1. Celebra-se a 24 de junho o dia de São João, padroeiro popular e um dos três santos que se comemoram no mês de junho, num quadro que associa manifestações religiosas e profanas. Em cidades como o Porto, a festa, que decorre na noite de 23, é pontuada pelos balões de ar quente, pelos martelinhos, e, claro, pela sardinha assada a pingar na broa. Este ano, porém, aconteceu algo imemorável: os festejos foram cancelados devido às medidas de combate à covid-19 (ver notícias aqui e aqui). O tradicional fogo de artifício foi impedido, as vendas ambulantes proibidas, os espetáculos de animação suspensos, os arraiais públicos interditos e a Ponte D. Luís fechada à circulação. Este é um dia S. João menos festivo e alegre, mas que se pretende bem mais seguro e promissor de dias mais estáveis.
Cf. Algumas respostas do Ciberdúvidas relacionadas com o tema: «Nos santos populares (en)cante com a poesia popular», «O provérbio «a descer todos os santos ajudam», «São João», «Chuva de S. João».
2. Em Portugal, a 24 de junho, celebra-se também o Dia Nacional do Cigano, uma minoria que é ainda mantida à parte em muitas situações e cuja designação continua a estar associada a uma forte carga pejorativa. Numa altura em que as atenções se mobilizam perante casos de discriminação racial e étnica será importante que também as minorias sejam recordadas, o que se justifica mais ainda se tivermos em consideração o recentemente divulgado relatório da Amnistia Internacional relativo à situação vivida durante a pandemia em 12 países europeus, que denuncia a existência de atitudes discriminatórias e de preconceito relativamente às minorias étnicas e grupos marginalizados por parte das polícias. No relatório, fala-se de um «padrão perturbador de preconceito racial», que as regras impostas pela pandemia vieram desvelar.
Esta é também uma oportunidade de recordar algumas respostas sobre questões lexicais relacionadas com este domínio: «Calão/jargão», «Vocabulário de origem romani no português», «O plural de rom (=cigano)», «Qual a origem do termo ramona?», «Dicionário Houaiss sob acusação de linguagem preconceituosa e discriminatória» e «Ciganos: parte da nossa história e do nosso futuro».
3. «Marcha atrás» é a metáfora que descreve as decisões tomadas pelo Governo português no sentido de tentar controlar o aumento dos contágios verificado na zona metropolitana de Lisboa. Por essa razão, 19 frequesias permanecerão em situação de calamidade, coimas serão aplicadas a quem desrespeitar o número máximos de pessoas em proximidade e o comércio volta a ter horários limitados. O mesmo retrocesso está a ocorrer em países um pouco por todo o mundo (como na Alemanha, Coreia do Sul ou China).
4. A crise pandémica continua, assim, o seu percurso que, do ponto de vista linguístico, o Ciberdúvidas continua a acompanhar introduzindo no seu glossário A covid-19 na língua as novas palavras ou expressões que vão sendo registadas. Desta feita, poderão ser consultadas as nove entradas : casos ativos, cadeia de contágio, corredores turísticos, cuidador, gargarejos, grupos de risco, marcha atrás, pobreza e turismo. Também em França, as palavras têm acompanhado a dinâmica da pandemia, como nos conta o jornal Le Point, que dá a conhecer a atividade do lexicógrafo Alain Rey, de 91 anos, que trabalha atualmente num pequeno glossário dos termos ligados à situação desencadeada pelo aparecimento do novo coronavírus.
5. O apelido do príncipe dos poetas portugueses Camões poderá ter tido origem no topónimo galego Camos, que está na origem também do adjetivo camoesa (de «maçã-camoesa»). Esta é uma curiosa história à volta da etimologia, que se conta no Consultório. Aqui divulgam-se ainda respostas a questões de diferentes temáticas: redobro do clítico com o verbo caber, a natureza do pronome com o verbo tocar, as regras de uso do pronome com a forma -lo/-la, as relações semânticas entre contrastar e comparar e a tradução do anglicismo "grawlix".
6. A gradual afirmação da língua portuguesa no panorama internacional foi um processo de início tardio, que tem sofrido alguns contratempos no seu percurso. A linguista Margarita Correia evoca, na crónica «Quero ver o português na CEE», publicada originalmente no Diário de Notícias, o percurso da língua nas últimas décadas, marcado por uma lenta abertura ao mundo, ao ensino nacional e internacional e ao necessário diálogo com as variantes não europeias.
7. O tradutor e professor universitário Marco Neves evoca o início do verão com um apontamento dedicado à origem da palava, que deriva do termo latino "ver", que significa "primavera (o primeiro verão)" e é prima de estio (texto divulgado no blogue do autor Certas Palavras).
8. Numa altura em que se começa a fazer o balanço das medidas implementadas para resolver os problemas causados pelo confinamento forçado, o ensino à distância volta a ser objeto de análise, desta feita, para se apontarem os constrangimentos e dificuldades que a opção trouxe a alunos e professores e para se atentar nos alunos que foram mais prejudicados por toda esta situação. É também neste quadro que o primeiro-ministro António Costa veio anunciar que o ensino presencial regressará entre 14 e 17 de setembro.
9. Recordamos que os programas produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa para a rádio pública portuguesa terão lugar nos dias habituais.
– O programa Língua de Todos, na RDP África, tem como tema central a obra do Padre António Vieira, abordado numa conversa com José Eduardo Franco, historiador e professor catedrático convidado da Universidade Aberta e Titular da CIDH – Cátedra FCT/Infante Dom Henrique para os Estudos Insulares Atlânticos e a Globalização (sexta-feira, dia 26 de junho, pelas 13h20*, com repetição no sábado, dia 20 de junho, depois do noticiário das 09h00).
– O programa Páginas de Português, na Antena 2, traz à antena Adelina Moura, colaboradora do Plano Nacional de Leitura 2027 e tutora da formação contínua de professores do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, para falar sobre o guia de apoio ao Ensino de Português no Estrangeiro na plataforma de e-learning. Outros temas: o apontamento da professora Carla Marques sobre as palavras foco e fogo, a propósito dos convívios improvisados em espaços públicos e dos fogos que abriram o verão em Portugal; a crónica da professora universitária Margarita Correia, que esta semana se debruça sobre o ensino de Português Língua Não Materna em Portugal. No domingo, dia 28 de junho, pelas 12h30*. com repetição no sábado, dia 4 de julho, às 15h30*.
*Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.
