Carácter (com acento agudo, no singular) e caracteres ( sem acento, mas com a sílaba tónica na penúltima sílaba, sendo por isso palavra grave ou paroxítona). É assim em qualquer dos seus dois significados: 1) «sinal gráfico ou tipo de imprensa»; 2) «as qualidades psicológicas ou morais de uma pessoa».
N.E. – Sobre o plural de carácter, mas também de cadáver e de uréter, transcrevemos o comentário de I. Xavier Fernandes, em Questões de Língua Pátria, coisas que as gramáticas não dizem e outras contra o que elas dizem (ed. da revista Ocidente, Lisboa, 1923):
«Carácter, derivado do grego karakter, de kharássein, karássô, gravar, imprimir (...) e [em qualquer das significações] o seu plural é caracteres, grave ou paroxítono, mesmo quando se refere àquilo que que distingue moralmente uma pessoa de outra: natureza, costumes, sentimentos, etc.
«Já Fr. Domingos Vieira, o grande dicionarista e Mestre da Língua, dizia: "entre os homens há uma grande diversidade de caracteres".
«Porque é que, por exemplo, cadáver faz no plural cadáveres e carácter faz caracteres e não 'caráteres'?
«[Foi o Latim] que nos deu o vocábulo cadáver (...) e em grande número de nomes latinos imparissílabos da 3.ª declinação, a última vogal do nominativo do singular é breve, ainda mesmo que, feito o incremento da flexão nos diferentes casos, essa vogal se torne penúltima. A tais normas corresponde em Português a acentuação na antepenúltima sílaba, no singular e no plural.
«Sendo tomada do nominativo, acontece, porém, que a palavra portuguesa é paroxítona no singular e proparoxítona no plural, como em Latim.
«Foi o que sucedeu a cadáver, que faz, e muito bem, cadáveres no plural.
«Como excepção e exemplo de transposição do acento, temos precisamente o vocábulo carácter, que conserva no singular a acentuação do nominativo latino, mantendo igualmente a acentuação latina no plural, pois os latinos escreviam e diziam charactéres, com o penúltimo e longo, por corresponde ao eta ou e também longo do grego karaktér.
«Portanto, carácter faz, e muito bem, /caractéres/no plural.
«´Uretér' ouve-se muito, mas é pronúncia que não se justifica. Deve-se dizer /uréter/ e /uretéres/ no plural.
«A razão por que a acentuação tónica, na passagem para o plural, se deslocou do primeiro para o segundo e é a mesma apresentada relativamente ao vocábulo carácter, cujo plural é sempre /caractéres/.
«Ramirez Galvão e João Ribeiro não aprovam a prosódia uréter, pelo que se deduz do Vocabulário Etimológico daquele autor e do que estoutro professor e escreveu no número 21 da Revista da Língua Portuguesa.
«A verdade, porém, é que Cândido de Figueiredo, nas páginas 225, 226, 247 e 248 do seu livro Vícios da Linguagem Médica, justifica com abundância de argumentos e legítima pronúncia /uréter/.»