1. O lugar de Dúvida do ano de 2024 é partilhado por duas incorreções que se encontram com alguma regularidade em textos escritos. Segundo os leitores e consulentes do Ciberdúvidas, os problemas ortográficos com que mais frequentemente se deparam estão relacionados com o verbo haver (que aparece registado com a forma incorreta *a ver) e com a grafia da 2.ª pessoa do pretérito perfeito do indicativo das formas verbais (expressas na grafia incorreta do sufixo -te, que surge separado da base verbal por meio de um hífen (com registos como *entras-te ou *ficas-te). Os resultados da votação mostram que há erros que permanecem com uma constância que parece difícil de combater. Em consonância com estes resultados, note-se que a dúvida mais consultada no acervo do Ciberdúvidas está relacionada com a grafia do verbo haver («À ou há?») e que os vários problemas relacionados com o uso incorreto do hífen nas formas verbais são apontados desde a criação do portal («Assassinos com hífenes», «Amor com hífen», «As formas verbais com sse ou -se», «Sobre os erros morfossintáticos»). Os resultados da Dúvida do Ano mostram que a ortografia continua a ser uma área em que a escola deve insistir ao longo do percurso dos seus alunos, pois o conhecimento das suas regras não parece constituir um assunto resolvido na sociedade portuguesa. A supervisão dos textos divulgados na comunicação social também poderá ajudar a resolver problemas desta natureza. Ciente destes problemas, o Ciberdúvidas continuará a esclarecer problemas desta ordem e a apontar erros identificados. A Palavra do Ano da Porto Editora foi também anunciada: trata-se do nome liberdade, uma escolha que poderá estar relacionada com as várias iniciativas que assinalaram os 50 anos do 25 de Abril.
2. Os restos mortais de Eça de Queirós, autor de obras intemporais como Os Maias ou A ilustre casa de Ramires, serão trasladados para o Panteão Nacional no dia 8 de janeiro de 2025. Depois de um impasse devido à oposição a esta decisão por parte de alguns membros da família, a trasladação do corpo foi finalmente autorizada dando cumprimento à deliberação da Assembleia da República, aprovada por unanimidade, em janeiro de 2021. Os restos mortais de Eça de Queirós, que foram sepultados em 1900 em Lisboa e trasladados em 1989 para o cemitério de Santa Cruz do Douro, em Baião, regressarão a Lisboa, desta feita para ter direito a honras de Panteão, ao lado de escritores como Almeida Garrett, Aquilino Ribeiro ou Sophia de Mello Breyner Andresen, entre outros. Neste acontecimento, destacam-se os nomes panteão e o verbo trasladar. O primeiro é, neste contexto, um termo da arquitetura, que descreve um monumento nacional onde se depositam os restos mortais de figuras ilustres de uma nação. Não obstante, esta palavra, que vem pelo latim panthĕon, também refere, na área da mitologia, o conjunto de personagens mitológicas de uma religião politeísta. Por seu turno, o verbo trasladar (equivalente da forma transladar) é usado para descrever o ato de mudar os restos mortais de alguém para outra sepultura. Este verbo formou-se com base na forma latina translatus, que significa «procissão, acompanhamento com pompa».
3. A seleção do género do nome bacanal pode estar associada a sentidos diferentes que vão desde a referência a uma festa da Antiguidade romana ou um evento marcado pela livre prática da atividade sexual, tal como é explicado nesta resposta. Poderão ainda ser consultadas as seguintes respostas novas: «Aquando vs. "aquando de"»; «O complemento de aspeto», «Fardo, quilo e litro com complemento nominal», «"Não saber nada" e "não saber de nada"», «Consolidação vs. solidificação», «Adiar e agradecer».
4. O verbo dar é típico da época natalícia, em todos os tempos verbais e em todas as pessoas, mas ficará a época reduzida à materialidade expressa pela palavra? O apontamento da professora universitária Sónia Valente Rodrigues aborda estas questões de natureza lexical e humana.
5. Os trocadilhos que o nome do futebolista Rodrigo Mora permitem nas capas dos jornais desportivos dão matéria ao apontamento do consultor Paulo J. S. Barata para a rubrica O Nosso Idioma.
6. A vida literária da poetisa portuguesa Adília Lopes é recordada no texto do professor e presidente da APP João Pedro Aido, a propósito do falecimento da escritora em 30 de dezembro de 2024.
7. Entre os eventos de relevo, damos destaque a alguns encontros que têm lugar no decurso desta semana:
– O Debate organizado pela Associação de Professores de Português subordinado ao tema «O ensino da literatura: cânone e competências complexas de leitura», no dia 9 de janeiro, entre as 17h30 e as 20h30 (inscrição obrigatória aqui);
– O evento dedicado ao tema «Políticas linguísticas como cuidado: o exemplo do contexto Moçambicano», no dia 8 de janeiro, às 18h00, com a presença de Ezra Chambal Nhampoca, Diretora da Escola de Comunicação e Artes-UEM, Moçambique, e investigadora da UFSC, Brasil, e CEL-UTAD, Portugal, realizado em modo híbrido (via Zoom e presencialmente no IENA da FLUC, 6.º piso) e com o apoio do CELGA-ILTEC (mais informações);