1. Sobre o uso de haver como auxiliar («haver de»), uma dúvida: por exemplo, falando de medicamentos, se se diz já com valor de futuridade que «hão de resultar», não será «haverão de resultar» uma construção redundante e, portanto, dispensável? No Consultório, outras perguntas completam a atualização: o que significa o regionalismo ervanço? As palavras subtrama e geniturinário estão bem formadas? E porque está incorreta a frase «não estou confiante "se" ela está boa»?
2. No glossário organizado pelo Ciberdúvidas sob o título "A covid-19 na língua" (O nosso idioma), estão disponíveis seis novos registos: ajuntamento, desobediência, festas, jovens, ozono e testagem.
3. Disponível fica igualmente, na rubrica O nosso idioma, a reflexão desenvolvida pela professora Carla Marques para o programa Páginas de Português (Antena 2) em 21/06/2020, associando a recente vandalização da estátua de António Vieira em Lisboa à memória da ação humanitária do diplomata português Aristides de Sousa Mendes.
4. Ainda relativamente ao Páginas de Português de 21/06/2020, transcreve-se na rubrica Acordo Ortográfico o apontamento dado neste programa pela linguista Margarita Correia, presidente do Conselho Científico do Instituto Internacional da Língua Portuguesa, sobre pluricentrismo do português e do papel do AO de 1990, no respeito pelas especificidades fonológicas de cada país lusófono.
5. «Maior investimento, articulação estratégica no conjunto da CPLP e cooperação internacional [...], sem medo de perda de protagonismos nacionais [...]», para melhor projetar e difundir a língua portuguesa, são as necessidades detetadas num pequeno volume intitulado O Essencial sobre a Língua Portuguesa como Ativo Global, coordenado por Luís Reto, ex-reitor do ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa. Na rubrica Montra de Livros apresenta-se este livrinho, que dá ao leitor a noção do muito por fazer para consolidar e tirar partido económico da atual posição do português entre os dez idiomas mais falados no mundo.
6. Fazendo referência ao lançamento do referido livro, é de assinalar a entrevista que o embaixador Luís Faro Ramos, presidente do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, concedeu ao jornal Público em 21/06/2020. Duas mensagens ressaltam desta peça conduzida pela jornalista Leonete Botelho: «Portugal não é o dono da língua», mas «o esforço na sua projeção e ensino não pode ser só de Portugal».
7. Por último, mencionem-se:
– a exposição Luzes da Cidade, a respeito dos velhos letreiros luminosos de Lisboa e que está patente no bairro lisboeta de Alvalde a partir de 25/06/2020, numa forma alternativa de contar a história das cidades pelos seus nomes e grafismos comerciais (ler notícia no Público de 21/06/2020; na imagem à esquerda, foto de Tiago Petinga, em A Vida Portuguesa, 14/08/2015);
– ainda a propósito da indicação dos nomes identificativos dos espaços lisboetas, o trabalho "Tipologia de placas toponímicas de Lisboa", em linha desde 17/06/2020 nas páginas do projeto getLISBON;
– a oportunidade de, em 23/06/2020, às 14h00, no Brasil, ou às18h00, em Portugal, retomar contacto com a destreza romanesca e lexical camilianas no seminário em linha "Camilo e os estudos comparados", organizado pelo Grupo Camilo Castelo Branco, da Universidade de São Paulo.
1. A dicionarização das palavras é um processo que, muito frequentemente, começa com o aparecimento de um neologismo na língua, que vai sendo integrado gradualmente no léxico. A sua generalização e a frequência de usos podem levar à conversão da palavra num verbete de dicionário. Alguns destes neologismos podem resultar de uma tentativa de tradução de uma palavra estrangeira, o que nem sempre é um processo fácil ou de aceitação generalizada entre os falantes. Exemplo disso é a forma "Euromaidã", uma proposta de tradução do forma romanizada "Euromaidan" e que refere uma onda de manifestações nacionalistas e de agitação civil que tiveram lugar na Ucrânia, em 2013, exigindo maior integração europeia e o fim da corrupção política. A reflexão em torno destas questões dá o mote a uma das respostas da nova atualização do Consultório, onde se abordam também as questões «As sílabas métricas de têm e vêm», «Ter mais que fazer» e «ter mais o que fazer», «A todos os níveis» e «A paráfrase».
Primeira e segunda imagens: manifestantes do Euromaidan, em 2013, na Ucrânia.
2. A situação relacionada com as infeções pelo novo coronavírus mantém uma rota de evolução e transformação. Por essa razão, permanece um assunto de atualidade presente no panorama da comunicação social, o que continua a dinamizar o léxico mobilizado. Continuamos, assim, a acompanhar este processo, introduzindo no glossário A covid-19 na língua, as palavras atividade viral, carga viral, coronavírus humano, estirpe, "glamping" e linhagem.
3. As mudanças trazidas pela crise sanitária e pelo confinamento a que a pandemia obrigou tiveram repercussões em vários domínios, nomeadamente no trabalho e no sistema de ensino, que passaram a privilegiar formas de concretização à distância. No caso da aprendizagem, há quem veja no desenvolvimento de metodologias assentes no conceito de ensino à distância uma nova oportunidade, sobretudo no que ao ensino superior diz respeito. O investigador José Vicente considera que se trata de «uma história de sucesso do confinamento», num artigo divulgado originalmente no jornal Público, aqui transcrito com a devida vénia.
4. Recentemente diversos escritores portugueses foram homenageados com a atribuição de prémios:
— O cardeal, poeta e teólogo José Tolentino Mendonça, galardoado com o Prémio Europeu Helena Vaz da Silva 2020, pelo seu papel de divulgador da cultura e dos valores europeus (notícia aqui, assim como a sua intervenção no último Dia de Portugal, 10 de Junho e este artigo, publicado no semanário Expresso do dia 20 de abril de 2020: Honra os teus velhos);
Recordem-se os textos do autor, divulgados no Ciberdúvidas: «O ruído que se faz a voar» e «João e Maria».
— O escritor Mário de Carvalho, contemplado com o Grande Prémio de Crónica e Dispersos, da Associação Portuguesa de Escritores, com o livro O que eu ouvi na barricada das maçãs (notícia aqui e aqui);
O Ciberdúvidas divulgou os seguintes textos de Mário de Carvalho: «Fervedouro dos desacertos e desconcórdias», «Checando anomalias no aparato», «A propósito de erros».
