1. A estranheza que provoca o acento gráfico no nome próprio Maláui advém do facto de se considerar a regra geral de acentuação que preceitua que as palavras graves não têm acento. Todavia, o caso específico desta palavra entra em conflito com outra regra: a de que as palavras terminadas em i tónico são acentuadas na última sílaba quando precedidas de ditongo. Um caso raro que se explica nesta resposta. Outras questões colocadas no Consultório relacionam-se com a tradução da expressão inglesa "de-escalate", com uma dúvida relacionada com a coesão lexical e a correferência não anafórica, e ainda com o uso da locução «em específico» e o contraste contável/não contável em pinheiro e pinho.
2. No dia 29 de junho comemora-se em Portugal o Dia de São Pedro, um dos santos populares. A tradição manda que se decorem as ruas de forma colorida, que não faltem os manjericos, as procissões, os bailes, as marchas e a sardinha assada. Tudo o que este ano não se pôde concretizar em comunidade (ver aqui), devido aos assim chamados «focos ativos» que teimam em surgir em diversos pontos do país, com particular incidência na zona da grande Lisboa. Sendo esta uma expressão da atualidade, passou a integrar A covid-19 na língua acompanhada dos bem criativos neologismos desconfinacalma e desdesconfinamento, que que procuram descrever, respetivamente, a atitude que se deve adotar em período de desconfinamento e um novo período de reversão do desconfinamento que poderá surgir com a chegada de uma segunda vaga de infeções.
Este período festivo é uma oportunidade para recordar alguns textos disponíveis no arquivo do Ciberdúvidas relacionados com o tema: «A palavra são em substantivos compostos», «A regra para o uso de São ou de Santo» e «Nos santos populares (en)cante com poesia popular».
3. As palavras foco e fogo, que partilham a mesma origem, motivaram o apontamento desta semana da professora Carla Marques no programa Páginas de Português, na Antena 2, onde se refletiu sobre a ligação entre os «focos de contágio» e o «fogo da juventude», juntamente com outros fogos que vão surgindo, dos físicos aos mais anímicos (um texto que pode ser lido e ouvido aqui). No mesmo programa, a professora universitária Margarita Correia apresentou uma crónica sobre o ensino do português língua não materna em Portugal (texto e áudio aqui).
4. Os protestos antirracistas motivados pelo assassínio do afro-americano George Floyd têm tido eco um pouco por todo o mundo, adotando múltiplas formas. Em Portugal, motivou, entre outras manifestações, a reedição em PDF do estudo Expressões dos Racismos em Portugal, dos investigadores Jorge Vala, Rodrigo Brito e Diniz Lopes, que divulgamos na Montra de Livros. No âmbito desta temática, destacamos ainda os dados de um inquérito europeu que revelou que 62% dos portugueses manifestam racismo (artigo do jornal Público).
5. O cronista Miguel Esteves Cardoso aborda na sua crónica diária, no jornal Público, a questão da colocação do apóstrofo, que constitui um problema na língua inglesa, mas que também tem as suas manifestações na língua portuguesa, nomeadamente na formação incorreta do plural das siglas ("DVD's" ou "CD's".) Crónica aqui transcrita com a devida vénia.
6. A questão da norma e da mudança é um tema que interessa tanto aos linguistas como aos falantes comuns e que envolve diversas questões nem sempre lineares, como recorda o professor e tradutor Marco Neves, na crónica que partilha no seu blogue Certas Palavras.
7. Com a conclusão do ano letivo em Portugal, é tempo de fazer balanços e de analisar os resultados das medidas implementadas para fazer face ao confinamento a que os alunos ficaram obrigados. As opiniões dividem-se: há que defenda que o «Ensino@Distância não foi um sucesso», há quem advogue uma solução mista, composto por ensino presencial e ensino à distância (o chamado" b-learning", abreviatura de «blended learning» – «aprendizagem ou formação mista»). Neste contexto, coloca-se também a questão da equidade no acesso ao ensino superior e do futuro do ensino universitário em Portugal.
8. A semana que findou foi também o momento escolhido para revelar o já tradicional «ranking das escolas», uma classificação das escolas públicas e privadas portuguesas, de acordo com os resultados dos seus alunos nos exames nacionais. Mais uma vez esta questão trouxe para a praça pública inúmeras tomadas de posição em defesa desta divulgação ou contra (cf. «Em defesa dos rankings das escolas», «Os rankings do nosso descontentamento» e «Rankings (desconfinados) – para quando estudar o que funciona?»).