1. A guerra na Ucrânia domina a atualidade, instalando-se no quotidiano com imagens e palavras mais que preocupantes. Na cobertura mediática dos terríveis acontecimentos, ressurgem em Portugal velhas incorreções a pedirem renovada correção e vigilância. Assim, relembrando, para evitar mais erros:
– Relativamente a evacuação, é este nome, como o verbo evacuar, apenas aplicável a espaços, e não a pessoas. Está, portanto, errada a seguinte sequência: «O primeiro-ministro afirmou hoje que Portugal tem um plano de evacuação de cidadãos portugueses e luso-ucranianos da Ucrânia [...]» (agência Lusa, 24/03/2022). Boa alternativa são formas como «plano de retirada/transferência de cidadãos» ou «plano de evacuação para retirada/transferência de cidadãos». O Ciberdúvidas tem desaconselhado este uso muito controverso: "Evacuar indivíduos?" e "Evacuação".
– Acerca dos Acordos de Minsk, celebrados em 2015 e agora nulos, ouviu-se a pronúncia errónea "acórdos", com o tónico aberto, quando a forma correta é "acôrdos", com o tónico fechado (ouvir como se pronuncia bem e depois mal este plural numa mesma peça da RTP, aqui, em 22/02/2022). No Consultório e no Pelourinho, tem-se insistido na necessidade de corrigir este aspeto.
– Sobre o contraste entre humanitário e humano, um título informa que «Comissário alerta para crise humanitária de "proporções históricas"» (Notícias ao Minuto, 27/02/2022), com uma frase que exibe a expressão «crise humanitária», de correção muito discutível e, portanto, não preferível a «crise humana». Registem-se, a propósito, as expressões corretas «corredor humanitário» (ver Infopédia e aqui) ou «ajuda humanitária» (ver Priberam), em que o adjetivo figura com adequação, no sentido genérico de «que procura o bem da humanidade». Ao longo dos 25 anos do Ciberdúvidas, foram muitas as ocasiões em que se comentaram os usos de humanitário; por exemplo, em "Humanitário e humano" e "Quando é que um drama pode ser 'humanitário'?".
– Relembra-se, por último, que o uso de OTAN (no Brasil e em quase* todos os países latinos, incluindo em Portugal) é preferível ao da sigla inglesa NATO, que, surgida nos países anglófonos, se tem tornado recorrente na imprensa portuguesa, numa cedência à pressão anglicista, situação já abordada no Ciberdúvidas, em "NATO ou OTAN?" e "O capitulacionismo à OTAN".
* Em Itália, usa-se a sigla inglesa NATO, muito embora a denominação completa seja italiana – Organizzazione del Trattato del Nord Atlantico –, como evidencia a Enciclopédia Treccani (consultada em 4 de março de 2022).
2. Quotidiana também se tornou a preocupação com a covid-19, desde que se foi dando conta da desta doença em finais de 2019. Em 2 março de 2022, assinalou-se o segundo ano da identificação, em Portugal, dos primeiros dois casos de covid-19; e, em 11 de março de 2022, perfazem-se dois anos da declaração de pandemia pela OMS. «Ano dois» é, portanto, uma das novas entradas da rubrica A Covid-19 na língua, que recebe igualmente as expressões «doença sazonal», relativa à previsão segundo a qual a doença provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2 passará a ser sazonal, e Stalkerware, uma aplicação que serve para espiar o que outros fazem em linha, sobretudo parceiros românticos.
3. São sete as novas perguntas disponíveis no Consultório, a respeito da (im)possibilidade de crase de a com o artigo a no começo de oração; o significado do adjetivo restrito; a regência da locução «ter pressa»; a sigla de «Campeonato Africano das Nações»; a forma de catalão em palavras compostas; o valor condicional da conjunção copulativa e; e o uso reflexo de propor-se.
4. Na Montra de Livros, apresentam-se duas obras: Falar(es) Bracarense(s). Janelas da transformação de um espaço rural, de José Teixeira (Edições Húmus, 2021), cujo caráter inovador assenta na introdução de pesquisa linguística em espaço urbano, desenvolvida na cidade de Braga, com o objetivo de preservar a memórias de falares bracarenses; e Verbos no Passado – 100 exercícios com explicação, da autoria de Diana Oliveira e Sofia Rente e editado pela editora Lidel, que tem por objetivo facilitar a aprendizagem dos tempos verbais do passado do modo indicativo no contexto do Português como Língua Estrangeira (PLE).
5. Em O Nosso Idioma, disponibiliza-se uma crónica da linguista brasileira Edleise Mendes (Universidade Federal da Bahia), que assinala a reabertura do Museu da Língua Portuguesa em São Paulo, ocorrida em 31 de julho de 2021. Texto dito pela autora na emissão do programa Páginas de Português pela Antena 2, em 27 de fevereiro de 2022.
6. Entre os programas de rádio que, na rádio pública de Portugal, são dedicados à língua portuguesa, relevo para:
– Língua de Todos (RDP África), cuja emissão de sexta-feira, 04/03/2022 (às 13h20*) se centra no Duvidário: 100 dúvidas da língua portuguesa, um instrumento de consulta elaborado na Escola Superior de Educação e Ciências Sociais do Instituto Politécnico de Leiria, para ajudar os falantes do idioma;
– Páginas de Português (Antena 2 ), que, no domingo, 06/03/2022, 12h30*, dá destaque à aplicação Gogenius, criada pela Universidade Autónoma de Lisboa (UAB) para a área de Português como Língua Segunda e Língua Estrangeira, e inclui uma crónica da professora Carla Marques dedicada ao verbo resistir, que caracteriza a ação de muitos ucranianos nos tempos que vivemos.
– Palavras Cruzadas (Antena 2 ), um programa diário realizada por Dalila Carvalho na Antena 2, onde, de 7 a 11 de março, o convidado é Jaime Nogueira Pinto, politólogo, professor, analista político português, para falar da linguagem política (segunda a sexta, às 09h50 e às 18h50*).
* Hora oficial de Portuga continental