1. Na Europa, a atualidade é marcada por intensa contestação social. No Reino Unido, milhares de enfermeiros manifestaram-se contra os salários baixos e as condições de trabalho no setor da saúde. Na França, greves e manifestações paralisaram o país em 19/01/2023, por causa da alteração da idade da reforma de 62 para 64 anos. Em Portugal, a greve e as manifestações dos professores do ensino básico e secundário público preenchem notícias e colunas de opinião. Outra vez recorrente, a palavra greve, recorde-se, é um galicismo, com origem num antigo topónimo parisiense, Place de Grève (hoje Place de l'Hôtel-de-Ville), nome do lugar onde se reuniam os operários sem trabalho ou descontentes; esta situação motivou a expressão faire grève («fazer greve»), com o significado de «abstenção deliberada do trabalho» (Dicionário Houaiss)*. Na comunicação social, circula também a palavra negociação, cuja história não é menos interessante: vem (indiretamente) do vocábulo latino negotiu-, o qual se formou da junção de nec e otium (cf. ibidem). Daí a sua significação de base: «sem possibilidade de inatividade, de lazer», descrevendo, portanto, uma atividade difícil, árdua, trabalhosa. Atualmente, significa sobretudo «acordo, entendimento», mas mantém a ideia da dificuldade em chegar ao ponto desejado.
* Pode levar-se mais longe a etimologia de greve, porque o topónimo francês se desenvolveu a partir do nome comum grève, que denota «(um) terreno de areia e cascalho à beira-mar ou à beira-rio», de um termo pré-latino *grava, «areia, cascalho» (Dicionário Houaiss). Na sua origem, a Place de Grève era, portanto, um espaço urbano situado num terreno cheio de cascalho, à beira do rio Sena. Na imagem, os paços do concelho de Paris e a praça de Grève em 1610, numa representação do arquiteto Claude Chastillon (1559/1560-1616).
2. Na frase «não lhe desculpou a indelicadeza, esta senhora vaidosa», aceita-se a vírgula antes de «esta senhora vaidosa»? A resposta está no Consultório, onde se abordam outras cinco questões: a forma «o que» é uma locução? É incorreto dizer «estar em luto», em vez de «estar de luto»? Escreve-se «pró-União-Ibérica» ou «pró-União Ibérica»? Provavelmente é sinónimo de certamente? E está correta a frase «faz um ano em julho em que nos mudámos»?
3. Já aqui assinalado, aquando do seu lançamento, o Dicionário da Língua Portuguesa Medieval (DLPM), publicado em 2022 pela Editorial Caminho, é o livro apresentado na atualização da rubrica Montra de Livros. Trata-se do resultado de um projeto desenvolvido pelo Centro de Linguística da Universidade Nova de Lisboa, sob a coordenação dos professores João Malaca Casteleiro (1936-2020), Maria Francisca Xavier (1944-2019) e Maria de Lourdes Crispim.
4. A herança cultural e linguística de Gregos e Romanos continua bem viva na cultura contemporânea, levantando sempre questões, como a da adaptação de nomes próprios do grego antigo ao português. É caso de Poseidôn (em carateres gregos, Ποσειδῶν), equivalente a Neptuno (ou Netuno) no panteão romano. Em O Nosso Idioma, transcreve-se com a devida vénia um apontamento do professor universitário, classicista, tradutor e escritor Frederico Lourenço (Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra) no seu mural de Facebook, a respeito do aportuguesamento do referido nome – Posídon ou Posêidon?
5. Um registo da atualidade editorial: o lançamento do Dicionário Português-Árabe (Edições Colibri), da autoria de Abdeljelil Larbi, professor na Universidade Nova de Lisboa, e de Délio Próspero, investigador de língua e cultura árabes. Mais informação no Diário de Notícias (18/01/2023).
6. Um registo final aos três do programas dedicados a temas da língua portuguesa na rádio pública de Portugal:
– No Língua de Todos, difundido na RDP África, na sexta-feira, 20/01/2023, às 13h20* (repetido no dia seguinte, c. 09h05*), fala-se do ensino de Português em Cabo Verde e, num apontamento da professora Carla Marques, da pontuação e das suas subtilezas.
– No Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, 22/01/2023, às 12h30* (repetido no sábado seguinte, 28/01/2023, 15h30*), abordam-se a experiência de um curso realizado em Brasília sobre ferramentas computacionais para criação de textos, bem como o ensino da gramática na sala de Português, numa crónica da professora Ana Sousa Martins.
– De segunda a sexta, às 09h50 e às 18h50*, na Antena 2, transmite-se Palavras Cruzadas, um programa realizado por Dalila Carvalho.
* Hora oficial de Portugal continental.