1. A palavra até desencadeou um movimento literário e filosófico que a erigia em símbolo da alma e da expressão lusas.* Falamos, claro, de saudade, que o génio lexical português (ou galego-português) teria sabido verbalizar para redenção da Humanidade, de acordo com o Saudosismo, cuja figura tutelar foi o poeta Teixeira de Pascoais (1877-1952). Sobre o tema, O nosso idioma disponibiliza um texto publicado no quinzenário português Jornal de Letras pelo escritor e professor universitário Onésimo Teotónio Almeida, que nos inicia nos (não) mistérios desse vocábulo tão carregado de conotações e referências.
* Na imagem, a capa de um livro de Eduardo Lourenço que marcou a reflexão sobre a cultura do Portugal dos anos 70 do século passado: O Labirinto da Saudade (Edições Dom Quixote, 1.ª edição, 1978).
Cf. «E um verso em branco à espera de futuro»
2. O mesmo idioma e as memórias de um império colonial são referências identitárias da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), criada há 20 anos. Contudo, paradoxalmente, a língua de entendimento parece também facilitar a desinteligência, como sugere o impacto mediático da eleição do novo secretariado executivo da CPLP. Tal é o pano de fundo de um artigo do ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, publicado no semanário Expresso do dia 26/03/2016. Fica desde esta data disponibilizado igualmente na rubrica Lusofonias e nele se realça o fator linguístico da CPLP, a importância do «reforço do Instituto Internacional da Língua Portuguesa e a ênfase na produção de conteúdos digitais [do português]».
3. No Pelourinho, um apontamento da professora Isabel Casanova deteta um erro que pode bem anunciar uma mudança: trata-se da perda da preposição de em usos como «ter a certeza de que...» e «necessitar de...».
4. Argumenta-se contra e a favor do Acordo Ortográfico de 1990, muitas vezes esgrimindo críticas e justificações sobre qualquer grafia no contexto dessa discussão. E se há palavras cuja grafia é instável não por malefício do novo acordo, mas por uma delimitação oscilante, a custo enquadrada nos grandes princípios de hifenização existentes desde, pelo menos, a reforma ortográfica de 1911? Será esta a situação das formas «boa nova» e boa-nova: qual a correta? – pergunta-se no consultório, cuja atualização inclui ainda um outro caso ortográfico, só que muito mais pacífico – o de semissoberano, palavra sobre a qual não deixam dúvidas nem a ortografia do passado nem a do presente. Finalmente, como aportuguesar lingerie? «Roupa interior» não serve?
5. O programa de rádio Língua de Todos de sexta-feira, 1 de abril (às 13h15* na RDP África; repete no sábado, 2 de abril, depois do noticiário das 9h00*), foca a polémica à volta da Base Nacional Comum Curricular, que o Brasil quer lançar no seu sistema de ensino e que acarreta que dos programas seja retirado o estudo das obras de escritores e poetas clássicos Portugal. No Páginas de Português de domingo, 3 de abril (pelas 11h30*, na Antena 2), está em foco a conferência internacional Ensino e Aprendizagem do Português como Língua Estrangeira: o percurso na China, que se realiza em Macau nos dias 8 e 9 de abril de 2016.
* Hora oficial de Portugal continental.
6. No fecho de mais uma semana do serviço gracioso e sem fins comerciais que aqui se presta à volta da língua portuguesa, em toda a sua diversidade histórica e geográfica, seja-nos permitido voltar ao apelo contido em SOS Ciberdúvidas. Pela generosidade do donativo, os nossos agradecimentos antecipados a quantos nos consultam por esse mundo fora.