— O poeta e ensaísta Fernando Guimarães, vencedor do Grande Prémio Poesia da Associação Portuguesa de Escritores pela sua obra Junto à Pedra.
5. O dicionário em linha Priberam foi, segundo um estudo da Marktest em parceria com a Gemius, o sítio não noticioso mais consultado, em Portugal, em maio de 2020, um resultado que os responsáveis atribuem à situação de confinamento vivida pelos portugueses.
6. Entre as atividades culturais relacionadas com a língua, destacamos:
— As comemorações dos 100 anos do dramaturgo português Bernardo Santareno, que tiveram início em janeiro e que se prolongarão até ao final do ano (calendarização global dos eventos e notícia);
— O Festival Internacional das Artes da Língua Portuguesa (FestLip), uma edição totalmente em linha, que reúne diversos eventos de 18 a 23 de junho: música, teatro, debates. Os conteúdos são transmitidos em sinal aberto nos canais do Facebook e do Youtube do evento (notícia).
7. Os programas produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa para a rádio pública portuguesa centram-se, nesta semana, no racismo na língua, em aspetos do funcionamento gramatical do português e nas figuras de Padre António Vieira e de Aristides de Sousa Mendes (mais pormenores aqui).
1. Há 80 anos, quando a II Guerra Mundial alastrava pela Europa, com multidões a fugir da perseguição racista e da ofensiva do III Reich, o cônsul de Portugal em Bordéus, Aristides de Sousa Mendes (1885-1954), desobedecia ao governo português e emitia vistos para cerca de 30 000 refugiados, entre os quais se contavam 10 000 judeus. Foi, na expressão usada pelos seus biógrafos, o "ato de consciência" de Aristides de Sousa Mendes, que, ao contrariar o poder vigente em Portugal, preferiu «estar com Deus contra os homens do que com os homens contra Deus». Justamente para homenagear pela sua coragem o diplomata português, o projeto "Dever de Memória – jovens pelos direitos humanos", do Agrupamento de Escolas de Carregal do Sal, organiza entre 17 e 19 de junho p. f. uma exposição virtual de trabalhos artísticos e literários sob o nome SER Consciência...30/1000 por 1 VIDA. Trata-se de um desafio em linha que conta com a colaboração dos artistas Josefa Reis e Víctor Costa. A vida e obra de Aristides de Sousa Mendes são também evocadas nas páginas da Fundação Aristides de Sousa Mendes, incluindo informação sobre a Casa do Passal, edifício ligado à família do diplomata (mais informação nas Notícias).
Na imagem, um quadro do autor de banda desenhada português José Ruy, que se associou à homenagem aqui referida. Relacionáveis com a Segunda Guerra Mundial e o Holocausto, consultem-se os seguintes artigos e respostas: "Vocabulário de guerra", "As marcas da guerra no léxico do português", "A bomba atómica e o combate científico e da medicina", "Guerra Fria", "Holocausto, uma palavra para não esquecer", "A grafia de holocausto", "Holocausto com aspas", "Judiaria" e "Judia e judaica como adjetivos".
2. Em 2020, à pandemia, somam-se os protestos antirracistas desencadeados pela morte de George Floyd, os quais se exercem frequentemente com fúria sobre as estátuas de figuras históricas do colonialismo europeu. Em Lisboa, foi flagrante o caso da estátua do Padre António Vieira (1608-1697), expoente máximo da oratória barroca em língua portuguesa. Há três anos inaugurada já no meio de grande polémica, a imagem foi desfigurada por pichagens alegadamente antiescravatura. Que nome dar ao ataque a estátuas? São correntes o termos genéricos vandalismo e vandalização; outra opção será o rarissimamente usado iconoclasma, que, não obstante, ocorre num texto muito crítico do acontecimento, do historiador de arte Vítor Serrão (Público, 13/06/2020). Em Espanha, o tema vem sendo erradamente designado como estatuafobia ou estatuofobia – composto formado de estatua e do elemento -fobia, significando «aversão» ou «rejeição» às estátuas, e não «ataque ou «destruição» delas. É o que clarifica, para o castelhano, a Fundação para o Espanhol Urgente (Fundéu BBVA), recomendando, por isso, que se use «ataque a estatua(s)» e «destrucción de estatua(s)». Ou, ainda, o termo iconoclasia ou iconoclastia (isto é, «destruição de estátuas religiosas», sentido alargável às imagens mais profanas). Formas homólogas destas últimas em português são iconoclasia e iconosclastia, o mesmo que iconoclasmo (com a referida variante iconoclasma), definível como «doutrina, prática ou atitude de um iconoclasta», entendendo-se por iconoclasta aquele que destrói imagens religiosas e se opõe ao culto à volta delas ou, de um forma geral, o que destrói qualquer imagem (cf. Dicionário Houaiss). Iconoclasta vem (indiretamente, por via francesa) do grego bizantino eikonoklástes (Dicionário Infopédia), formado por eikṓn, «imagem retrato», e klástes, do verbo kláō, «quebrar, romper, destroçar» (cf. Dicionário Houaiss). Não obstante, uma solução de algum modo recorrente no discurso político e mediático em Portugal é dada pelas perífrases «vandalizar estátuas» e «vandalização de estátuas», que não sendo exemplarmente sintéticas têm de recomendável a força expressiva dos derivados de vândalo.
Apesar de em 1998 José Neves Henriques ter dito aqui que vandalizar «significaria "tornar vândalo"», este verbo é hoje registado também na aceção de «destruir de forma selvagem» (cf. Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa, Dicionário Priberam da Língua Portuguesa e Dicionário Houaiss).
3. Quando veremos o fim da pandemia de covid-19 e da crise mundial decorrente? Do levantamento de restrições à ameaça de uma segunda vaga, não para o fluxo de neologismos e palavras reativadas que alimentam o discurso mediático. É o que se assinala no glossário em "A covid-19 na língua" (in O nosso idioma), com seis novas entradas: algoritmo, dexametasona, jornalismo, sem-abrigo e vigilância epidemiológica.
4. No Consultório, há cinco novas respostas. Como escrever em português a palavra alemã Reich? Qual é a regência do nome dissociação? Que significados pode ter a expressão «cair a cabeça aos pés»? E como analisar uma frase construída com a locução «fazer as vezes»? Finalmente, será que a conjunção caso só se usa com o presente do conjuntivo?
5. O que é, afinal, a linguística? Para que serve? A propósito do desconhecimento e da frequente desvalorização do papel dos linguistas, transcreve-se na rubrica O nosso idioma o artigo que a linguista portuguesa Margarita Correia assinou no Diário de Notícias de 16/06/2020.
