1. A agressividade verbal e não verbal marca a campanha para a primeira volta (ou turno) das eleições gerais que se realizam no Brasil em 2 de outubro de 2022. Em O Nosso Idioma, a respeito deste tema, José Mário Costa, cofundador do Ciberdúvidas, respiga várias das expressões – umas de intenção pejorativa, outras de tom grosseiro e poucas de sentido mais benigno – que se salientaram não só no discurso da comunicação social mas também no dos próprios candidatos, nomeadamente nos últimos dois debates televisivos com os sete candidatos presidenciais neles participantes. Ainda no âmbito político, mas noutra área de intervenção, inclui-se na mesma rubrica uma reflexão da linguista Edleise Mendes (Universidade Federal da Bahia) sobre os desafios que a diversidade linguística num território lança a qualquer governo.
Na imagem, Pintura n.º 2 (Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli) de Carlos Carrion de Britto Velho (Porto Alegre, 1946).
2. Com a pandemia, que ainda não está fora do horizonte das atualidades, surgiu a necessidade de inventariar os muitos neologismos decorrentes desta crise, como é exemplo o próprio reportório vocabular e fraseológico A covid-19 na Língua, que se disponibiliza no Ciberdúvidas. Mas outros glossários têm surgido, enquadrados por preocupações de recolha científica, como sejam o Dicionário multilingue da Covid-19, desenvolvido pelo curso italiano Lessicologia e Lessicografia da Universidade de Nápoles, o Glossário Colaborativo COVID-19, a cargo de uma equipa de investigadores do Centro de Linguística da Universidade NOVA de Lisboa, e o Vocabulário da pandemia do novo coronavírus, disponível na página da Universidade Federal de Santa Maria (Rio Grande do Sul). Na presente atualização, estes três projetos passam a ter registo também em A covid-19 na Língua, onde se incluem ainda três outras entradas, alusivas quer à evolução da pandemia quer às suas consequências: «Erik e Nelly», em referência a duas das mutações mais contagiosas do vírus da covid-19; Manaus, capital do estado do Amazonas e um dos epicentros da pandemia no Brasil; e «(perda da) perceção do tempo», expressão que designa uma das consequências psíquicas dos períodos de confinamento, segundo um estudo norte-americano.
3. Diz-se sem errar «pisar o chão», mas «pisar no chão» é também uso correto? No Consultório, dá-se resposta a esta e outras perguntas, num total de seis: que valor tem a expressão «tanto assim que» numa frase ou num texto? «Para manutenção» significa o mesmo que «para manter»? Qual é a origem do emprego de alvo, no sentido de «ponto de mira»? Como analisar a formação de estadiómetro? E qual é afinal o género gramatical de flange?
4. O que será o cúmulo do anglicismo? Talvez um galicismo disfarçado de palavra inglesa. No século XIX e, em parte do século XX, os galicismos eram motivo de censura sistemática entre gramáticos e estudiosos da língua. Hoje parecem menos preocupantes, a não ser quando se tornam anglicismos, como se revela em Diversidades, num apontamento traduzido do francês sobre a origem de termos como e-mail ou glamour.
5. Da atualidade com interesse linguístico, tanto no espaço lusófono, como fora dele, são de realçar:
– O passatempo A Palavra do Ano, promovido pela Porto Editora, que pede ao público sugestões para a elaboração de uma lista com as palavras mais marcantes de 2022. Recorde-se que a palavra mais votada em 2021 foi vacina.
– O Dia Internacional da Tradução, que se celebra em 30 de setembro, coincidindo com o dia de S. Jerónimo, e motiva iniciativas como a do leitorado do Camões I.P. em Varsóvia, o qual leva a cabo as «Conversas Noturnas de Tradutores e Intérpretes», no Teatro Halina e Jan Machulski, no bairro varsoviano de Ochota, a partir das 18h00. A propósito da data, leiam-se também as observações que o tradutor e professor universitário Marco Neves publicou em 2 de janeiro de 2022, no Sapo 24, acerca de tradução de cosy, uma palavra inglesa supostamente intraduzível.
– No blogue Certas Palavras, o tradutor ucraniano Sérguei Lúnin assinou em 29 de setembro de 2022 um artigo a respeito dos aspetos linguísticos também envolvidos na guerra da Ucrânia.
6. Quanto a três dos programas dedicados à língua portuguesa na rádio pública de Portugal:
– Em Língua de Todos, transmitido pela RDP África (sexta-feira, 30/09/2022,13h20*; repetição no dia seguinte, c. 09h05*), entrevista-se a chefe dos serviços de interpretação em português da Comissão Europeia, Anabela Frade, sobre a relevância da língua portuguesa na União Europeia e nos projetos desenvolvidos por esta organização junto de comunidades do Brasil, dos países africanos de língua oficial portuguesa (PALOP) e de Timor-Leste.
– Para falar sobre a tradução a partir de muitas línguas e difundida por várias instituições da Comissão e União Europeias, os tradutores Teresa Bairos e Victor de Macedo são os convidados de Páginas de Português, difundido pela Antena 2 (domingo, 02/10/2022, 12h30*; repetido em 08/10/2022, 15h30*). No programa, participa também a professora Carla Marques, com uma crónica sobre a função dos adjetivos na frase.
– O liberalismo e a linguagem do debate parlamentar dão o mote às emissões de 3 a 7 de outubro de Palavras Cruzadas, programa realizado por Dalila Carvalho e transmitido na Antena 2 (segunda a sexta, às 09h50 e às 18h50*). O convidado é o economista Carlos Guimarães Pinto, deputado da Iniciativa Liberal.
* Hora oficial de Portugal continental.