1. Em A covid-19 na língua existe uma nova entrada: descovidificação, que se refere ao tratamento – ou seja, à análise e à modelação por meio de tecnologia avançada – dos dados disponíveis sobre e para a vacinação contra a covid-19 em Portugal. É um termo alusivo a outro, descodificação, e esporadicamente usado em português. Dê-se como exemplo o título "Os dados ao serviço da 'descovidifcação' de Portugal", um artigo da autoria de Pedro Saraiva, diretor da escola de Gestão de Informação da Universidade Nova de Lisboa, e incluído há meses no jornal Público de 6 de janeiro de 2021. Não é claro tratar-se de criação exclusivamente portuguesa, pois uma consulta do Google faculta contextos de ocorrência do verbo inglês to decovidify («descovidificar») – como é o caso do jornal eletrónico irlandês The Journal, em 30 de abril de 2020 –, podendo aqui encontrar-se a motivação dos neologismos descovidifcar e descovidificação, que são possíveis e estão corretos. Na mesma rubrica, outra entrada: «(novos) hábitos alimentares».
2. No Consultório, explica-se por que motivo se deve dizer «Ordem dos advogados» e não «ordem de advogados». Analisa-se a presença do complemento indireto na frase «apresentou-me à Maria», através de exercícios de substituição. Relativamente à palavra contemporaneidade, explica-se o processo de formação (contemporâneo + -idade). Além disso, analisa-se uma frase em que o adjetivo apresenta um valor não restritivo. O uso e a origem de Algueirão (Sintra) são também esclarecidos. Esclarece-se ainda a eventual omissão do artigo definido com África em expressões como «vento de África» (sem qualquer artigo) ou «vão para a África» (com artigo definido). Por último, responde-se a uma dúvida acerca da utilização do futuro do conjuntivo (subjuntivo) do verbo dizer (disser), que não deve ser confundida com dizer, que é a forma de infinitivo do verbo em apreço.
3. Na rubrica Montra de Livros, apresenta-se o Manual de Técnicas de Expressão e Comunicação (Universidade Aberta), uma publicação da autoria do professor e investigador Paulo Nunes da Silva. Apesar de o público-alvo serem os estudantes da licenciatura em Línguas Aplicadas (LLA), poderá interessar a professores, jovens investigadores, alunos em geral e a todos aqueles que têm a escrita como ferramenta de comunicação.
4. Sobre o Dia Mundial para a Erradicação da Pobreza, assinalado em 17 de outubro, lembramos o termo aporofobia, que significa «ódio a pessoas pobres ou desfavorecidas». Foi criado pela filósofa espanhola Adela Cortina (Universidade de Valência), nos anos 90 do século passado, a partir dos elementos de origem grega áporos, «sem recursos, pobre», e fobia, «medo, aversão, ódio». Atualmente ocorre também em textos em português, como é o caso da crónica «O aporófobo» do jornalista português João Almeida Moreira (in Diário de Notícias de 6/05/2021).
5. Em Portugal a incerteza quanto a haver ou não acordo escrito entre o Governo de António Costa e o Bloco de Esquerda para a viabilização do Orçamento de Estado trouxe de novo ao espaço mediático a errónea pronúncia do plural acordos. Vale pois a pena lembrar que sua prolação é exatamente a do singular: /acôrdo(s)/
6. Um registo final, cabo-verdiano¹, a propósito da eleição do novo Presidente do país, José Maria Neves, e do lançamento, em Portugal, do livro Manifesto A Crioulização, da autoria do músico, compositor, escritor e ex-ministro da Cultura Mário Lúcio Sousa. E um outro, luso-francês, relacionado com a homenagem ao cônsul de Portugal em Bordéus durante a ocupação nazi de França, Aristides de Sousa Mendes (1885 – 1954) , cujos restos mortais são trasladados para o Panteão Nacional², em Lisboa, na terça-feira, dia 19 de outubro de 2021.
¹ Cf. Cabo-verdiano + O bilinguismo em Cabo Verde e o ensino da expressão escrita + Oficializar a língua cabo-verdiana?
² Cf. Papa Francisco evoca Aristides de Sousa Mendes no "Dia da Consciência" + Aristides de Sousa Mendes: desobedecer para salvar + Aristides: “A história foi ontem”, mas resgatá-la está a ser difícil em Cabanas de Viriato + Livro desvenda a “A Lista de Aristides de Sousa Mendes” + Cuidado com a Língua!... no Panteão Nacional, em Lisboa