6. Temas em destaque nos programas* que a Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa produz para a rádio pública portuguesa:
– No Língua de Todos, transmitido pela RDP África, na sexta-feira, dia 19 de junho, depois do noticiário das 09h00* (com repetição no dia seguinte, às 13h00*), o racismo inscrito em muitas palavras e expressões, comentado pelas linguistas Margarita Correia e Carla Marques, bem como alguns aspetos do funcionamento gramatical do português numa intervenção da professora Sandra Duarte Tavares.
– No Páginas de Português, difundido pela Antena 2, no domingo, 21 de junho, às 12h30 (com repetição no sábado seguinte, dia, 20/06, à 15h30*) – a propósito da vandalização da estátua do padre António Vieira, em Lisboa –, fala-se da sua figura e obra, em conversa com o professor José Eduardo Franco. Mais pormenores aqui.
* Língua de Todos é repetido no sábado, 20/06, depois do noticiário das 09h00; e Páginas de Português, no sábado seguinte, dia 27/06, às 15h30. Hora oficial de Portugal continental – ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui, respetivamente.
7. Um registo final para os dez anos sobre a morte do José Saramago, Prémio Nobel da Literatura em 1998, e os 40 sobre a sua primeira obra Levantado do Chão.
Cf. Ler e reler Saramago + Nos 20 anos da atribuição do Prémio Nobel a Saramago + O estilo de Saramago + Saramago, o escritor que brinca com a pontuação + Castelhanismos, a propósito de Saramago + Poema à boca fechada + Uma língua que não se defende, morre + Uma década com Saramago
1. A realidade criada pela chegada do novo coronavírus desencadeou uma atividade linguística assinalável. Entre os fenómenos dignos de atenção, alguns dos quais tratados no Ciberdúvidas em diferentes momentos, encontra-se a produção de metáforas, entendidas como um processo cognitivo que procura compreender a realidade associando-a a domínios conceptuais já conhecidos. Já aqui foram abordadas metáforas nas áreas da guerra e dos fenómenos naturais, do caminho que se percorre e das doenças, da casa e das suas portas que abrem e fecham. A consultora permanente do Ciberdúvidas Carla Marques fecha agora este ciclo dedicado às metáforas da covid-19 com um apontamento sobre as metáforas do domínio cinematográfico, que recordam que neste filme que todos vivemos há monstros e heróis (que usam não capa mas máscara).
2. O dinamismo linguístico continua também a trazer novas palavras para A covid-19 na língua. Este glossário vai, assim, dando conta da evolução da situação e das realidades que vão ganhando realce, convocando novas palavras e expressões. Desta feita, destacamos ATL, alergologia, crise económica, dança, depressão, desigualdade, férias, fotografia, obrigado, perdigotos, poesia, respiradores e robotização.
3. Palavras como mouro, bárbaro, judiaria ou chinesice são sinais da linguagem de cariz racista e xenófofo plasmado na língua, como bem o atestam expressões como «trabalhar que nem um mouro» ou «rir que nem um preto», que remetem para fases pretéritas da história e da língua. Esta é a reflexão que partilhou connosco a professora universitária e presidente do Conselho Científico do IILP Margarita Correia na crónica apresentada no programa radiofónico Páginas de Português, da Antena 2 (áudio disponível aqui). De racismo também falou a professora Carla Marques ao refletir sobre as palavras respirar e joelho numa breve crónica divulgada no mesmo programa (que se pode ler aqui e ouvir aqui). Sobre o tema, vide, ainda: 10 expressões racistas que deveríamos tirar do nosso vocabulário + A linguagem do racismo, histórias antigas de preconceito e discriminação e o Carnaval contra o assédio sexual no Brasil.
Ilustrativo destas marcas estereotipadas no léxico do português é este divertido video:
4. O registo popular caracteriza-se por adaptar palavras e construções. Nestes processos, a modalidade oral assume uma responsabilidade maior ao contribuir para a alteração ou para a erosão das palavras, o que muitas vezes se fica a dever a uma questão de economia linguística. Foi assim que curiosidade terá evoluído para curgidade, como se explica nesta resposta divulgada na nova atualização do Consultório. Poderão ainda ser consultadas respostas de âmbito lexical («Andar em bando», «Office boy = contínuo e paquete» e «Procedimento cautelar e providência cautelar») e outras do foro sintático («Patente de produtos», «Levar uma surra, levar e ser levado» e «A porta abriu-se» vs. «a loja abriu»).
5. A lei portuguesa é bem clara quanto à obrigatoriedade da apresentação de texto em português em guias, rótulos, livros de instruções e outros elementos que acompanhem produtos vendidos em Portugal. Todavia, continuamos a identificar inúmeras situações em que a língua portuguesa é simplesmente ignorada, como se pode confirmar pelo apontamento de José Mário Costa, cofundador do Ciberdúvidas.
6. A expressão inglesa off the record é frequentemente utilizada, em particular pela comunicação social. Não obstante, a sua substituição por uma palavra portuguesa não só é possível como funciona de forma perfeita, como demonstra a professora Sara Mourato neste apontamento.
7. O professor universitário e tradutor Marco Neves continua a partilhar com os seus leitores apontamentos linguísticos relacionados com a atualidade. Desta feita, apresenta uma crónica sobre as línguas oficiais de União Europeia e uma outra sobre como se diz bilão em português, tema também já muito analisado no Ciberdúvidas (aqui, aqui e aqui, por exemplo).
8. Dia 15 de junho é dia de alargamento de algumas das medidas da terceira fase de desconfinamento na região de Lisboa. Abrirão assim centros comerciais, espaços com mais de 400 m2 , lojas do cidadão, entre outros. Passarão a estar abertos também centros de explicação e os ATL*
*Vale a pena lembrar que esta como todas as siglas não levam -s-, ainda que refiram uma entidade plural – ao contrário do recorrente uso errado no espaço público..
9. Alguns setores da sociedade não regressaram, todavia, à normalidade. É o caso do ensino que mantém a maioria dos alunos numa situação de ensino à distância, o que se verifica no ensino obrigatório, mas também, em muitos casos, no ensino superior. Esta situação tem levantado a possibilidade de um sistema de ensino assente em meios tecnológicos, o que tem gerado inúmeras reações oriundas de diferentes setores da sociedade, muitas discordantes, como acontece neste artigo de opinião do jornal Público.
