1. O atribulado processo de saída do Reino Unido da União Europeia, o chamado Brexit, continua a ser terreno fértil para novas palavras. Além do que já ficou registado em arquivo¹, no contexto das eleições em 12 de dezembro de 2019, em que os britânicos vão (espera-se) definir finalmente o seu rumo, a comunicação social em português estreia mais uma criação lexical, a do verbo brexitar², que se atesta, por exemplo, na seguinte passagem, da autoria do jornalista Ferreira Fernandes (Diário de Notícias, 7/12/2019; sublinhado nosso): «Se houver uma maioria de voto conservador, é a decisão que tem consequências mais francas sobre a Europa: eles brexitam mesmo. E não só saem, como essa decisão pode levar a Escócia a referendar a sua independência e as Irlandas a unir-se. Quer dizer, ao partir, e por partir, o Reino Unido pode partir-se. Tudo mau.» E significará brexitar? Proponha-se a seguinte perífrase: «sair da União Europeia, em referência ao Reino Unido (ou, talvez, parte dele)».
¹ Brexit vs. Bremain, os dois anglicismos marcantes do referendo na Grã-Bretanha, pró e anti-União Europeia + Erros persistentes que apoquentam os professores, o questionamento linguístico e o neologismo brexiteiros + O neologismo Mayexit + História do inglês do Beowulf ao Brexit + As línguas na Europa: o que mudará com o Brexit? + O euroléxico de A a Z.
² Sobre brexiteiro, como aportuguesamento de brexiteer, «defensor ou ativista do Brexit», ler aqui e notícia de 10/12/2019 do jornal Público.
2. Diz-se «a União Europeia advertiu de que....», ou «advertiu que...»? É certo que o verbo advertir se associa sempre com a preposição de – isto é, tem regência – a uma expressão nominal, como acontece com «a União Europeia advertiu de eventuais riscos». Mas será legítimo suprimir a preposição de antes da conjunção que? A esta questão dá resposta o Consultório na presente atualização, na qual também se revela que a conjunção e, apesar de pequenina, é palavra polissémica, ou seja, tem vários significados e que «o suficiente» é um grupo nominal que pode funcional adverbialmente. Fala-se ainda da formação do adjetivo parafraseável e retoma-se o problema do aportuguesamento de topónimos estrangeiros com a análise do caso de Vancouver, nome de uma cidade canadiana.
3. Aproxima-se um novo ano, e o mês de dezembro constitui a tradicional oportunidade de os media brindarem o público com balanços e projeções. Entre contagens e estatísticas, mencionemos dois casos relacionados com a onomástica – por outras palavras, com o estudo dos nomes próprios:
– em Portugal, os nomes próprios mais frequentemente atribuídos em 2019 no registo de recém-nascidos foram, para as meninas, Maria, Leonor e Matilde, enquanto, entre os meninos, Francisco foi o favorito, seguido de João e Santiago (fonte: Público, 10/12/2019);
– no Brasil, a situação é outra em matéria de escolha de nomes : Miguel, Arthur3 e Heitor são os três mais usados para os rapazes, ao passo que Helena, Alice e Laura dominam entre as raparigas4 (fonte: Bebe.com.br, do grupo Abril);
– quanto aos nomes que, em Portugal, mais pesquisados foram pelo Google, em primeiro lugar conta-se Ângelo Rodrigues – assim se chama o ator português que foi notícia em agosto de 2019 por causa de um grave problema de saúde – e Flamengo, denominação da equipa de futebol treinada pelo português Jorge Jesus, que conseguiu conquistar o campeonato brasileiro e a Taça dos Libertadores (fonte: Jornal de Notícias, 11/12/2019).
– internacionalmente, Greta é o nome mais relevante – segundo a escolha da revista norte-americana Time, que considerou a jovem ativista sueca como personalidade do ano, destacada pelo trabalho que fez em prol da defesa do planeta. Ver ainda "Greta é a personalidade do ano para a revista "Time". Foto tirada em Portugal" + Greta Thunberg. A história por detrás da foto da Time tirada em Lisboa.
3 A forma portuguesa é Artur, mas a onomástica pessoal mostra certa flexibilidade (sobre a grafia dos nomes próprios pessoais, ver documento do Instituto dos Registos e do Notariado).
4 Como se sabe, em Portugal, a palavra rapariga define-se como «criança ou jovem do sexo feminino». É, portanto, equivalente a moça ou menina.
4. Outros registos da atualidade:
– Em Portugal, a Assembleia da República vota neste dia a Lei da Nacionalidade, a qual diz respeito às condições de concessão da cidadania portuguesa. De acordo com dados publicados no Público de 28/06/2019, entre as nacionalidades estrangeiras mais numerosas no território português, estão, por ordem decrescente, os brasileiros, os cabo-verdianos, os romenos, os ucranianos, os britânicos, os chineses, os franceses, os italianos, os angolanos e os guineenses da Guiné-Bissau.
Sobre o gentílico cabo-verdiano, consultar "A insistência cabo-verdiana no erróneo "caboverdiano". Acerca do gentílico da Guiné-Bissau, ler "Os nomes pátrios da Guiné-Equatorial e da Guiné-Bissau".
Cf. Filhos de imigrantes nascidos em Portugal podem ser portugueses desde que um progenitor seja residente + Já há mais cidadãos a obter nacionalidade portuguesa do que nascimentos + Este ano houve quase 103 mil cidadãos que se tornaram portugueses + Em Portugal, um em cada dez bebés nasce de mãe estrangeira
– O lançamento de uma petição no aniversário da morte de Fernando Pessoa, em 30/12/2019, com o objetivo de exigir «o ressurgimento do ensino de português como língua materna junto das crianças e jovens portugueses e lusodescendentes residentes no estrangeiro». A iniciativa partiu de Pedro Rupio, um conselheiro das Comunidades eleito na Bélgica.
– Faz 20 anos – em 20 de dezembro – que Macau passou à administração da República Popular da China. Neste território, a língua portuguesa continua a ter uso oficial a par do mandarim, mas o embaixador António Santana Carlos, que liderou o processo de transferência de soberania, recorda que a manutenção desse estatuto «não foi fácil de conseguir, [pois] foi preciso insistirmos muito e mantermos uma coerência ao longo de todo esse processo» (fonte: agência Lusa e Mundo ao Minuto).
5. Quanto aos programas produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa para a rádio pública portuguesa, lembramos que o programa Língua de Todos é transmitido pela RDP África na sexta-feira, dia 13 de dezembro, pelas 13h20*, e o programa Páginas de Português, emitido pela Antena 2, no domingo, 15 de dezembro, pelas 12h30*,
* Ambos os programas têm repetição: o Língua de Todos, no sábado, dia 14 de dezembro, depois do noticiário das 09h00, e o Páginas de Português no sábado seguinte, dia 21 de dezembro, às 15h30. Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.