O que escrevo a seguir, como observação à nota do nosso correspondente acima indicado, é uma opinião pessoal. Não compromete a Provedoria da Língua Portuguesa, da SLP.
A palavra líder utilizada indiscriminadamente pode empobrecer a língua: por exemplo, usada: como primeiro, em `o líder da lista´; como chefe, em `o líder do bando´; como cabecilha, em o `líder dos revoltosos´; como comandante, em `o líder dos combatentes´; como coordenador, em `o líder da comissão´, etc. De facto/fato, em todas estas utilizações o termo vernáculo que líder substituiu seria de aplicação mais adequada (para que houvesse propriedade nas palavras escolhidas, uma qualidade que deve ter um discurso, e de que Vieira nos deu exemplos clássicos).
A utilização `generalizada´ da palavra líder representa uma tendência para o `simplificacionismo´; neste caso redução do vocabulário necessário na comunicação.
A verdade, porém, é que os termos líder, liderança, liderar obedecem na sua formação à índole da língua, já entraram nos hábitos linguísticos e estão dicionarizados em obras idóneas/idôneas: Projecto da Sociedade da Língua Portuguesa, da autoria de José Pedro Machado; Dicionário Universal, da Texto Editora, 9.ª edição; Dicionário Editora, 8.ª edição; além do Dicionário Aurélio e do Vocabulário da Academia Brasileira de Letras. Registei-os já, também, no meu trabalho.
Não adianta condenar agora a sua utilização, porque estão no léxico.
Há mesmo casos para os quais é perfeita a sua propriedade. Por exemplo, justamente a de líder parlamentar, expressão já consagrada e utilizada por J.C.B. na sua resposta de 2 000-DEZ-13. Esse líder pode não ser só (ou não ser mesmo) propriamente um chefe ou um guia; mas alguém que representa uma vontade colectiva/coletiva; alguém que assume o encargo de falar por todos, quando necessário; alguém com a missão, quiçá espinhosa, de defender oralmente uma posição conveniente para toda a bancada, …que até pode nem ser exactamente/exatamente a sua… Assim, líder terá aqui também outros sentidos, como representante da bancada, orador principal, etc.
E dou outro exemplo: repare-se que, em `líder do campeonato´, igualmente é possível atribuir-se um sentido mais amplo a líder do que à palavra primeiro. Primeiro pode ser aquele que acidentalmente vai uns pontos à frente, na tabela da classificação (e sabemos que ser-se primeiro tem pouco significado no princípio do campeonato). Enquanto líder deixa no espírito a ideia/idéia de `esse primeiro´ ser o melhor, o que tem, numa dada altura, boas hipóteses de vir a ser o campeão.
Em resumo, líder (repito: palavra bem formada), se mal aplicada, empobrece a língua; mas utilizada, com discernimento e sem preconceitos contra a sua proveniência, pode até enriquecer a comunicação.
O povo diz: «Nem tanto ao mar, nem tanto à terra».
Devemos usar termos vernáculos quanto possível e respeitar a índole da língua; mas não enfermar de purismo excessivo ou de xenofobia.
Ao seu dispor.