1. Na data de 8 de junho comemora-se o Dia Mundial dos Oceanos, na mesma semana em que pouco depois, em 10 de junho, se festeja o Dia de de Portugal, Camões e das Comunidades Portuguesas. É curioso notar como o mar é tema comum às duas comemorações. Com efeito, em Portugal, o feriado evoca o contributo decisivo de um poeta renascentista para a elaboração de uma língua que se expandiu por via marítima, acompanhando a conquista de territórios além-mar, para explorar recursos humanos e materiais, num movimento agressivo que hoje começa a avaliar-se de forma bastante crítica. No Dia Mundial dos Oceanos a tónica é a sustentabilidade de tal exploração, porque o horizonte se define agora pela preocupante degradação ambiental do planeta provocada pela frenética e imparável atividade humana. À volta dos nomes dados a mares e oceanos (talassónimos), leiam-se, por exemplo, "A etimologia das palavras atlântico, jónico, mar, mediterrâneo e oceano", "Mediterrâneo" e "Oceano, praia e respetivos holónimos"; e sobre a grafia destas formas, consulte-se "Maiúsculas e minúsculas com nomes de regiões e acidentes geográficos". Vide, ainda, "Portugal em sétimo lugar na qualidade das águas balneares europeias".
Na primeira imagem, Mar (Nazaré), de Adriano Sousa Lopes (1879-1944), Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado, Lisboa (fonte: MatrizNet).
2. A presente atualização coincide com o começo de uma semana recheada de datas festivas especialmente em Portugal, onde o 10 de Junho neste ano de 2020 será apenas assinalado simbolicamente, de modo a respeitar as medidas de combate contra a pandemia de covid-19 (ler nota de 01/06/2020 da Presidência da República Portuguesa). O mesmo acontecerá à celebração do feriado religioso do Corpo de Deus em 11 de junho. Finalmente, em 13 de junho, o Dia de Santo António, começa o ciclo dos Santos Populares, que neste ano de 2020 também se pautarão pelo modo virtual, sem as multitudinárias festas tradicionais, por causa das referidas medidas cautelares. Com tópicos relacionáveis com estas duas últimas datas, sugere-se a leitura das seguintes respostas: "As palavras Deus, Anjo e Alma", "Razão do uso de Deus sem artigoFrase sobre Santo António de Lisboa", "Sobre o Sermão de Santo António aos Peixes", "Interpretação de excerto de Sermão de Santo António aos Peixes", "O significado de um excerto do Sermão de Santo António aos Peixes, "Festa Junina", "Nos santos populares (en)cante com poesia popular". Entretanto, devido a todos estes feriados, a nova atualização do Ciberdúvidas fica marcada para segunda-feira,15 de junho.
Entre os eventos comemorativos do Dia de Portugal de Camões e das Comunidades Portuguesas, destaca-se Os Lusíadas como nunca os ouviu, uma maratona de leitura (integral) do poema épico de Camões pelo ator António Fonseca, transmitida do Teatro Nacional D. Maria II no próprio dia feriado.
3. Em O nosso idioma, o glossário "A covid-19 na língua" prossegue o registo de novas entradas e das suas definições: o substantivo ajuntamento; o adjetivo brutal com a expressão choque económico, recorrentes no comentário ao impacto económico negativo da pandemia; a locução capitalismo digital, para designar o avatar tecnológico do capitalismo; o verbo contagiar; o vocábulo manifestação, que figura nas notícias sobre as manifestações contra o racismo que se realizaram mundialmente em protesto pela morte do afro-americano George Floyd e que não cumprem as imposições de distanciamento por causa das pandemia; "TV Funerária", apodo criado pelo Presidente do Brasil para criticar a TV Globo pelo destaque dado ao boletim epidemiológico; e o termo vulnerabilidade.
4. No Consultório, salienta-se o valor intensivo do artigo indefinido em frases exclamativas; comenta-se a grafia da expressão «não sei quê»; identifica-se o adjunto adverbial (modificador do grupo verbal) da frase «tudo era alegria para ela»; e analisa-se o comportamento sintático e semântico do conector pois.
5. Moçambique dispõe de um Vocabulário Ortográfico Nacional, que está alojado na plataforma do Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa desde 2014. Mas também é verdade que este país ainda não ratificou o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Para fazer um ponto da situação a respeito do que se passa em Moçambique em matéria ortográfica, a rubrica Acordo Ortográfico transcreve com a devida vénia a entrevista que a linguista Marta Sitoe concedeu ao jornal Preto e Branco (06/06/2020).
6. Além das variedades nacionais, que vão elaborando a sua própria norma, há também a considerar a variação regional de cada país. Em Portugal, como se sabe, subsistem formas regionais com maior ou menor vitalidade, como é o caso da expressão «ter avondo», que se mantém no sueste alentejano e na metade oriental do Algarve. Em O nosso idioma, transcreve-se, da edição de 03/06/20202 do jornal Público, um apontamento do escritor português Miguel Esteves Cardoso, a propósito do referido regionalismo português.
7. Hashtag é um anglicismo muito corrente na atualidade, em formas como #nãoaoracismo (ver Instagram). O termo é formado por hash (de hash mark, «sinal de cardinal», ou seja, #) e tag, «etiqueta» (ver dicionário Merriam Webster); e a associação do sinal # com uma palavra ou expressão é empregada em blogues e outras páginas eletrónicas para facilitar a identificação ou a pesquisa de temas (cf. Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa, consultado em 08/06/2020). Mas não haverá termo vernáculo com o mesmo significado? Virando novamente a atenção para o que fazem outras línguas românicas como o português, registe-se que, para o espanhol, a Fundéu recomenda a substituição do anglicismo por etiqueta. Sem veleidades castelhanistas, reconheça-se que o exemplo da Fundéu se transpõe sem problema para o português como etiqueta. Tendo em conta que tag já é equivalente a etiqueta, porque não permitir, então, o alargamento semântico da palavra portuguesa?
8. Um último registo para a história de um mestrado em veterinária numa universidade pública portuguesa e de uma aluna, cuja dissertação nunca foi admitida a provas porque a candidata, brasileira, não usou a norma ortográfica de 1945 nem a sintaxe própria do português do Brasil – contada pela professora Margarita Correia, em artigo publicado originalmente no Diário de Notícias do dia 9 de julho de 2020.
