1. Depois do «caos "humanitário"» e da «tragédia "humanitária"», o adjetivo humanitário conhece nova e discutibilíssima colocação, nas notícias sobre o caso do luso-angolano Luaty Beirão, na sequência da sua detenção e da de outros 14 ativistas políticos, acusados pelo governo de Angola de conspiração para um golpe de Estado. «Greve "humanitária" e de justiça» é como se classifica este tipo de protesto.
«O rapper e ativista angolano Luaty Beirão, internado sob detenção numa clínica de Luanda, terminou a greve de fome de protesto, mas avisou que não vai desistir de lutar pelo fim da “greve humanitária e de Justiça” em Angola» (ZAP, 27/10/2015).
«O ativista angolano Luaty Beirão, internado sob detenção numa clínica de Luanda, terminou hoje a greve de fome de protesto, mas avisou que não vai desistir de lutar pelo fim da “greve humanitária e de Justiça” em Angola» (Observador, 27/10/2015).
«Esta é uma "greve humanitária e de justiça”, declarou ao 'Público' a mulher de Luaty, Mónica Almeida. O activista cumpre esta terça-feira o 30.º dia sem ingerir alimentos» (Público, 20/10/2015).
Depreende-se a intenção da afirmação recolhida pela agência de notícias Lusa, mas usar o adjetivo humanitário, tal como foi textualmente reproduzido pela generalidade da imprensa portuguesa, é um absoluto contrassenso: desde quando uma forma de luta tão extrema como é (um)a greve de fome pode envolver um sentido dessa natureza («em prol da humanidade»), se, independentemente do seu objetivo concreto, no limite, ela atenta contra a vida de quem a ele recorre?!...
2. No consultório, comentam-se o significado do verbo ver quando associado à preposição de, as regências de assestar e a classificação de grupo como nome coletivo. Na rubrica O Nosso Idioma, divulga-se a entrevista que etnolinguista Yeda Pessoa de Castro concedeu à publicação brasileira Revista de História da Biblioteca Nacional, a propósito do contributo das línguas bantas para a formação do português do Brasil.
3. O Língua de Todos de sexta-feira, 30 de outubro (às 13h15*, na RDP África; com repetição no sábado, 34 de outubro, depois do noticiário das 9h00*), dá relevo a uma conversa com Margarida Santos, do Ministério da Educação de Cabo Verde, sobre a introdução do Acordo Ortográfico neste país, onde as novas regras da escrita começaram a ser aplicadas em todas as escolas a partir setembro de 2015. Nas Páginas de Português de domingo, 1 de novembro (às 17h00*, na Antena 2), entrevista-se Fernando Pinto do Amaral sobre a VIII Conferência Internacional do Plano Nacional de Leitura, que decorre entre 5 e 6 de novembro, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
4. Por fim, permita-se-nos reiterar o apelo SOS Ciberdúvidas. As mudanças por que o Ciberdúvidas passou nos últimos meses contribuíram com certeza para uma melhoria do serviço que aqui se presta, sem fins lucrativos nem comerciais, em prol do melhor conhecimento e domínio do idioma dos oito países de língua oficial portuguesa. Ganhos importantes, sem dúvida, mas sem a resposta, ainda, às consabidas dificuldades da sua manutenção. Manter o Ciberdúvidas, com a periodicidade e a qualidade que faz dele um projeto sem paralelo no universo lusófono, não dispensa, por isso, a generosidade de quantos o consultam regularmente por esse mundo fora. Desde já, os nossos agradecimentos.
* Hora oficial de Portugal continental.