« (...) A insistência na pronúncia "acórdos", com "o" aberto... (...)»
Visivelmente tensa, a secretária de Estado do Tesouro foi ao parlamento prestar esclarecimentos sobre os malfadados swaps e os rombos por eles abertos nos pouco robustos bolsos dos tolos dos portugueses. Não exibiu o aguardado relatório sobre o assunto, mas confirmou que nos sete anos em que foi directora financeira da Refer promoveu contratos swaps. Fiquemos esclarecidos e descansados: tratou-se de swaps normais, não especulativos, exóticos mas não tóxicos. Para quem ainda tenha paciência para tentar perceber estas embrulhadas: os swaps ditos "normais" (isto é, não especulativos e não tóxicos, embora com possibilidade de serem exóticos) são também plain vanilla, o que calculo que signifique que não têm sabor, nem mesmo o excitante sabor do perigo.
Para o país, o mais esclarecedor na intervenção da secretária de Estado foi a insistência com que se referiu à palavra acordos, que ela pronuncia "acórdos", com "o" aberto, o mesmo "o" aberto de «eu acordo» e «tu acordas».
Embora possa ser uma expert em swaps (normais, especulativos, exóticos e tóxicos), a secretária de Estado não deve ter grandes noções de ortoépia, a parte da gramática normativa que estabelece as regras definidoras da pronúncia das palavras.
No plural, as palavras paroxítonas (ou graves) com "o" fechado conservam o "o" fechado: abortos, bolos, ferrolhos, namoros, piolhos, pilotos, rostos, subornos. A palavra acordos não constitui excepção. O mesmo para tolo ou tola.
crónica do autor, transcrita do jornal "i".