1. A conceptualização das realidades associadas à covid-19 e às várias etapas da pandemia tem sido terreno fértil para a criação metafórica. Este processamento cognitivo gera expressões linguísticas que desvendam as interpretações do mundo e a forma como os seres humanos as associam a outras realidades que conhecem. A professora Carla Marques, consultora permanente do Ciberdúvidas, tem desenvolvido um conjunto de reflexões que se orientam no sentido de delimitar alguns domínios conceptuais que estruturam a produção de metáforas na situação que se vive atualmente. Desta feita, apresenta um apontamento onde aborda o conceito de caminho / corrida, que tem enquadrado construções como «a corrida contra o vírus» ou «isto é uma maratona», e o conceito de doença, que tem permitido falar de áreas afetadas da sociedade, o que tem ficado patente em expressões como a «neurose coletiva» ou a «anemia da sociedade».
Primeira imagem: Fotografia de Jennifer B. Hudson
2. Para além das metáforas, também palavras e expressões têm sido convocadas para dizer a heterogeneidade do universo pandémico, que se tem complexificado e ramificado em inúmeros domínios. Exemplo disso é a recente descoberta que traz o nome da alpaca, mamífero da América do Sul, para A covid-19 na língua, o que acontece porque este animal tem anticorpos raros que poderão vir a ser usados nos tratamentos da covid-19. Nesta atualização, o glossário acolhe ainda os termos limpeza, hemorragia, luto e a expressão «comprar tempo». No Dia Mundial do Ambiente, que se celebra a 5 de junho, recorde-se também que a pandemia trouxe consigo efeitos positivos para o ambiente (na melhoria da qualidade do ar, por exemplo), mas também maior poluição devido aos descartáveis que se usam (luvas ou máscaras, entre outros) e um recuo nas práticas de reciclagem (ver notícia).
Esta é uma oportunidade também para recordar algumas respostas do Ciberdúvidas relacionadas com o ambiente: «Etimologia do meio ambiente», «Ambiência e ambiental», «Novamente, impacto e impacte» e «Sobre a formação dos substantivos compostos». E, a propósito da abertura em Portugal da época balnear sob rigorosas medidas restritivas de ocupação do areal e do distanciamento por causa da pandemia, fica também a sugestão de alguns esclarecimento no aquivo do Ciberdúvidas sobre a praia: O campo lexical de praia + O campo semântico de praia + «Arenosa praia...» + Oceano, praia e respectivos holónimos.
3. A complexidade das estruturas sintáticas permite o encaixe de orações no interior de outras e ainda que uma oração desempenhe uma função sintática no plano da frase. Estas possibilidades tornam, por vezes, labiríntica a análise da frase. É o que acontece no verso de Florbela Espanca «Morder como quem beija!». Outras questões chegam ao Consultório do Ciberdúvidas: entre elas, assinalamos a dúvida quanto à forma correta de pronunciar a palavra dorminhocos, motivada pelas oscilações de pronúncia entre o singular e o plural de algumas palavras, e a determinação da grafia correta da palavra Troino (antigo bairro de Setúbal). Do Brasil, chega uma questão relativa ao género do nome babá e outra que indaga a classe de menos na locução «em menos de uma hora».
4. O gramático e académico Evanildo Bechara é uma das figuras que tem contribuído de forma destacada para o estudo da língua portuguesa. Com um currículo riquíssimo em diferentes áreas da linguística, tem já um lugar na história, como bem o comprova a longa biografia e a diversificada bibliografia compiladas pelo professor galego José Paz Rodrigues. Nesta resenha, é ainda possível recordar diferentes vídeos de entrevistas, conferências e aulas de Evanildo Bechara (uma biografia divulgada no Portal Galego da Língua, aqui reproduzida com a devida vénia).
5. Os nomes que damos às letras e as letras que usamos para grafar determinados sons são o tema do apontamento do professor João Nogueira da Costa, que, num registo dialogal, desfaz alguns equívocos conhecidos.
*Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.
1. Enquanto Portugal entra na terceira fase do plano de desconfinamento – excetua-se a região de Lisboa, que continua com medidas mais restritivas –, um termo circula mediaticamente: paraministro. Emprega-se este para referir o cargo de uma nova figura do governo, o gestor António Costa Silva, que, não sendo ministro, foi nomeado para gerir governamentalmente uma estratégia de recuperação económica nacional, contando com a chegada (incerta) de subvenções da União Europeia. Na comunicação social portuguesa, torna-se agora recorrente o uso da palavra paraministro como designação dessa singular função ministerial paralela (ver o registo humorístico de Ricardo Araújo Pereira em 31/05/2020 no programa Isto É Gozar com Quem Trabalha, transmitido pela SIC; mais notícias e comentários aqui e aqui). A rubrica O nosso idioma também não deixa escapar este recém-chegado ao discurso noticioso, integrando-o em mais uma atualização do glossário A covid-19 na língua,com outras novas entradas: Arte covid, descumprimento, serologia, seroprevalência, carga viral e zerar.
2. Com a terceira fase de desconfinamento em Portugal, um regresso muito aguardado: na quinta-feira, 4 de junho, retoma-se o campeonato da I Liga para 10 jornadas finais ... sem público. É o reativar de toda a máquina gigantesca de clubes, seguidos à distância por miríades de adeptos e comentadores. A respeito do "futebolês" motivado pelo chamado desporto-rei e espetáculo de multidões, são muitas as respostas e os artigos em arquivo no Ciberdúvidas, como revela a seguinte seleção: "Viva o 'futebolês'!", "A intensificação na linguagem do futebol", "O futebol falado diferentemente no Brasil e em Portugal", "A ciência do esférico", "Comentador demasiado criativo", "Péssimo futebol falado"; "Uma questão de terminologia", "Um chuto no 'crachar'", "Já sabe o que é um 'zagueiro'?", "O 'dialeto luso' em futebolês".
3. A denominação dos meses é feita por nomes comuns ou por nomes próprios? A minúscula inicial sugeriria a primeira hipótese, mas as propriedades semântico-referenciais destes nomes tornam-nos um caso muito especial, conforme se revela no Consultório. Nesta mesma atualização, esclarecem-se dúvidas sobre a adequação do uso do plural de religião, a boa formação do adjetivo incomprovável, um caso de adjunto adverbial de assunto (conforme a terminologia gramatical brasileira) e a análise do complexo verbal «fui comer».
