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Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

O adjetivo marafado (no sentido de «danado, zangado, enraivecido, irritado, terrível, levado da breca, difícil de aturar») é bem conhecido em Portugal como palavra indiscutivelmente típica do Algarve, mas estão ainda por conhecer e difundir muitos dos regionalismos que distinguem o conjunto de dialetos desta região. Por exemplo, o que quererá dizer xaringar? O melhor será ver o vídeo a que dá acesso a imagem, a respeito de um dicionário do falar algarvio elaborado por um grupo de estudantes da Universidade do Algarve.

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A celebração do Dia da Língua Portuguesa em 5 de maio p.p. foi assinalada de diferentes formas em Portugal pela comunicação social, geralmente em tom muito sério. Mas, no programa da manhã da Rádio Comercial, o registo foi outro: à volta dos maus-tratos que a língua portuguesa sofre quotidianamente – e em particular no espaço mediático –, o locutor e apresentador de televisão Vasco Palmeirim interpretou, com a banda D.A.M.A, uma nova e divertida versão da canção Às Vezes, um dos êxitos deste grupo. Escutemo-los a todos no vídeo que se segue, disponível no Pelourinho:

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O Brasil, além de ter uma grande tradição de aconselhamento linguístico nos media, produz grande quantidade de materiais de apoio a quem, em contexto educativo formal ou informal, queira usar a língua com correção. Uma consulta ao Youtube atesta tal facto: a qualidade dos tutoriais pode revelar-se desigual, mas a sua profusão é assinalável.

Em Portugal, a disponibilidade deste tipo de recursos tem tido diferente dimensão, mas começam a contar-se vários exemplos, entre eles, os vídeos produzidos pelos Cibercursos da Língua Portuguesa, em associação com a Ciberescola, e dirigidos a estudantes de Português (língua não materna e estrangeira). Mas, para outro tipo de público, assinalamos a iniciativa da Escola Superior de Educação de Lisboa que acaba de lançar um tutorial multimédia sobre uso da vírgula, no âmbito do projeto Scriptorium – Centro de Escrita Académica em Português, com financiamento da Fundação para a Ciência e Tecnologia. Aqui fica o respetivo vídeo:

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Comemora-se a 5 de maio o Dia da Língua Portuguesa e da Cultura, assinalado em vários eventos, um pouco por todo o mundo (lusófono e não só). Alguns deles [fonte: portal da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e blogue do Instituto Internacional da Língua Portuguesa]:

– em Portugal, a conferência "A Língua Portuguesa na Ciência e na Inovação", na sede da CPLP, em Lisboa, e a V Bienal das Culturas Lusófonas, que decorre até 31 de maio, com apoio da Câmara Municipal de Odivelas e o alto patrocínio da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa e da Fundação Portugal-África (mais informação aqui);

– na França, o conjunto de conferências e oficinas que se realizam neste dia na Universidade da Sorbonne Nouvelle (Paris), sob o título "Contribuição da língua portuguesa para a construção de uma identidade comunitária" (ver programa aqui);

– em Timor-Leste, a Semana da Língua Portuguesa, entre 4 e 8 de maio, no Parlamento Nacional.

Para uma visão de conjunto das instituições que, espalhadas pelo mundo, se juntam a estas comemorações, consultar a página que lhes dedica o Camões-Instituto da Cooperação e da Língua.

Chamamos também a atenção para poemas e outros textos literários em louvor da língua hoje de oito povos disponibilizados na rubrica Antologia, de autores lusófonos de todos os tempos. Por exemplo, estes, escritos especialmente para o Ciberdúvidas:

Uma língua que aceita brincadeiras

Perguntas à língua portuguesa

A Nossa Língua Portuguesa

Uma língua que não se defende, morre

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«Consultei dois dicionários e não encontrei a palavra "marisqueio", que costumo usar com o significado de `atividade de captura ou apanha de marisco´. Também não encontrei uma palavra que a pudesse substituir (por exemplo, “mariscagem”), pelo que peço a vossa ajuda para a encontrar.» A resposta a esta dúvida do consulente – que fica em linha desde esta data no consultório* – remete para uma questão mais geral: que critérios devem ser tidos em conta na validação de termos, como estes, de uso específico numa determinada área, mas sem registo dicionarístico, sequer em qualquer vocabulário ortográfico? E se esse uso não segue, propriamente, o que a norma estabelece como regra?

