com outras palavras.
Ficam aqui registadas as palavras mais frequentemente usadas exemplificativas de uma e outra situação.
• Mantêm o “o” fechado no plural, por exemplo, os substantivos acordo, adorno, bolo, cachorro, coco, consolo, dorso, encosto, ferrolho, molho, namoro, pescoço, polvo, reboco, rosto, sopro, suborno.
• São exemplo de palavras em que no plural o “o” passa a aberto os substantivos abrolho, almoço, caroço, contorno, coro, corvo, destroço, esforço, fogo, forno, imposto, osso, poço, porto, reforço, socorro, tijolo, tordo, tremoço, troco.
E com gosto assim se tratou esta rubrica sem rubrica.
Artigo da autoria da professora Maria Regina Rocha, transcrito, com a devida vénia, do Diário do Alentejo do dia 11 de Abril de 2008, na coluna A Vez… ao Português, do dia 11 de Abril de 2008.