4. Nos países onde é falado, o português coexiste frequentemente com línguas locais, tanto em Angola e Moçambique, como em Timor-Leste, como ainda no Brasil, que conserva vários dialetos das famílias linguísticas ameríndias. Portugal está longe de ser a exceção monolingue, porque, além da sua própria língua gestual e de uma língua regional (o mirandês), conta ainda com as várias línguas faladas por diferentes comunidades estrangeiras; e este multilinguismo constitui uma realidade que o Ministério da Educação português de algum modo reconhece no seu Portal de Matrículas. Contudo, mais atenção e rigor são devidos, conforme assinala a linguista Margarita Correia em crónica publicada no Diário de Notícias em 2 de junho de 2020 e aqui transcrita com a devida vénia.
5. A propósito da onda de protestos e violência nos Estados Unidos da América, por causa da morte de George Floyd em 25/05/2020, fala-se da cidade onde tudo começou infelizmente por acontecer, Minneapolis – ou, em português, Mineápolis, forma que se regista, pelo menos, desde 1941. Acrescente-se que esta cidade se localiza no estado do Minnesota, que também tem equivalente vernáculo: Minesota.
A forma Mineápolis regista-se em Topónimos e Gentílicos, que I. Xavuer Fernandes publicou em 1941; e assim se mantém no Vocabulário da Língua Portuguesa (1966), de Rebelo Gonçalves, e no Vocabulário Onomástico da Língua Portuguesa (1999) da Academia Brasileira de Letras. Consta igualmente destas últimas fontes a forma Minesota, a qual substituiu outra mais antiga, Minessota, com dois ss, conforme o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa de 1940, da Academia das Ciências de Lisboa.
6. A pandemia tem afetado o funcionamento dos sistemas de ensino em vários países da União Europeia. É pois de referir a medida tomada pelo governo português, de abrir aos alunos lusodescendentes que, em França, não consigam concluir este ano o ensino secundário (o chamado baccalauréat ou bac, por truncação), a possibilidade de beneficiarem de medidas excecionais no concurso de acesso às instituições de ensino superior portuguesas para o próximo ano letivo (ler notícia de 03/06/2020 do Lusojornal).
7. O balanço da experiência do ensino à distância do Português Língua não Materna (PLNM) no contexto do surto epidemeológico e um curso sobre Análise Textual são os temas em foco nos programas que a Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa produz para a rádio pública portuguesa. É também dado realce aos verbos mais usados na cobertura mediática da pandemia da covid-19 com um apontamento da professora Carla Marques. Mais informação nas Notícias.
O programa Língua de Todos vai para o ar na RDP África, na sexta-feira, dia 6 de junho, pelas 13h20* (é repetido no sábado, dia 7 de junho, depois do noticiário das 09h00). O Páginas de Português é transmitido pela Antena 2, no domingo, dia 8 dejunho, pelas 12h30* (com repetição no sábado, dia 13 de junho, às 15h30).
*Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.
1. Dia 1 de junho é o Dia Mundial da Criança (em Portugal, Angola e Moçambique), data assinalada pela primeira vez em 1950 por iniciativa das Nações Unidas, ainda no rescaldo da II Grande Guerra Mundial, com o intuito de sensibilizar a comunidade internacional para os problemas vividos por milhões de crianças um pouco por todo o mundo. Passados 70 anos, muitas crianças ainda não veem respeitados os seus direitos consagrados pela Declaração Universal dos Direitos da Criança. A UNICEF estima que, nos países subdesenvolvidos, inúmeras crianças vivem em dificuldades extremas. Este ano, em particular, a data será celebrada de forma diferente por crianças e suas famílias, mas os motivos que estiveram na sua origem devem continuar bem presentes no espírito de cada um. Este dia é também motivo para recordar algumas respostas disponíveis no Consultório, relacionadas com a palavra criança: «Criança: etimologia», «Nome coletivo de criança», «Enquanto crianças» e «em crianças», «Criança-soldado e crianças-soldado». Sobre o tema, vide ainda o texto «Qual a origem da palavra «criança»?», da autoria do professor universitário e tradutor Marco Neves.
Primeira imagem: desenho de criança.
2. O dia 1 de junho coincide também, em Portugal, com o início da terceira fase do plano de desconfinamento, que determina o fim do "dever cívico de recolhimento" e prevê a abertura de jardins de infância, centros comerciais, cinema e salas de espetáculo, ginásios, entre outros espaços. A área metropolitana de Lisboa estará, porém, sujeita a condições particulares, dado o aumento do número de infeções registado, que determinam o adiamento da abertura de centros comerciais e de lojas com mais de 400 metros quadrados. A reabertura gradual tem ainda motivado a implementação de medidas excecionais na prática dos cultos religiosos e das atividades desportivas. Por seu turno, o setor da aviação pode contar já com o fim das restrições de passageiros. Os diferentes momentos da pandemia continuam a trazer também novas palavras e expressões que vão integrando o glossário A covid-19 na língua. Desta feita, poderão ser consultadas «bolha... de ódio», «pré-covid» e «live».
3. A formação de palavras com base num processo de aportuguesamento nem sempre produz resultados aceitáveis do ponto de vista da norma ou até da sensibilidade linguística dos falantes. Estes são os problemas que as palavras "hacktivismo" e empoderamento acusam e que motivam respostas divulgadas na nova atualização do Consultório. A identificação de funções sintáticas, nomeadamente do complemento oblíquo e da sua distinção do modificador do grupo verbal, também motivam dúvidas quando se processa a análise de grupos verbais como «prolongar-se por várias cenas» ou «morar em casa com a mãe».
4. Na rubrica Pelourinho assinala-se um "erro da pandemia": a "distançia"... apanhada pelo «maldito vírus»...
5. As crianças são também motivo de preocupação pela situação de ensino à distância, que marca a sua aprendizagem no momento atual. O afastamento da escola pode, todavia, encobrir situações de violência ou de negligência, pelo que é importante que educadores e professores se mantenham atentos a alguns sinais, como os que enumera Rute Agulhas, especialista em psicologia clínica e familiar, no seu artigo publicado no Diário de Notícias (aqui transcrito com a devida vénia).
6. A Antena 1 estreia nesta data o programa Serviço Público — Bloco de Notas, destinado ao apoio dos alunos dos 11.º e 12.º anos na preparação para os exames nacionais em Portugal, nas disciplinas de Português, Matemática, História, Biologia e Geologia, entre outras (ver notícia).