* A grafia do antropónimo Teo, a história das palavras usina e companheiro e uma questão sintática à volta do verbo reembolsar completam a presente atualização do consultório.

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A tragédia humana1 resultante do forte sismo registado no Nepal, em 25 de abril último, atingiu especialmente a capital (na imagem, o que resta da torre de Dharahara), cujo nome anda mencionado pelos meios de comunicação de Portugal tanto sob a forma anglicizada, Kathmandu, como sem o h (Katmandu) – quando há muito tempo que existe grafia portuguesa. Trata-se de Catmandu2, conforme já registava Rebelo Gonçalves no seu Vocabulário da Língua Portuguesa, publicado em 1966. Este aportuguesamento é pois o recomendado, como o faz, também, o Código de Redação Interinstitucional para uso do português no quadro da União Europeia.3

1  Tragédia... humana e ajuda... humanitária. Sobre o (mau) uso destas expressões, recorrente nos media portugueses, cf. o que aqui se recordava sobre a diferença entre os adjetivos humanitário e humano. Uma vez mais: Como é que uma tragédia pode ser humanitária?.

2  Catmandu é topónimo que terá origem no nome do templo Kasthamandap, nome atribuível ao sânscrito e analisável em dois elementos: kaasth, «madeira», e mandap, «refúgio abrigado» (fonte: artigo da Wikipédia em francês).

3  Quanto ao uso de C, e não K, na grafia Catmandu, lembre-se que, para o português de Portugal e do Brasil, se mantém a regra anterior ao novo Acordo Ortográfico: as letras K, Y e W usam-se apenas 1) em antropónimos originários de outras línguas e seus derivados (Byron, byroniano; Taylor, tayloriano, etc.), 2) em topónimos de outras línguas e seus derivados (Kwanza, Kuwait, kuwaitiano, etc.) e 3) em siglas, símbolos e em palavras adotadas como unidades de curso internacional (TWA, KLM, W [oeste], etc.). Nos países africanos, nomeadamente Angola, tem-se alargado esta disposição às palavras originárias das suas línguas nacionais. Daí em Angola se escrever, por exemplo, kimbundu, e em Portugal e no Brasil se escrever quimbundo. Acresce ainda o facto de nos aportuguesamentos de nomes e palavras estrangeiras com a letra K inicial a norma recomendar sempre a feição ortográfica tradicional do português. É o caso de Catmandu. Ou de Dacar,  ou de Cazaquistão, etc.

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As comemorações do 25 de Abril de 1974, data de grande significado histórico em Portugal e nas suas então colónias em África, coincidem no presente ano com as dos 40 anos das respetivas independências* e a afirmação, nesses países, do português como idioma oficial comum, em toda a sua diversidade e caraterísticas próprias. Diversas iniciativas assinalam as efemérides, de que salientamos dois exemplos:

– a realização em Benguela, entre 7 e 9 de maio p. f., do Colóquio Internacional das Línguas Nacionais, uma iniciativa do Instituto Superior Politécnico Jean Piaget de Benguela, que, além de ser o primeiro evento em Angola sobre a normalização das línguas africanas nacionais, também pretende marcar a comemoração do 40.º aniversário da sua independência;

– o Festival Jovem da Lusofonia, que decorre em Coimbra entre 30 de abril e 1 de maio, com o objetivo de promover a música, as danças e a gastronomia dos países africanos de língua oficial portuguesa.

E fica a sugestão de (re)leitura dos seguintes textos em arquivo no Ciberdúvidas, assinalando, de algum modo, o que o 25 de Abril trouxe para a língua portuguesa:

O 25 de Abril no léxico português

Palavras do 25 de Abril (1974-2014)

Nos 30 anos do 25 de Abril

Língua portuiguesa, recurso fabuloso

Oito séculos, oito palavras, oito países

E sobre a emergência das variedades africanas do português:

A norma do português em África e na Ásia

Português, língua africana

Português, língua de convívio

Que português usar: o europeu ou do Brasil?

A língua portuguesa em Angola: língua materna vs. língua madrasta. Uma proposta de paz

E, ainda, estes outros contributos: 

Uma língua e diferentes culturas

Uma língua que aceita brincadeiras

Perguntas à lingua portuguesa

Língua portuguesa, cartão de identidade dos moçambicanos

A nossa língua portuguesa

 

* A exceção é a República da Guiné-Bissau, declarada independente, unilateralmente, em 1973, ainda em período da guerra colonial.

