1. O português faz parte das línguas românicas, nas quais existe um contraste morfossintático importante, o de género. Acontece que, em referência à pandemia de covid-19, muitos falantes das línguas irmãs da portuguesa hesitam também quanto ao género a dar ao nome da doença (não é o vírus). Em França, a Académie Française recomenda «la covid-19», no feminino, porque se trata de uma maladie e esta palavra é do género feminino (leia-se em inglês a edição de The Guardian em 13/05/2020). No mundo de língua espanhola, é também «la covid-19», no feminino, porque se categoriza como enfermedad, cognato de enfermidade (ver Fundéu-BBVA). Em português, a mesma coisa: com covid-19, intuitivamente acessível é tratá-lo como nome feminino, visto o seu hiperónimo doença ter este género. Diga-se, portanto, «a covid-19» (e não «o covid-19»).
2. Em O nosso idioma, prossegue a atualização de "A covid-19 na língua", um já extenso reportório dos termos, expressões e fraseologias que se sucedem e coexistem no discurso da comunicação social em português. A presente fase de desconfinamento em Portugal justifica realçar, entre as novas entradas, a palavra reativação, que se distingue pela ambiguidade: por um lado, pode denotar a preocupante possibilidade de quem já esteve doente poder voltar a ficar infetado; por outro, marcando o alívio das medidas restritivas, alude à reanimação gradual de vários domínios da vida social e económica.
3. Qual é boa pronúncia da palavra circuito? É "circuíto"ou "circúito"? No Consultório, dá-se a resposta, com recomendações ortoépicas também para gratuito, fortuito e fluido. Aborda-se igualmente a classificação de para em construções como «uma boa ideia para viajar», analisa-se sintaticamente uma frase queirosiana e comenta-se a semântica dos plurais de imperador e príncipe.
4. Na rubrica Diversidades, fala-se da formação do plural, não em português, mas em ronga, changana e zulu, línguas bantas que se falam entre o sul de Moçambique e o sueste da África do Sul. Mais um apontamento do professor João Nogueira da Costa à volta das palavras e das suas histórias.
5. O tema da pandemia chama a atenção dos linguistas, que se organizam para monitorizar as inovações lexicais em diferentes línguas e em tempo real, graças à tecnologia. Voltando às línguas românicas, assinale-se, por exemplo, o seminário Le parole della crisi in tivù/Les mots de la crise à la télévision. Un dialogo italiano-francese ("As palavras da crise na tevê. Um diálogo ítalo-francês"), um encontro promovido pela rede Realiter via plataforma digital em 18 de maio p.f. Numa perspetiva multilingue mundial, conta-se o projeto Metaphors for Covid-19, um corpus de metáforas da covid-19, cujos promotores disponibilizaram para o efeito o acesso livre a uma tabela em linha para recolha de abonações, com a condição de estas constituírem alternativa à muito repetida e convencional metáfora da guerra (para participar na discussão seguir #ReframeCovid no Twitter; ver também The Linguist List).
6. A cultura procura a resposta possível às restrições impostas atualmente aos espetáculos presenciais. As condições existentes obrigam, portanto, à exploração de meios audiovisuais em suporte digital, como é o caso da mostra Europa Film Fest, que exibe gratuitamente filmes europeus entre 15 a 21 de maio, em resultado de uma parceria entre a Comissão Europeia, o Parlamento Europeu em Portugal e a Filmin Portugal (mais informação aqui). Mas as medidas de distanciamento social conjugadas com o desconfinamento levam a recuperar o cinema em drive-in*, a exemplo da iniciativa da Câmara Municipal da Batalha (Leiria), que, de 15 a 17 de maio p. f., oferece sessões de cinema no parque de estacionamento do centro de exposições da referida vila portuguesa.
* Anglicismo referente ao serviço prestado a clientes que não saem do carro em que se fazem transportar. Não há ainda termo português equivalente e de uso estável. Os dicionários da Infopédia e da Priberam registam o anglicismo sem aportuguesamento.
7. O cinema é ainda tema do 25.º programa da 10.ª e última série do magazine televisivo Cuidado com a Língua! – que volta a passar na RTP 2, no domingo, dia 17/05, às 20h20*, tendo por cicerone o jornalista Mário Augusto.
8. Temas centrais dos programas produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa para a rádio pública portuguesa: no Língua de Todos, transmitido pela RDP África, na sexta-feira, dia 15 de maio, pelas 13h20*, algumas particularidades do português explicadas pela professora Sandra Tavares Duarte,; e, no Páginas de Português, emitido pela Antena 2, no domingo, 17 de maio, pelas 12h30*, o protocolo de cooperação entre a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento e o Instituto Camões para reforçar o estudo, ensino e investigação da língua e cultura portuguesas nos Estados Unidos da América .
* O programa Língua de Todos é repetido no sábado, dia 16 de maio, depois do noticiário das 09h00; o Páginas de Português tem repetição no sábado, dia 23 de maio, às 15h30. Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.