7. O universo infantil adapta-se de forma extraordinária às mensagens que a música traz consigo, e as aprendizagens podem também ser veiculadas de forma muito eficaz através de recursos musicais. Por essas razões e porque o dia é especial para as crianças, deixamos aqui a sugestão de algumas músicas que poderão dar outra cor ao Dia Mundial da Criança. Tratam temas relacionados como os professores, os alunos e até aulas sobre gramática: «Um bom professor, um bom começo», «O nome dela é crase», de Prof. Noslen, «Estudo errado», de Gabriel o Pensador, «Anjos da guarda», de Leci Brandão, «Ao mestre com carinho», de Eliana, «Professor e professora», de Jair Oliveira, «Patati Patatá – Homenagem à professoras». Existem estudos e apontamentos diversificados que apontam para a importância da música na construção das aprendizagens, tanto da língua materna como da língua estrangeira. Entre eles, destacamos «Canção: letra e música no ensino de português como língua adicional» , «O uso da Canção no ensino do Português como língua estrangeira», «Música no ensino de gramática», «A MPB e sua contribuição para a língua portuguesa», «Música como ferramenta pedagógica no ensino de língua à luz da gramática analítica reflexiva». Para terminar, uma sugestão a recordar a importância do livro físico e das sensações na aprendizagem: «O cheiro dos livros», do grupo musical Cabeças no Ar:
1. Fala-se de «janelas para o mundo», e evocam-se imagens de libertação. Depois, diz-se «portas trancadas», e o temor assalta o espírito. Em O nosso idioma, a professora Carla Marques, consultora permanente do Ciberdúvidas, vira mais uma vez a sua atenção para as metáforas motivadas pelas vivências da presente crise sanitária, com um novo texto. Desta vez, a autora revela como o campo lexical do vocábulo casa é fonte de um discurso onde se inscreve o sempre difícil equilíbrio entre as liberdades e a necessidade de proteção.
Na imagem, Casas (1957), de Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992), no Museu do Chiado – Museu Nacional de Arte Contemporânea, em Lisboa (fonte: MatrizNet).
2. Em Portugal, fazendo frente à propagação do SARS-CoV-2 – também chamado «(novo) coronavírus» –, o Governo renova a situação de calamidade, anunciando a passagem à terceira fase do desconfinamento, ainda com restrições sobre a utilização e desfrute dos lugares públicos (ver notícia do jornal Público em 29/05/2020 e infromações sobre a covid-19 na RTP Notícias). E, apesar das temperaturas estivais no país, a gerarem a ânsia por mar e praia, a opção mais segura continua a ser o recolhimento doméstico. Prossegue, portanto, na rubrica O nosso idioma a atualização de "A covid-19 na língua", glossário que dando testemunho da evolução desta crise e da sua verbalização sobretudo mediática, se apresenta agora repartido por uma página principal e 25 páginas organizadas por ordem alfabética (cf. abertura de 27/05/2020). Neste dia, têm entradas poluição, pré-pandemia, propileno, robusto e «momento Delors», uma expressão criada pelo presidente da República Portuguesa ao referir-se à proposta da Comissão Europeia para um fundo de recuperação de 750 mil milhões de euros destinado à minimização dos efeitos económicos e sociais da pandemia. Uma referência também para desconfinamento e máscara, a cujos registos se juntou nova informação.
3. O combate ao coronavírus é igualmente mote para uma nova questão em linha no Consultório: com «perímetro de segurança», que verbo é mais adequado – criar, montar ou estabelecer? E, a propósito da investigação sobre a covid-19, o que é melhor: «evidências científicas», ou «provas científicas»? A sintaxe volta a marcar presença: será que o pretérito imperfeito e o pretérito perfeito do indicativo podem combinar-se na mesma frase – por exemplo, «quando vivia em Luanda, a Mariana visitou Benguela»? Finalmente, uma pergunta sobre pontuação: têm vírgula as orações subordinadas substantivas que ocorrem em «quem vai ao mar perde o lugar» e «que a praia está cheia já se sabe»?
4. De França, chegam notícias preocupantes sobre as condições de aprendizagem da língua portuguesa entre crianças lusodescendentes. Numa entrevista à agência Lusa (27/05/2020), Carla Dugault, copresidente da Federação dos Conselhos de Pais e Alunos (FCPE), alerta para a redução da oferta na rede de escolas públicas francesas, assinalando que «o inglês [é] para toda a gente e o português acaba por ficar um pouco para o ensino à distância»; e acrescenta: «O ensino do português depende das mairies [câmaras municipais], portanto não sei se o governo português fez esse trabalho para que a língua se aprenda nas escolas. Não me parece que se tenham batido muito por isso» (ver também publicação digital Lusojornal).
4. As épocas de crise económica e social favorecem o choque de interesses e mal-entendidos, bem como a exploração destes por mentes vocacionadas para o conflito. Os tempos que atravessamos justificam, portanto, o registo da comemoração, na presente data, do Dia Internacional das Forças de Manutenção da Paz pela Organização das Nações Unidas. Apesar de um passado não isento de críticas, os chamados capacetes-azuis mantêm-se como pilares fundamentais para impedir o regresso da guerra, em todo o mundo. E a propósito do acrónimo ONU, relembre-se o já relembrado inúmeras vezes: a pronúncia correta é "onú", e não "ónu", visto o u final e a falta de acento gráfico indicarem que a palavra é aguda – ou oxítona –, tal como bambu, Peru ou tabu.
5. Maria Velho da Costa (Lisboa, 1938-2020) , recentemente falecida, é a figura em destaque nos dois programas produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa para a rádio pública portuguesa. No Língua de Todos, transmitido pela RDP África, na sexta-feira, dia 29 de maio, pelas 13h20*, o professor António Cabrita, da Universidade Eduardo Mondlane, sobre a vida e obra desta escritora portuguesa; o tema é também abordado no programa Página de Português, emitido pela Antena 2, no domingo, 31 de maio, pelas 12h30*, com entrevistas às professores universitárias Ana Luísa Amaral (Faculdade de Letras da Universidade do Porto) e Helena Buescu (Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa). Dar-se-á igualmente destaque ao tão atual verbo «confinar» – com um apontamento a cargo da professora Carla Marques.
Na imagem à direita, as "Três Marias" – da esquerda para a direita, Maria Velho da Costa, Maria Teresa Horta e Maria Isabel Barreno – na época do célebre processo judicial que contra elas foi movido por causa da publicação de Novas Cartas Portuguesas (1972).
* O programa Língua de Todos é repetido no sábado, dia 30 de maio, depois do noticiário das 09h00; e o Páginas de Português tem repetição no sábado, dia 6 de junho, às 15h30. Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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