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De burro – um derivado de burrico, conforme o Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa de José Pedro Machado –, passámos a ter burricada, burrical, burriqueiro e burriquete. E – foi a dúvida que nos fez chegar o consulente Rogério Monteiro, do Porto – qual poderá ser a explicação de se ter dado o nome do também chamado asno ou jumento ao termo tijolo burro*? A resposta, excelentemente fundamentada, fica disponível na rubrica O Nosso Idioma, com a assinatura do latinista nosso consultor Gonçalo Neves.

* «Chama-se tijolo burro a um tipo de tijolo maciço, de elevada resistência mecânica, com um volume de argila cozida superior a 85%, que normalmente apresenta medidas padronizadas (22 x 11 x 7 cm) e é utilizado sobretudo em trabalhos de alvenaria à vista (pilares, arcos de verga de portas e janelas, chaminés, churrasqueiras, etc.), onde pode ser disposto de diversas formas, dando origem a vários tipos de aparelho» (Gonçalo Neves).

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Confrontamo-nos diariamente com dúvidas sobre a escrita de palavras, especialmente os profissionais da comunicação social. No caso português, a verdade é que, ao alcance de todos, surgiram nos últimos anos diversos instrumentos de consulta, quer em papel, quer em formato eletrónico e em linha, geralmente motivados pela aplicação do novo Acordo Ortográfico*. A «total insegurança ortográfica» e «os erros de português frequentes em jornais e televisões» que muitos lhe atribuem diretamente – vide o que nesse ponto se refere na moção aprovada pelo fórum-colóquio Pela Língua Portuguesa, diga NÃO ao ‘Acordo Ortográfico’ de 1990!, realizado na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa em 14 de abril p. p. (aqui noticiado)** – têm, pois, que ver, muito mais, com um generalizado descuido no bom uso do idioma nacional nos meios de comunicação portugueses. Basta ler e ouvir os recorrentes protestos de leitores e telespectadores nas colunas e nos espaços dos respetivos provedores. A começar nos reparos persistentes de quem vem ocupando o cargo no jornal mais ativamente discordante da adoção do Acordo Ortográfico em Portugal – onde, por isso mesmo, nem sequer se pode alegar, como noutros jornais, que esses erros decorram da má aplicação das novas regras ortográficas.

Alguns desses recursos de consulta rápida e cómoda (além do Ciberdúvidas, naturalmente):

– o Vocabulário Comum da Língua Portuguesa, do Instituto Internacional da Língua Portuguesa, o qual abrange os vocábulos usados em Portugal e noutros países de língua portuguesa, bem como integra os diversos vocabulários nacionais já disponíveis;

– o Vocabulário Ortográfico do Português, alojado no Portal da Língua Portuguesa;

– para o público brasileiro, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras.

** Ler o texto "Adversários do Acordo Ortográfico reclamam referendo", saído neste dia no jornal Público (disponível também na rubrica Acordo Ortográfico).

** Em Portugal, facto continua a escrever-se com c, bem pronunciado e audível, ao contrário do que se sugere na formulação de certas críticas ao Acordo Ortográfico, agravando eventuais confusões, como aqui e aqui se assinalou anteriormente.

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O português compreende distintas variedades nacionais, cada qual com as suas tendências, mas nota-se grande convivência no quadrante literário: autores portugueses e angolanos vivem e escrevem no Brasil, do qual, por sua vez, saem escritores em visita por Portugal, Angola e outros países lusófonos. Terá todo este intercâmbio repercussão na língua portuguesa literária? Parece que sim, pelo menos, no caso da jornalista e escritora portuguesa Alexandra Lucas Coelho, que, em entrevista à revista brasileira Língua Portuguesa, a propósito do encontro Minha Pátria, Minha Língua (iniciativa já aqui noticiada), equaciona a possibilidade de um novo português literário, menos constrangido pelas fronteiras nacionais. E, já lhe tendo acontecido empregar nos seus livros o brasileirismo ônibus, em lugar de autocarro, palavra característica de Portugal, considera: «Há discursos que tentam nos reduzir, mas a vida é expansão. Entre Porto Alegre e Manaus há tantas possibilidades, digressões da língua portuguesa... Porque vou escrever autocarro se estou no Rio de Janeiro escrevendo sobre esse contexto?»