1. Os edifícios históricos que têm inscrições gravadas nas suas pedras são, não raro, testemunhos vivos da evolução da língua e da sua grafia. As marcas de diferentes fases linguísticas encontram-se, por exemplo, em lápides e jazigos nos quais se identificam as famílias que ali descansam. Neste âmbito, no Consultório, procura-se encontrar uma explicação para o facto de, em muitas lápides, sobretudo do século XIX, a palavra família surgir sem acento, situação que não resultará da ação do tempo sobre estes monumentos. Também de agora e de outros tempos é a possibilidade que o advérbio não tem de incidir sobre constituintes de diversa natureza, alterando-lhes o sentido. É este comportamento que motiva uma nova questão, desta feita sobre a função sintática desempenhada por esta palavra. Na nova atualização do Consultório, podemos também encontrar uma breve análise da catáfora enquanto processo linguístico de construção da referência que, por vezes, gera dúvidas, como acontece na análise de uma frase que foi objeto de avaliação num exame nacional. E ainda questões relacionadas com a correção do topónimo «Castelo de Bode» e com a pronúncia das palavras indemnizar e subtil, em Portugal.
Primeira imagem: Cemitério de Agramonte, Porto (Portugal)
2. Nesta segunda-feira, dia 25 de novembro, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) ratificou, em assembleia-geral, reunida em Paris, o dia 5 de maio como Dia Mundial da Língua Portuguesa, um evento importante na afirmação do português no mundo, uma língua que, prevê-se, terá, no final do século, cerca de 500 milhões de falantes (notícia RTP + UNESCO elege 5 de maio como Dia Mundial da Língua Portuguesa; CPLP celebra).
Vide, ainda, entrevista com embaixador Sampaio da Nova, aqui.
3. No quadro do investimento no português, como prioridade de política externa, o crescimento do plano de promoção internacional da língua portuguesa motiva um artigo de síntese da autoria de Augusto Santos Silva, ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros de Portugal (divulgado no Diário de Notícias), no qual analisa a evolução deste investimento no ensino e difusão da língua, dando particular atenção ao crescimento das cátedras, enquanto estruturas sediadas em universidades que promovem a pesquisa no âmbito da língua, da cultura, da história e da sociedade. Estas cátedras, que são associadas a figuras importantes da cultura e das ciências portuguesas, funcionam como um instrumentos precioso na difusão internacional da língua.
4. Também a propósito do ensino do português no mundo, recorda-se (num artigo divulgado no Correio da Manhã) a fundação, em Macau, da escola portuguesa, em 1998, um ano antes da transição para a administração da China. Esta escola tem funcionado como um organismo que tem preservado a cultura e a língua portuguesas na região, como o comprovam os testemunhos e os dados reunidos no artigo de Paulo Oliveira Lima. Por fim, a notícia de que, na Venezuela, a Universidade Católica Andrés Bello (UCAB) prevê disponibilizar, a partir de 2020, um curso de Língua Portuguesa para os 10 mil alunos que estudam naquela instituição. (notícia aqui).
5. A conquista da Copa Libertadores da América e do Campeonato Brasileiro de Futebol pelo clube brasileiro Flamengo, orientado pelo treinador português Jorge Jesus, está na ordem do dia. A presença de Jorge Jesus no Brasil tem desencadeado vários fenómenos, alguns dos quais de natureza linguística. As conferências de imprensa e as declarações do técnico rapidamente vieram demonstrar uma evidência: embora a língua seja a mesma, os termos técnicos são muito diferentes entre Portugal e Brasil. Daí criação de um glossário de "futebolês", para ajudar os adeptos brasileiros a entenderem o treinador português. Entre os termos que necessitam de tradução, encontram-se guarda-redes (goleiro, em português do Brasil), avançados (atacantes), golo (gol), plantel (elenco), relvado (gramado), taça (copa) ou equipa (equipe).* .
* Sobre as diferenças entre as duas variantes do português neste domínio vocabular: «O futebol falado diferentemente no Brasil e em Portugal» + «Futebolês» (na rubrica Glossário),+ «Já se sabe o que é um "zagueiro"?» + «Viva o «futebolês»!» + «Incidências do futebolês».
5. O fenómeno das vitórias do Flamengo ("Flamengão" como lhe chamam os adeptos mai fervorosos) tem sido tão intenso que tem desencadeado inclusive a criatividade nos títulos da imprensa brasileira. É o caso do título «Pula que nem Pipoca», do jornal brasileiro Meia Hora. Ou nos "memes" (ideias repetidas pelos utilizadores de internet) que têm vindo a ser divulgados nas redes sociais a propósito das duas vitórias do clube orientado por Jorge Jesus (ver aqui). Ou, ainda, na música, como este samba "Obrigado, Jesus"....
6. Assinala-se hoje, 25 de novembro, o Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres, uma data simbólica que tem como objetivo alertar para os casos de violência contra as mulheres que, infelizmente, todos os dias, continuam a ser notícia e vitimaram já 25 mulheres em Portugal, desde o início do ano. Estes casos têm trazido para a atualidade termos como feminicídio* e recordam-nos algumas respostas do consultório: «Ginocídio e feminicídio» e «"Violência de género" e "igualdade de género"». Como bem refere a campanha contra a violência doméstica, há ditados e provérbios que têm mesmo de deixar de ser populares (por exemplo, «Entre marido e mulher não metas a colher», «Por trás de um grande homem está uma grande mulher» ou «Quanto mais me bates, mais gosto de ti!» – e, pelo contrário, denunciarmos logo às autoridades casos destes que tenhamos conhecimento.
* O termo feminicídio tem a variante femicídio. A primeira forma é mais consistente do ponto de vista morfológico, de acordo com a explicação dada em nota às nas respostas "Feminicídio ≠ uxoricídio" e a já citada "Ginocídio e feminicídio"
Cf. Pacotes de açúcar vão ter mensagens para combater violência doméstica + Campanha contra a violência no namoro – Quem te ama, não te agride! + “Entre marido que agride e a mulher é preciso meter a colher”